#FashionTrend: comunicação de moda ganha nova roupagem nas mídias sociais

Photo by Michael Lee on Unsplash

Jornalistas e criadores de moda alertam para a banalização da crítica na internet.

O espaço-tempo que separava as notícias das passarelas para as capas de revistas foi encurtado. Atualmente, com um celular na mão, a multidão de influenciadores digitais consegue entregar seus conteúdos para sua vasta lista de seguidores em tempo real. Segundo a repórter de moda e beleza da revista Capricho, Sofia Duarte, driblar a velocidade que a internet demanda das notícias é um dos principais desafios enfrentados por jornalistas na atualidade. “No meu trabalho, tenho dificuldade de captar o público para ler matérias mais densas e aprofundadas. Com o TikTok e as redes sociais, tudo tem que ser rápido, pra ontem. Entender os limites entre o tempo da internet e a banalização dos conteúdos é complicado”, afirmou a repórter.

Além disso, com a rapidez que a mídia social requer, muitas etapas para se compreender os fatos foram se perdendo. No curso de comunicação, por exemplo, um jornalista é ensinado a realizar apurações, entrevistas e depois fazer uma análise dos dados coletados para poder escrever seu texto. Na área da moda o processo é o mesmo: para uma notícia ser publicada em um portal ela tem que ser checada e embasada. “Um trabalho jornalístico, de fato, tem fontes, respaldo, referências, credibilidade e apuração”, acrescenta Sofia. Isso impede que informações erradas ou incompletas sejam repercutidas.

“Muitas desinformações de moda vêm das redes sociais e da ânsia por conteúdos rápidos, o que pode acabar pulando passos importantes da própria apuração jornalística”, completa.

A velocidade do tempo digital não é o único fator que compromete a informação fundamentada sobre moda. As análises de desfiles, marcas, designers criativos, entre outros componentes do mundo fashion, seguem uma linha de estudo de histórico e conceitos do que foi apresentado. As críticas postadas nas plataformas de vídeo se atentam a esse processo?

Críticas são criticadas 

Para um lançamento de coleção, por exemplo, desde o casting de modelos até a escolha do ambiente do desfile, todos os detalhes fazem parte da construção da narrativa que o diretor criativo e a marca desejam passar. Nenhum componente na moda é colocado sem contexto, tudo tem uma mensagem. Por esse motivo, a criadora do portal “Não é Moda”, Lella Parma, cita a importância de um estudo aprofundado para se tornar um bom crítico. “Para você ser um crítico fashion tem que ter estudo. Não adianta dar só sua opinião e tá tudo certo, você tem que ter estudo, tem que ter embasamento e tem que entender o que aconteceu antes para entender o que está acontecendo hoje”, ressalta a comunicadora.

O impacto da propagação dessas opiniões sem embasamentos e estudos prévios chega até o ciclo dos artistas de moda. Nesta perspectiva, o fashion designer e diretor de arte Marlon Santos reflete sobre a credibilidade dos criadores digitais como comentaristas de moda. Para ele, nem sempre o influencer é capaz de julgar uma criação como “boa” ou “ruim”. O trabalho artístico vai além daquilo que é apresentado na internet.

“As pessoas confundem sobre elas terem influência sobre algo e acharem que tem influência sobre algum tipo de arte ou sobre um mundo mais complexo do que a internet. Eu tenho na minha cabeça que nem os próprios criadores podem validar o que é bom ou ruim. Podemos apenas enxergar pontos positivos e negativos sobre suas falas e guardar para nós mesmos”, conclui Marlon.

A ética e a responsabilidade são pontos importantes para que uma crítica seja reconhecida. As visualizações e engajamentos nem sempre serão sinônimos de um bom conteúdo. Dessa forma, para poder obter um bom filtro de informações na internet é preciso se atentar ao que o usuário acompanha e consome diariamente. Quando abre o aplicativo, quem você está assistindo?

Aos 20 anos, o estudante de jornalismo, Luana Rafael, se preocupa em consumir conteúdos informativos de moda com comunicadores digitais que se comprometem a trazer informações embasadas. “Eu seleciono quem sigo e acompanho, não é só porque comentam sobre uma fashion week que vou entender que esse comunicador é um especialista no assunto. […] Procuro sempre acompanhar jornalistas ou estudantes de moda para que eu consiga entender os conceitos e as diversas interpretações de quem estuda o assunto”, afirma a estudante.

O modelo pelo qual podemos nos comunicar na internet é variado: do sonoro ao audiovisual, existe de tudo um pouco. A questão é como filtrar esse mar de vozes para que se possa adquirir informações embasadas e confiáveis. Nadar na contra-corrente das tendências e consumir conscientemente é um possível caminho. “De dois anos pra cá, muitos criadores de conteúdo conseguem trazer um olhar mais político sobre a moda e tirar o mundo fashion daquela futilidade que acham que é”, completa Lella.

Portais, comunicadores e pessoas públicas que trabalham com moda na internet podem ser fontes de pesquisa, desde que abordem a questão com complexidade e importância. Acompanhar esses conteúdos pode abrir portas para novos caminhos e fornecer acessibilidade para o universo fashion se expandir. “O ponto positivo que eu enxergo entre as influências da internet no mundo artístico é que eles conseguem dar acesso a algumas realidades que, anos atrás, você só teria sendo fã desse nicho”, conclui Marlon Santos.

“A questão do estudo é o divisor de águas para você ser só um comentarista que fala o que acha ou para ser um crítico fashion, porque não adianta bater palma para tudo que acontece e fechar os olhos para algumas problemáticas que o mundo da moda ainda tem.”

Lella Parma 

Matéria feita por Anna Finamor, para o Fashion And The City.

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