Por Tainá de Paula
Vida longa ao MNU, que desde 1978 luta contra o racismo e pela vida no Brasil! Esta organização política brasileira vem desempenhando um papel crucial no país.
Em abril deste ano estive na posse da nova diretoria do do estado do Rio, e é uma beleza ver que o MNU continua buscando avanços, articulando políticas públicas, e mantendo vivo o importante trabalho de preservar nossa memória e nossa história.
Sua fundação se deu durante um período de intensa mobilização social e política, num lançamento público, em evento nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, que juntou cerca de duas mil pessoas em pleno regime militar.
Ali se tornava conhecido o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, que no ano seguinte foi abreviado para Movimento Negro Unificado. O ato representou um marco referencial histórico na luta contra a discriminação racial no país.
Em 1978, sob o regime militar que governava desde 1964, eram intensas as demandas por abertura e redemocratização. Neste mesmo ano, a Lei da Anistia foi promulgada, permitindo o retorno de exilados e anistiando quem havia sido perseguido. O ambiente de efervescência política e social no Brasil preparou terreno para os movimentos que marcaram os anos seguintes.
O MNU surgiu da união de diversos grupos e lideranças negras que estavam envolvidos em diferentes movimentos sociais e culturais, incluindo militantes, intelectuais, artistas e acadêmicos. Seus objetivos principais sempre foram a luta contra a discriminação racial e a promoção da igualdade de direitos para a população negra.
No contexto da ditadura militar que governava o país na época, o MNU se destacou pela atuação corajosa e articulada na defesa dos direitos humanos e na denúncia das injustiças raciais. A organização busca desde então combater não apenas a discriminação direta, mas também as estruturas sociais e econômicas que perpetuam a desigualdade racial no Brasil.
O Movimento Negro Unificado (MNU) foi fundado por importantes líderes e ativistas negros brasileiros, cujas contribuições foram essenciais para sua formação e consolidação. Destaco os nomes de Lélia Gonzalez (socióloga e ativista feminista negra, cujo trabalho teve grande impacto na articulação teórica e prática do movimento, especialmente na defesa dos direitos das mulheres negras, e sua pioneira crítica às estruturas de opressão racial e de gênero, antes de interseccionalidade ser modinha), e o de Abdias do Nascimento (reconhecido intelectual, artista plástico e militante político que dedicou sua vida à luta contra o racismo e pela valorização da cultura afro-brasileira).
Além de Abdias e Lélia, o MNU contou com a participação de outras figuras proeminentes reconhecidas na luta pelos direitos civis e contra o racismo estrutural – como Flávio Carrança, Hamilton Cardoso, Jamu Minka, Milton Barbosa, Neuza Pereira, Rafael Pinto, e Vanderlei José Maria, entre tantos outros outros ativistas que trouxeram suas experiências e perspectivas para a luta antirracista no Brasil.
Juntos, esses líderes e fundadores do MNU trabalharam para promover a conscientização sobre o racismo e a discriminação racial, para exigir políticas públicas inclusivas, e para fortalecer a identidade política e cultural da população negra no país.
Ao longo dos anos, o MNU se consolidou como uma voz importante na formulação de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade racial e na conscientização sobre o racismo no país. Contribui significativamente para a construção de uma identidade política negra no Brasil, influenciando tanto o movimento social quanto o cenário político nacional.
Eles também realizaram uma série de eventos significativos, todos voltados para a promoção dos direitos civis e combate ao racismo estrutural no Brasil. Alguns dos mais importantes incluem:
- A criação do Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, em celebração à memória de Zumbi dos Palmares; o MNU teve um papel fundamental na criação desta data de conscientização sobre a história e cultura afro-brasileira;
- Encontros Nacionais realizados regularmente para discutir estratégias de combate ao racismo e fortalecer a articulação entre os movimentos negros no Brasil;
- A Marcha Zumbi dos Palmares, manifestação que ocorreu em Brasília em 1995, nos 300 anos da morte do líder quilombola, reunindo 30 mil pessoas em defesa dos direitos da população negra e contra o racismo;
- Participação em Conferências e Fóruns Internacionais, promovendo o debate sobre direitos humanos, igualdade racial e políticas públicas para afrodescendentes.
Esses eventos exemplificam o compromisso contínuo do MNU na luta por justiça social e na promoção da igualdade racial no Brasil e além. Embora tenha enfrentado desafios e momentos de repressão durante sua história, o MNU continua a desempenhar um papel fundamental na luta contra o racismo e na promoção da justiça social no Brasil.
Tenho muito respeito por essa instituição, e por todos os avanços que tivemos através da luta dos que vieram antes de mim. Nossos passos vêm de longe. Vida longa ao MNU, que sempre soube que é tudo nosso!
Tainá de Paula é vereadora do Rio de Janeiro pelo PT