Passo simbólico ocorre uma década após os protestos Euromaidan que buscaram colocar o país firmemente no caminho pró-ocidental.
A Ucrânia começará as negociações de adesão à UE na terça-feira, mais de uma década após as manifestações pró-ocidentais em Kiev pedirem para que o país se juntasse ao bloco, apesar das ameaças russas e da ação militar que se seguiu. Ministros da UE se reunirão com autoridades ucranianas em Luxemburgo para iniciar oficialmente um processo que levará anos, mas que marca um momento altamente simbólico para um país que está enfrentando uma invasão russa em grande escala, agora em seu terceiro ano.
“Nós ultrapassamos a barreira da promessa para a entrega,” disse Olha Stefanishyna, vice-primeira-ministra da Ucrânia para Integração Europeia e Euro-Atlântica, ao Financial Times. “É uma decisão baseada em mérito,” afirmou ela, observando que seu país atendeu a todos os critérios para o início das negociações.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, também destacou o “sinal importante” que esse passo representa. “Putin queria anexar a Ucrânia. Em vez disso, [o país] está agora mais próximo da UE do que nunca,” disse ela.
O bloco também iniciará negociações com a vizinha Moldávia, uma ex-república soviética que solicitou adesão à UE semanas após a invasão russa à Ucrânia em 2022. Nas reuniões, a UE apresentará a ambos os países um “quadro de negociação” de reformas e legislações que precisam ser adotadas antes de serem considerados prontos para se juntar ao bloco.
O início das negociações de adesão está programado para ocorrer antes de a Hungria, o membro mais pró-Rússia da UE, assumir a presidência rotativa do bloco em 1º de julho — um papel de seis meses que permite ao país definir as prioridades políticas. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, bloqueou várias decisões relacionadas à Ucrânia, incluindo o início das negociações de adesão, embora ele tenha eventualmente cedido, dizendo que Budapeste teria muitas outras oportunidades para vetar o processo no futuro. Funcionários da UE esperam que as negociações substantivas comecem sob a presidência polonesa do bloco, que começa em 1º de janeiro.
Stefanishyna afirmou que “a partir de 2025, vamos pressionar por um processo de adesão muito dinâmico”. O início das negociações representa um passo monumental para a Ucrânia. Stefanishyna disse que os aproximadamente 90% dos ucranianos que, segundo pesquisas, veem seu futuro na UE estavam “extasiados”.
Em 2013, dezenas de milhares de ucranianos tomaram as ruas no que foi apelidado de levante pró-democracia “Euromaidan” após a decisão do presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovich, de retirar-se de um acordo de associação mais próximo com a UE. Esse movimento eventualmente levou Yanukovich a buscar refúgio na Rússia e colocou o país firmemente no caminho pró-ocidental, apesar das ameaças do presidente russo, Vladimir Putin, de não permitir que a Ucrânia deixasse o que ele descreve como sua esfera de influência. Mais de 100 manifestantes, conhecidos como “cem celestial”, e 13 policiais foram mortos no levante.
A subsequente anexação da Crimeia por Putin, sua guerra na região de Donbas, no leste da Ucrânia, e a invasão em grande escala do país em 2022 custaram a vida de mais de 15.000 civis, de acordo com a ONU, que afirmou que o número real é provavelmente muito maior.
Do lado militar, Kiev afirmou que mais de 100.000 de seus soldados foram feridos ou mortos desde 2022. Capitais ocidentais estimam que o número equivalente de baixas russas seja de pelo menos 350.000.