Setor de serviços segue como uns dos principais motores de crescimento do PIB, com altas previstas de 2,5% e 2,3% em 2024 e 2025, respectivamente
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada divulgou, nesta quinta-feira (4), a Visão Geral da Conjuntura, uma análise do desempenho da economia brasileira. O Grupo de Conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea manteve a projeção de crescimento de 2,2% do produto interno bruto (PIB) brasileiro para 2024. Para 2025, a estimativa passou de 2,5% para 2,3% conforme a tabela abaixo.
Para o segundo trimestre de 2024, o Grupo de Conjuntura espera que o PIB apresente crescimento de 0,5% na comparação com ajuste sazonal, com alta de 1,3% sobre o mesmo período do ano passado. A manutenção do bom desempenho dos indicadores de mercado de trabalho, refletidos em aumentos tanto na população ocupada quanto nos rendimentos do trabalho, deve seguir estimulando a demanda por bens e serviços.
O crescimento da demanda tem sido um dos responsáveis pelo início de recuperação verificado na indústria de transformação, com destaque para a produção de bens de capital e de bens duráveis. Como consequência, além do bom desempenho da produção interna, as importações seguem registrando expansão.
Já as exportações, com importante contribuição para o crescimento do PIB em 2023, têm apresentado desaceleração. Ademais, alguns fatores aumentaram a incerteza do cenário macroeconômico, como o choque de oferta provocado pelo desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul em abril e a interrupção recente do ciclo de flexibilização da política monetária.
Os pesquisadores ressaltam que tais projeções são feitas em meio às incertezas cruciais sobre o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul no PIB, que deverá ficar mais claro à medida que mais informações sobre o desempenho da economia em maio estejam disponíveis.
Pelo lado da oferta, o Ipea projeta que o setor de serviços siga como uns dos principais motores de crescimento do PIB, acumulando altas de 2,5% e 2,3% em 2024 e 2025, respectivamente. Em relação à indústria, a expectativa é que o dado do segundo trimestre de 2024 mostre recuo de 0,4% na margem, com alta de 1,8% frente ao segundo trimestre do ano passado.
Com base nos dados disponíveis até o momento, o choque de oferta provocado pelas enchentes no Sul deve impactar negativamente o setor manufatureiro no segundo trimestre. Com isso, o PIB industrial passaria a crescer em um ritmo médio menos acelerado, acumulando altas de 1,8% e 2,1% em 2024 e 2025, respectivamente.
Após o desempenho acima do esperado do setor agropecuário nos primeiros três meses do ano, o Ipea projeta recuo na margem no segundo trimestre (-2,0%), com retração de 5,6% na comparação com o mesmo período de 2023, ainda assim encerrando o ano com alta de 0,3%. Para 2025, estima-se uma alta do PIB agropecuário de 2,5%.
Já pela ótica da demanda, o Ipea prevê estabilidade para a formação bruta de capital fixo (FBCF) no segundo trimestre de 2024, na série dessazonalizada, resultado compatível com a alta de 5,0% na comparação interanual. Em um ambiente econômico caracterizado por um mercado interno aquecido e por uma recuperação da indústria manufatureira, a Visão Geral projeta aumentos de 4,3% em 2024 e de 3,5% em 2025.
O consumo de bens e serviços deve continuar crescendo, com alguma folga no orçamento das famílias, explicada pela manutenção dos ganhos de renda real, pelo bom comportamento das taxas de inflação e pelas transferências de renda feitas pelo governo. Com isso, a projeção de crescimento do consumo das famílias em 2024 chegou a 2,9%.
Com uma taxa de juros para o fim de 2024 maior que a prevista anteriormente, o consumo de bens e serviços desaceleraria para 2,4% em 2025. Já o consumo do governo deve avançar 0,6% na margem, com alta de 2,2% em termos interanuais no segundo trimestre.
Ao longo do último trimestre, o processo de desinflação na economia brasileira segue em curso, apesar do aumento mais expressivo dos preços na margem. Após sete quedas seguidas do IPCA acumulado em 12 meses, em maio houve nova aceleração, com taxa de 3,93%, repercutindo, especialmente, uma alta mais forte no preço dos alimentos no domicílio. No entanto, metade da inflação de 0,66% da alimentação no domicílio apontada pelo IPCA de maio se deve ao aumento de 3,6% dos alimentos registrado em Porto Alegre, cidade bastante afetada pelas inundações.
Com isso, embora nos próximos meses se verifique uma aceleração da inflação ao consumidor em 12 meses, a perspectiva de uma alta de preços em 2024 abaixo da registrada em 2023 se mantém. Diante de tal cenário, as projeções inflacionárias foram mantidas em 4,0% para o IPCA e 3,8% para o INPC em 2024.
Acesse a Visão Geral da Carta de Conjuntura
Publicado originalmente pelo Ipea em 04/07/2024 – 11h22