Ataque à ciência e aos professores.
Por Roberto Medronho
Na última semana, fomos surpreendidos com o requerimento de uma audiência pública na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados que visa a questionar os resultados de pesquisas conduzidas pelo NetLab, nosso renomado laboratório da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ. O requerimento leva professores à comissão com o objetivo de censurar a ciência no Brasil, criminalizando professores. Portanto, esse não é um ataque apenas à UFRJ, mas toda a comunidade acadêmica brasileira.
O laboratório é alvo de ataques devido à sua agenda de pesquisa, que aborda o problema da desinformação. As pesquisas do NetLab UFRJ, com especial atenção às questões socioambientais e golpes na internet, ganharam destaque nos principais noticiários da mídia brasileira no último mês devido à tragédia no Rio Grande do Sul, que apontou para fakes news para manipular a opinião pública e por golpes com pedido de doações falsas — que desviaram ajuda das vítimas mais necessitadas em um cenário de deslealdade e falsidade. Além disso, o NetLab UFRJ tem se destacado ao longo dos anos ajudando diretamente nas pesquisas ao valor inestimável para a sociedade, fornecendo evidências com metodologia científica que embasam políticas públicas e auxiliam gestores e autoridades em tomadas de decisões, motivo de grande orgulho para a UFRJ.
O principal questionamento do requerimento é o financiamento do laboratório com recursos públicos e de fundações filantrópicas para a realização de suas pesquisas. Ora, a maior parte da pesquisa gerada no Brasil depende de recursos públicos, e é desejável que assim seja.
Entretanto os recursos públicos para pesquisa são escassos diante das imensas demandas e desafios colocados ao desenvolvimento científico e tecnológico, especialmente para o processamento de grandes volumes de dados, que exigem altos investimentos em tecnologia, apoiados todos pela universidade e instituições públicas em complementares seus escassos recursos com aportes disputadíssimos financiamentos nacionais e internacionais, públicos, privados e filantrópicos, para, como agora, ser transformados em armas pelos políticos para censurar a ciência por meio de ações no Parlamento. Nesse caso, o objetivo é inibir os estudos sobre desinformação e pressionar os pesquisadores a desistir de seus temas de pesquisa em anos eleitorais. É justamente por conhecermos esse roteiro, que relembra os tempos mais sombrios da História de nosso país, que reafirmamos nosso compromisso com o ensino e a pesquisa independente. Declaramos que não nos deixaremos intimidar por manipulações e ameaças à nossa autonomia universitária, à nossa independência acadêmica e à liberdade de pesquisa, os pilares da universidade pública e uma conquista do Estado Democrático de Direito.
Não admitiremos censurar a pesquisa científica, muito menos que criminalizem professores, pesquisadores e a comunidade acadêmica quando resultados de pesquisa desagradam. Nós, da UFRJ, seguiremos em nossa missão social de contribuir para a solução de problemas da nossa sociedade. Assim, conclamamos à população brasileira a permanecer vigilante em defesa da ciência livre, sem censura e com recursos necessários, fundamental para o desenvolvimento econômico, social e político do nosso país e para garantir a soberania nacional.
Roberto Medronho é reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
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