O Projeto de Lei 1904/24, que trata da proibição do aborto para vítimas de estupro, tem sido alvo de intensos debates em Brasília. No entanto, a questão vai muito além de uma simples pauta conservadora. O embate em torno do PL revela um intricado jogo de poder envolvendo a sucessão na presidência da Câmara dos Deputados e a manutenção de alianças políticas estratégicas.
Arthur Lira (PL), atual presidente da Câmara, fez um cálculo estratégico que não deu certo. Ele acreditou que o movimento bastaria para ganhar o apoio dos conservadores na sua sucessão e que ele ficaria apenas com os benefícios do movimento. No entanto, acabou sendo vítima de outro jogo político.
Paralelamente, Sóstenes Cavalcante (PL), deputado e líder da bancada evangélica, está utilizando a pauta do aborto como uma ferramenta para consolidar sua posição como potencial sucessor de Lira. Cavalcante busca atrair a oposição e os conservadores para sua causa, apresentando-se como um nome forte capaz de desafiar o governo Lula com pautas polêmicas. Sóstenes foi um dos nomes do PL que, já no ano passado, se colocou contra a dissidência do partido que queria lançar uma candidatura própria à presidência da Câmara no ano que vem.
Alvo de críticas e protestos em todo o país, Lira agora é acusado de recuar diante da pressão da sociedade. No entanto, o que parece ser um recuo, na verdade, faz parte de um acordo pré-estabelecido. Lira negociou a pauta da urgência do PL 1904/24 com a bancada evangélica e, segundo parlamentares, prometeu que o mérito da questão só seria votado após as eleições. Essa é uma tentativa desesperada de manter controle sobre a bancada conservadora, que inclui representantes da bala, do agronegócio e dos evangélicos.
No Senado, a mesma celeuma. Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado, apoia Davi Alcolumbre como seu sucessor preferido. No entanto, o senador Eduardo Girão também está tentando usar a pauta do aborto para unir a oposição e os conservadores em torno de sua candidatura que não irá adiante e assim, mesmo sem a presidência da casa, eles conseguem pautar as discussões por lá também.
É evidente que o debate sobre o PL 1904/24 não se trata apenas de aborto, mas de um jogo de poder onde os direitos das mulheres são instrumentalizados para fins políticos.
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