Viktor Orbán chegou a Moscou, nesta sexta-feira (5), para se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin, desafiando os líderes europeus que avisaram o primeiro-ministro húngaro que ele não os representava.
Orbán, cujo país assumiu a presidência rotativa da UE na segunda-feira, chegou à Rússia poucos dias após uma visita surpresa a Kiev — a primeira desde que Putin ordenou a invasão em larga escala da Ucrânia em 2022, num aparente esforço de mediar a paz entre os dois lados.
“Como parte de sua missão de paz, Viktor Orbán chegou a Moscou”, disse seu porta-voz à agência estatal de notícias MTI. “O primeiro-ministro está se encontrando com Vladimir Putin, o presidente da Rússia.”
A visita é a primeira de um líder da UE à Rússia desde que o chanceler austríaco Karl Nehammer visitou Moscou em abril de 2022, numa tentativa fracassada de convencer Putin a acabar com a guerra.
Mas a caminho de Moscou, Orbán reconheceu que não estava representando a UE, depois que vários líderes na quinta-feira avisaram que ele não tinha mandato para falar em seu nome. “A Hungria não tem mandato para negociar em nome da União Europeia. Eu nunca fingiria. Mas posso explorar a situação”, disse ele à mídia estatal na sexta-feira, acrescentando que informaria aos líderes do bloco se havia uma abertura para negociações de paz, que ele admitiu ainda estarem “muito distantes”.
O principal diplomata da UE, Josep Borrell, disse na sexta-feira que a visita de Orbán a Moscou era “exclusivamente” bilateral, já que o líder húngaro “não recebeu nenhum mandato… para visitar Moscou” e “não estava representando a UE de forma alguma”.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, criticou Orbán na quinta-feira, dizendo em um post no X que a presidência rotativa da UE não tem legitimidade para falar pelo bloco. O primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, expressou descrença: “Os rumores sobre sua visita a Moscou não podem ser verdade… ou podem?”
Um diplomata da UE disse ao Financial Times que “com tal reunião, a presidência húngara termina antes de realmente começar” e que o “ceticismo dos Estados membros da UE infelizmente foi justificado — é tudo sobre promover os interesses de Budapeste”.
Apesar de sua recente aproximação com Kiev, que incluiu três horas de conversas com o presidente Volodymyr Zelenskyy, Orbán tem consistentemente tomado uma posição pró-Rússia desde 2022, atrasando sanções da UE a Moscou e se opondo à ajuda a Kiev.
Orbán também foi o primeiro líder ocidental a se encontrar com Putin em uma conferência na China em outubro passado, depois que o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão por crimes de guerra supostamente perpetrados pelo líder russo.
Putin defendeu Orbán das críticas ocidentais generalizadas após essa reunião. “Eles estão atacando-o não porque ele tem uma posição diferente dos outros líderes europeus, mas porque ele tem a coragem de defender os interesses de seu povo”, disse Putin. “Muitos políticos na Europa hoje não têm essa coragem e o invejam.”
Daniel Hegedűs, analista político do German Marshall Fund, um think-tank, disse que esses primeiros dias já mostraram o que a UE pode esperar da presidência de seis meses da Hungria: “disrupção, instabilidade e trolling”.
“A visita a Moscou está sendo enquadrada como um esforço de Orbán para mediar a guerra de agressão da Rússia na Ucrânia, mas ninguém vê o esforço como sincero ou legítimo”, disse Hegedűs. “Orbán pode usar e abusar da presidência rotativa da UE para semear confusão e causar danos simbólicos significativos à política externa da UE enquanto avança os interesses da Rússia e dos outros rivais iliberais do ocidente.”
Via Financial Times