A coluna conversou com investidores estrangeiros e apurou que embora as crítica do presidente Lula ao Banco Central incomodem, eles não entendem como a percepção da econômica por investidores brasileiros pode ser tão negativa, eles não enxergam, inclusive, motivo para tanto alarido. Eles enxergam as declarações do presidente com mais distanciamento, reconhecendo que o Congresso Nacional impõe dificuldades ao governo e que a implementação de uma agenda fiscal irresponsável é pouco provável seja pelo próprio presidente ou por setores do governo. Já os investidores locais, por outro lado, são mais céticos quanto à capacidade do governo em entregar sinalizações positivas e tendem a reagir de forma mais imediata e intensa às declarações políticas.
A coluna conversou também com Lucas de Aragão, sócio e diretor de Relações Governamentais da Arko Advice, sobre as percepções de investidores estrangeiros em relação as recentes declarações de Lula sobr o Banco Central. Lucas, que esta semana esteve em uma palestra com investidores estrangeiros, em evento organizado pelo Bank of America em Londres (Reino Unido) também pontuou como a percepção da economia brasileira varia significativamente entre investidores internacionais e nacionais, e essa disparidade reflete-se em diferentes níveis de preocupação e reação aos eventos políticos e econômicos no Brasil.
Para Lucas, os investidores internacionais têm dificuldade em identificar um ponto específico onde a relação entre o governo e o mercado se deteriorou tanto tanto. Eles entendem que Lula não tem ajudado com uma série de declarações que impactam negativamente o câmbio e atrasam os cortes de juros. No entanto, acreditam que a situação pode melhorar com uma vitória política do ministro Haddad, ainda que simbólica, e acham que é crucial que Lula sinalize pragmatismo e chancela para ações nesse sentido, por meio de Haddad.
Quando questionado sobre a percepção de um ataque especulativo ao dólar, Lucas foi cauteloso. “Eu não sei se é um ataque especulativo, não tenho capacidade técnica para afirmar isso. Não recebo informações que confirmem tal perspectiva”, disse ele.
É consenso entre os investidores que as declarações do presidente Lula têm prejudicado a percepção do mercado e afetado negativamente o câmbio. “Falei com mais de 20 fundos e todos concordam que as declarações atrapalham, retardando a capacidade do Banco Central de se sentir confortável para cortar juros”, afirmou Lucas. A solução sugerida pelos investidores seria não apenas sinalizações positivas, mas também um “silêncio estratégico” por parte do governo.
Para os investidores estrangeiros, é crucial tanto um respeito ao Banco Central quanto sinalizações de cortes fiscais. “Primeiro, é necessário mostrar que a blindagem técnica do Banco Central existe. Além disso, eles percebem que o ajuste fiscal está próximo do seu limite, o que torna essencial uma sinalização de controle de gastos”, comentou Lucas, ressaltando a importância de declarações recentes do ministro Haddad como passos na direção certa.
“Os investidores também enxergam a necessidade de uma redução nos comentários do Banco Central sobre políticas fiscais. “Eles acham que seria ideal menos barulho tanto do presidente quanto do BC. Um cenário com menos declarações públicas seria o mais desejado, embora utópico”, afirmou Lucas, sinalizando que os investidores internacionais possuem uma visão mais negativa das declarações e movimentações políticas de Roberto Campos Neto, atual presidente do BC.
“Os investidores também reconhecem que seria muito melhor se Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, falassem menos. Eles acham que hoje existe uma barulheira intensa tanto do presidente em relação ao BC, tanto do BC em relação à política fiscal. Eles acham que o ideal seria nenhum ou pouquíssimos comentários do Roberto Campos e do Banco Central em relação à política fiscal e nenhum ou pouquíssimos comentários do governo em relação ao Banco Central”, completou Lucas.
Com isso, fica claro que os investidores internacional, talvez por estarem mais distantes do contexto político nacional, tendem a enxergar o cenário econômico brasileiro com mais isenção, sobriedade e amparo mais em fatos do que em desejos. Embora, isso não indique que a alta do dólar no país seja fruto de um ataque especulativo, pode sinalizar a má vontade do mercado interno com o governo.