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Lula começa a sinalizar quem substituirá Campos Neto

Perguntado sobre autonomia do Banco Central, Lula questiona autonomia de um presidente do BC que vai a festa com interesse político e é suscetível a pressões do mercado O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que sua indicação para presidir o Banco Central (o mandato do atual, Roberto Campos Neto, termina no fim do […]

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Reprodução/YouTube

Perguntado sobre autonomia do Banco Central, Lula questiona autonomia de um presidente do BC que vai a festa com interesse político e é suscetível a pressões do mercado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que sua indicação para presidir o Banco Central (o mandato do atual, Roberto Campos Neto, termina no fim do ano) será uma pessoa séria, comprometida com o controle da inflação e o crescimento do País. “Na hora que eu tiver que escolher o presidente do Banco Central vai ser uma pessoa madura, calejada, responsável, alguém que tenha respeito pelo cargo que exerce e alguém que não se submeta a pressões de mercado, e que faça aquilo que for de interesse de 213 milhões de brasileiros”, afirmou. O presidente concedeu entrevista à rádio CBN na manhã desta terça-feira (18/6).

Lula mencionou a ida de Roberto Campos Neto a São Paulo para uma festa organizada em sua homenagem. A cerimônia, realizada no último dia 10, foi capitaneada pelo governador Tarcísio de Freitas e nela se ventilou seu apoio a uma candidatura de Campos Netos a um cargo no estado. “Cadê a autonomia dele?”, provocou o presidente. “O presidente do BC está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? Um paladino da justiça com interesses políticos?”

O presidente reiterou, desse modo, o que já havia dito em outro trecho da entrevista: “Só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante que é o comportamento do Banco Central. Um presidente que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado politico e que, na minha opinião, trabalha muito mais pra prejudicar do que para ajudar o país. Porque não tem explicação a taxa de juros como está”, disse. “Temos uma situação que não necessita essa taxa de juros. O Brasil não pode continuar com uma taxa proibitiva de investimento no setor produtivo.”

A mudança no Banco Central com a saída do Campos Neto, na avaliação do senhor, reverte a política de juros? O governo alguma maneira vai ter alguma interferência? O Gabriel Galípolo, que é cotado para a presidência do BC, é um nome com o qual o governo acredita que estará mais bem sintonizado?

Cátia, sabe qual a vantagem que eu tenho sobre vocês nessa pergunta? É que eu tenho já muito tempo de experiência. Eu já lidei muito bem com o Banco Central. O (Henrique) Meirelles era o meu presidente do BC e eu duvido que o atual presidente, Roberto Campos, tenha mais autonomia do que tinha o Meirelles. Duvido. O que é importante entender é a quem esse rapaz é submetido. Como é que ele numa festa em São Paulo quase que assumindo uma candidatura a um cargo do governo de São Paulo? Cadê a autonomia dele?

Então veja, eu trato com muita seriedade. Eu vou escolher um presidente do Banco Central que seja uma pessoa que tenha compromisso com o desenvolvimento desse País, com o controle da inflação, mas que também tenha na cabeça que não é só no controle da inflação que tem de pensar. Nós temos que pensar também no crescimento. Porque é o crescimento econômico e o crescimento da massa salarial que vão permitir que a gente possa controla a inflação com tranquilidade.

É importante você saber que só tem duas pessoas com mais experiência do que eu em governar o Brasil: Dom Pedro (II), que governou por 60 anos, e Getulio Vargas, que governou de 19039 a 1945 e depois de 1950 a 1954. Então sou mais experiente em lidar com essas coisas. Eu já vi esse nervosismo e, sinceramente, muitas vezes o mercado não contribui com o País, porque especula, porque tem mentiras na imprensa, porque vende coisas falsas.

Eu me reuni com quatro banco internacionais que vieram ao Brasil. Eu encontrei a presidenta do FMI em Hiroshima e ela me disse “o Brasil vai crescer só 0,8%” e eu disse “a senhora não conhece o Brasil, o Brasil vai crescer mais’. E nós crescemos quase 3%. Nós vamos crescer porque nós estamos fazendo com que a economia cresça.

Nós criamos o programa Nova Indústria Brasil para fazer investimentos na indústria. Estamos fazendo investimentos na bioeconomia, estamos tentando trabalhar a transição energética com uma força extraordinária. Nunca um país teve tantas possibilidades no setor energético com nós temos agora, e nós não vamos jogar fora essa oportunidade.

Então, na hora que eu tiver que escolher o presidente do Banco Central vai ser uma pessoa madura, calejada, responsável, alguém que tenha respeito pelo cargo que exerce e alguém que não se submeta a pressões de mercado, e que faça aquilo que for de interesse de 213 milhões de brasileiros.

Presidente, o sr. Fez uma citação agora a Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central), a propósito de uma cerimônia que aconteceu em São Paulo com a presença do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), e até citou que está quase se lançando para um cargo no governo Tarcísio. O sr. acredita que o governador Tarcísio tenha interferência nas decisões do Roberto Campos Neto no BC?

Sinceramente, tem mais do que eu. Como é que ele encontrou com o Tarcísio numa festa? A festa foi do Tarcísio pra ele. Foi uma homenagem que o governo de São Paulo fez pra ele. Certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso uma taxa de juros de de 10,5%. Então, quando ele se lança a algum cargo, eu fico imaginando se nós vamos repetir o Sergio Moro (ex-juiz que o condenou para tirar Lula da eleição de 2018, foi considerado suspeito e incompetente pelo STF, tentou disputar a presidência em 2022 e elegeu-se senador). O presidente do BC está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? Um “paladino da justiça” com rabo preso a interesses políticos?

“Então, o presidente do Banco Central tem de ser uma pessoa séria, responsável e tem de ser imune aos nervosismos momentâneos do mercado. Tem que dirigir a política monetária deste país levando em conta que nós temos que controlar a inflação e crescer.”

Presidente, nós recebemos muitas perguntas de ouvintes que gostariam de fazer perguntas ao sr. Quero fazer uma delas, do Silvio, um ouvinte de São Paulo. Aproveitando essa fala de que o senhor teve muita experiência. Ele pergunta: comparando os outros mandatos com o atual, quais são as principais diferenças que o senhor identifica como claras? E aí pensando no contexto dos Três Poderes no Brasil, e na relação com o Congresso Nacional.

Cátia, obrigado pelo ouvinte que fez essa pergunta que dá oportunidade de explicar algumas coisas. Quando eu peguei o governo em 2003, havia um sinal de crise econômica, mas era um governo que tinha passado também por um período de crescimento – depois também de um momento de queda e de um processo de recuperação. Nós levamos um tempo, colocamos a casa em ordem e conseguimos fazer o país crescer. Agora não.

Agora nós pegamos um país semidestruído. Como se fosse a Faixa de Gaza. Totalmente destruído, todas as políticas públicas. Nós tivemos que reconstruir ministério por ministério. Nós até hoje temos ministério com 30% dos funcionários que tinha em 2010. Então não é possível você pensar em reconstruir o Brasil, cuidar da Amazônia, do meio ambiente, do Pantanal, do Pampa, do Cerrado, da Caatinga, cuidar dos pobres, cuidar da educação, se você está com o governo desmontado.

Nós passamos um tempo muito grande montando o governo. Abrindo concursos, tentando construir. Agora as coisas estão mais ou menos alinhadas, ainda faltam algumas coisas, a companheira Marina (Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima), por exemplo, ela tem 700 funcionários a menos no Ibama.

Então, eu encontrei um governo desta vez muito pior. E vou deixá-lo muito melhor. O meu compromisso é fazer o País voltar a crescer de forma serena, madura e consistente. Que a massa salarial volte a crescer de forma madura e consistente. Que a gente recupere o salário mínimo para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Se a gente conseguir fazer isso, todo mundo vai ganhar. O empresário vai ganhar porque o povo vai virar consumidor de seus produtos, o trabalhador vai ganhar porque vai viver melhor. Agora, qual é a coisa extraordinária que eu tenho? Desta vez eu tenho um governo mais experiente. Esses ministros que foram governadores de estado prestam um trabalho incomensurável, a agilidade de fazer as coisas.

Então eu estou mais tranquilo, e vou dizer uma coisa pra vocês: eu já fiz nesses 16 meses mais políticas de inclusão social do que já fiz nos governos passados. Agora, o fato de ter lançado não significa que ela já chegou na ponta, vai chegar, mas leva um período. Nunca antes na história desse País um governo fez em tão pouco tempo a quantidade de coisas que nós fizemos neste país.

Essa pergunta que o ouvinte fez aqui, e que o senhor acabou não citando em sua resposta, é sobre como se relacionar com o Congresso Nacional. E aí eu aproveito uma fala de um dos seus líderes, Jaques Wagner (Senado), quando ele falou “você teve um presidente Lula, agora tem outro, o pique é o mesmo, mas a disponibilidade pode não ser a mesma”. O senhor estaria cansado desse varejo da política? Mudou a forma de ter de negociar com ele, Congresso?

Mudou muito, Milton. Mudou muito.

Pra melhor ou pra pior?

Deixa eu te contar uma coisa. No governo anterior, como ele não governou o país, porque ele governou uma indústria de mentiras, de fake news, foi o que ele fez. Ele deixou o (ex-ministro Paulo) Guedes fazer o que quisesse na economia e ele deixou o Congresso fazer o que quisesse. Ele não se preocupava com orçamento. O orçamento era do Congresso. Ora, então o Congresso se apoderou. Quando tinha o orçamento secreto era a mesma quantidade de dinheiro que tinha o governo para fazer investimentos.

Nós conseguimos, primeiro, conversar muito com o Congresso. Os ministros têm conversado muito, os líderes, eu, o Haddad, nós estamos fazendo as coisas andarem, nem sempre com a rapidez que gente queria. Mas a gente tem de levar em conta também que o Congresso tem contribuído. A PEC da transição foi uma coisa extraordinária, aprovar a reforma tributária com a pressa que o Congresso aprovou foi extraordinário, e nós agora esperamos que haja a regulamentação. Mas na política você sempre tem problemas.

Eu conto uma história, que você se lembra. O Sarney foi presidente, e tinha o apoio de 323 constituintes e de 23 governadores. E ele tinha muita dificuldade com o Congresso Nacional. Foi o Congresso que reduziu o mandato dele. Imagina eu, de um partido que tem 70 de 513 deputados? Nove senadores de 81? Então eu tenho que exercitar a arte de conversar, de convencer. Nem sempre você consegue 100% do que você quer, às vezes vc consegue 80%, às vezes você perde. Mas isso faz parte. O Obama foi presidente dos Estados Unidos por oito anos e não aprovou nada. Faz parte do jogo democrático.

Então, a verdade nua e crua é que depois da experiência do governo passado o Congresso se empoderou demais, e o Poder Executivo tem ficado fragilizado na arte de exercer o orçamento da União. Esse é o dado concreto, e todo mundo sabe disso.

Publicado originalmente pela Agência Gov em 18/06/2024 – 12h05

Por Paulo Donizeti de Souza

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