Funcionários de bancos foram cooptados para alterar documentos e garantir a continuidade de fraudes na Americanas, cujo rombo contábil chegou a R$ 25,2 bilhões. A informação consta no relatório da Polícia Federal (PF), base da Operação Disclosure, deflagrada na quinta-feira, 27.
Segundo reportagem do Metrópoles, a participação dos funcionários bancários ocorreu em operações de “risco sacado”, onde um banco assume a dívida de uma empresa com fornecedores. Essas operações devem ser informadas ao Banco Central e identificadas em cartas de circularização usadas por auditorias externas.
Nas investigações, constatou-se que esses dados não eram devidamente expostos no balanço da Americanas. Ex-executivos da varejista teriam convencido funcionários bancários a omitir essas operações das cartas de circularização.
“A audácia do grupo criminoso era tão grande que eles chegavam a cooptar funcionários dos bancos para que alterassem as cartas de circularização, de modo a encobrir as operações de ‘risco sacado’”, afirma o relatório da PF.
O documento reproduz mensagens entre ex-diretores da Americanas discutindo a omissão dos valores de “risco sacado” nas cartas de circularização do Itaú e Santander, com base em 2016.
Mensagens indicam que ex-diretores discutiam essas questões na chamada “sala blindada”, um local dentro do Grupo Americanas usado para tratar de temas sensíveis e possivelmente criminosos relacionados às fraudes contábeis.
Grande parte da investigação da PF baseia-se na colaboração premiada de dois ex-executivos da varejista: Marcelo Nunes, ex-diretor financeiro, e Flavia Mota, ex-superintendente de Controladoria.
Marcelo Nunes relatou que as quantias vinculadas ao “risco sacado” foram subestimadas por anos e não registradas corretamente no balanço.
Ele afirmou que a sugestão para a divulgação correta das dívidas ao mercado era levada ao comitê financeiro da companhia, que as aprovava ou não. Contudo, o “risco sacado” nunca foi levado ao comitê, pois, se fosse, não seria possível ocultá-lo no balanço.
Nunes observou ainda que não sabia o motivo de os bancos aprovarem esses empréstimos em valores superiores ao limite definido pelo estatuto sem a aprovação do conselho de administração da Americanas.
A questão das cartas de circularização dos bancos Itaú e Santander não é nova no caso Americanas. Surgiu pela primeira vez em março do ano passado, no relatório dos administradores da recuperação judicial da varejista, o escritório de advocacia Zveiter e a Preserva Ação Administração Judicial.
Na época, com a fraude estimada em R$ 20 bilhões, os administradores judiciais apontaram que a PwC, uma das auditoras da Americanas, soube dessas operações apenas dois dias antes de o escândalo estourar no mercado.