Ni Una Menos: Na Argentina mulheres saem às ruas contra Milei

Feministas protestam contra Milei diante do Congreso de La Nacion Argentina. Foto: Bruno Falci / Buenos Aires

Organizações feministas, de diversidade sexual, sociais, políticas e sindicais marcharam novamente segunda-feira, 03\06, contra a violência de gênero no nono aniversário do “Ni una menos”. Os protestos, que foram replicados por todo o país com a mobilização de milhares de manifestantes na Praça do Congresso, em Buenos Aires, tiveram como alvo a violência econômica e os “discursos e crimes de ódio”, que foram agravados com a chegada do Governo de extrema-direita de Javier Milei.

Por Bruno Falci, de Buenos Aires para o Portal O Cafezinho

Em um ato que ocorre poucas semanas depois do lesbicídio sofrido por Pamela, Rozana e Andrea em uma pensão no bairro de Barracas, na cidade de Buenos Aires, sob um governo que reproduz discursos de ódio que legitimam a violência.

Novos protestos foram marcados para amanhã (12/06), quando será votada a Ley bases no Congresso. Após Milei sere derrotado na votação da Ley Omnibus, principalmente devido a mobilização social, tenta agora aprovar uma versão mais enxuta da reforma do Estado argentino, com por exemplo menos empresas publicas a serem privatizadas.

O movimento feminista também se mobilizara contra a Ley Bases e estara presente nas ruas, assim como se posiciona contra o protocolo ante protestos do governo e o DNU, decreto ilegal de Milei.

Origens do movimento

A inspiração para o movimento surgiu em 1995. Susana Chávez escreveu um poema com a frase “Nem uma morta mais” para protestar pelos feminicídios em Cidade Juárez. A poetisa terminou assassinada em 2011 por sua luta pelos direitos das mulheres. Um grupo de escritoras, artistas e jornalistas militantes tomou essa expressão e converteu-a em “Nem uma menos”, isto é, nem uma mulher a mais vítima do feminicídio, para utilizá-la como convocação para a mobilização.


Ni una menos (em português Nem uma a menos), foi uma marcha multitudinária de protesto contra a violência de gênero que se deu em várias cidades da Argentina, Chile e Uruguai no dia 3 de junho de 2015 e novamente na Argentina em 3 de junho de 2016.


Os protestos em junho de 2016 foram desencadeados pelo assassinato de Chiara Páez, de 14 anos, grávida, e outras quatro mulheres, incluindo Lucía Pérez, de 16 anos, que foi drogada, estuprada e empalada na cidade costeira de Mar del Plata, em um dos feminicídios mais brutais já registrados na Argentina. Ao começo tratava-se de um evento feminista, mas o tema rapidamente se viralizou e obteve alcance internacional. A convocação realizou-se principalmente através das redes sociais. Numerosas figuras públicas aderiram à causa, incluindo jogadores de futebol, atores, artistas, jornalistas, desportistas, dirigentes políticos, ONGs, sindicatos, famosos e personagens mediáticas.

As taxas de feminicídio

Na Argentina, uma mulher continua a ser assassinada a cada 35 horas. É o que destaca o Cadastro Nacional de Feminicídios que o Supremo Tribunal de Justiça divulgou recentemente:
“Os dados coletados desde 2014 mostram considerável estabilidade nas taxas de feminicídios diretos. De um valor inicial de 1,03 vítimas diretas de feminicídio por 100 mil mulheres em 2014, subiu para 1,05 em 2023, com níveis apenas ligeiramente inferiores em 2021 (0,99) e 2022 (0,96). Levando em conta possíveis subnotificações nos primeiros anos e atualizações posteriores, nestes 10 anos foram notificadas pelo menos 2.446 vítimas diretas de feminicídio, uma média de quase 245 por ano.”


Antes da reunião, ocorreram duas assembleias na sede dos Metrodelegados. “Há sete anos saímos às ruas em um grito coletivo para dar um basta à violência machista e à sua expressão mais brutal, o feminicídio”, lembra Karina Nicoleta, titular da Secretaria de Gênero da Associação Sindical dos Metroviários. “Das redes feministas que soubemos concretizar e que nos apoiaram na pandemia, voltamos a reunir-nos em duas assembleias massivas, depois de dois anos sem conseguirmos mobilizar-nos e preencher nossas demandas com conteúdo. Dado o progresso da direita, há resistência e luta feminista”, acrescenta.


Este ano, a denúncia contra os feminicídios tem como foco a falta de orçamento para políticas públicas graças ao ajuste fiscal do Governo predador de Milei. A Lei de Bases com o seu impacto na moratória previdenciária e nos cortes nos programas de prevenção serão alguns dos eixos.
A lei de Bases, entre outras medidas, pode impedir que nove em cada dez mulheres se aposentem, perdendo múltiplos direitos trabalhistas e beneficiando grandes empresários com lavagem de dinheiro e isenções fiscais.

Bruno Falci:
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