Ciro sobre os artistas de esquerda: “essa turma tem que ser entendida como inimiga”

Os candidatos do PDT, Ciro Gomes, e do PL, o presidente Jair Bolsonaro, durante debate da TV Globo Reprodução/Twitter

Em um Espaço recente no X, Ciro fez uma série de ataques violentos à comunidade artística progressista. Transcrevo o trecho no final do post.

Ciro não é mais um crítico “normal” do governo. Ele não apenas aderiu a uma estratégia suicida, a um vale tudo desvairado, mas também enveredou por caminhos verdadeiramente perigosos.

Ele se tornou, em primeiro lugar, um golpista.

Seus delírios sobre os “precatórios”, por exemplo, visavam exclusivamente alimentar aquele antipetismo truculento, antipolítica e radical, que floresceu no Brasil após as vitórias de Lula em 2002. Isso desaguou na Lava Jato, no golpe de 2016, em Bolsonaro e no 8 de janeiro. Por isso aquele vídeo dele falando em “mensalão”, “petrolão” e anunciando o “maior escândalo de corrupção da história”.

Mas agora está claro que nem o golpismo é suficiente para Ciro.

Ao vomitar um discurso de ódio tão grosseiro num Espaço do X, Ciro Gomes expõe a classe artística a atos de violência, num momento de crescimento da extrema-direita no país e no mundo. Aliás, esta posição de Ciro é claramente extremista, e este ódio aos artistas, tentando associá-los a um conceito de “sistema” digno de um usuário de 4chan, lembra episódios sinistros da história política moderna.

“Quando ouço falar de cultura, pego minha arma”, é a frase que se atribui a Hermann Göring, um dos líderes do Partido Nazista e comandante da Luftwaffe, a força aérea alemã durante a Segunda Guerra Mundial.

Este ódio de Ciro à comunidade artística é particularmente repugnante devido aos seus motivos: seu próprio orgulho ferido, pelo fato dos artistas não terem lhe apoiado em 2022.

Um agravante é que seu ódio não é contra os artistas de forma geral, mas é focado sobretudo nos artistas de esquerda, que apoiaram Lula. Ciro não os perdoa por causa disso.

Para derrubar Lula, Ciro Gomes está disposto a mentir, usar discurso de ódio, tumultuar e destruir seu próprio partido, caluniar seus irmãos, xingar uma senadora da república de prostituta e perder processos na casa dos milhões (que ele não paga).

Nada mais importa para ele. Seu discurso agora – ele fala isso o tempo todo – é que não acredita mais na política. Então, está disposto a implodir tudo a sua volta, inclusive o seu próprio país, em nome da realização de sua vingança pessoal, que é a destruição política, moral e, se possível, física, de Lula, do PT e de todos que ousaram apoiar o presidente em 2022.

Abaixo, a transcrição da fala de Ciro no Espaço de X:

“Esses artistas, intelectuais comerciais ou esportistas famosos são do sistema. Eu estava enganado. Eles são contra nós, são quinta coluna. Usurpam nosso discurso, falam de Brasil, falam de pobre, mas já aviltaram a política. Renderam-se, perderam a ilusão da política e estão em casa contando seus “vil metais”, como dizia meu conterrâneo Belchior na célebre “Como Nossos Pais”. Música extraordinária e visionária dos tempos que estamos vivendo. Essa turma tem que ser entendida como inimiga.

Estava me esforçando o tempo todo, indo na casa dos caras, explicando a economia, e no fim, dizem: “Vai legalizar minha maconha?”, percebe? Na estética, na música, o papel do artista como transformação social é insubstituível. Sabe o que aconteceu no Brasil? O esforço de cooptação, anestesia e suborno que o lulopetismo produziu. (…) Intelectuais e artistas relativizam a esculhambação, concessões e corrupção.”

O áudio pode ser ouvido aqui:

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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