Juan Grabois, líder de Patria Grande, em entrevista ao Página/12, criticou duramente o governo de Javier Milei, Sergio Massa e a atual situação política e social da Argentina. Grabois revelou que planeja se candidatar a deputado no próximo ano, prometendo uma campanha independente e combativa.
Sobre o governo de Javier Milei:
“O governo é uma fábrica de pobres e não toma medidas de mitigação. Eles sustentam que basta com a AUH [Asignación Universal por Hijo, um programa social na Argentina que apoia economicamente famílias de baixa renda com filhos menores de 18 anos ou filhos com deficiência] e o Cartão Alimentar, que são políticas de Cristina (Kirchner) e de Alberto (Fernández). A sensação é que o governo está esperando ver as pessoas mortas literalmente para reagir.”
Grabois critica a gestão de Milei por sua incapacidade de implementar políticas efetivas para combater a pobreza crescente no país. Ele afirma que as medidas adotadas pelo governo são insuficientes e que a situação atual de desabastecimento e fome é alarmante. Segundo ele, a distribuição de alimentos é caótica e mal planejada, o que demonstra a falta de organização e planejamento do governo.
Sobre Milei:
“Milei está particularmente dissociado, absolutamente desconectado da realidade. Vive em uma bolha onde reforçam sua intransigência. Isso não vai terminar bem. Ele preside o país com um desarraigamento tão absoluto da realidade e com públicos muito minoritários, mas fervorosos, que aplaudem as estupidezes que ele diz.”
Grabois acusa Milei de estar completamente alheio às necessidades e realidades do povo argentino. Ele critica o presidente por sua abordagem desconectada e inflexível, e alerta que essa postura intransigente levará o país a uma situação ainda pior. Ele destaca que Milei governa para uma minoria fervorosa que apoia suas ideias extremas, mas que isso não reflete a realidade da maioria da população.
Sobre a crise social:
“O que está acontecendo é uma duplicação da taxa de indigência. Estamos em 18% de indigência, com praticamente 8 milhões e meio de pessoas que não comem. Desde 2001/2002 não se vê algo assim. Estamos em um processo de autodestruição como sociedade.”
Grabois ressalta o aumento alarmante da taxa de indigência no país, destacando que quase 9 milhões de pessoas estão passando fome. Ele compara a situação atual com a crise de 2001/2002, apontando que a Argentina está em um processo de autodestruição social. Ele acusa o governo de não tomar medidas adequadas para mitigar essa crise e critica a dependência excessiva de programas sociais insuficientes.
Sobre Sergio Massa:
“Massa é o arquétipo do político profissional. Ele representa o político especulador, que sabe como falar, quando falar, o que dizer, como dizer. Com isso, nunca se transformou nenhuma realidade. Isso pode servir para chegar ao poder, com sorte, mas não para transformar a realidade.”
Grabois critica Sergio Massa por ser um político profissional que prioriza a estratégia e a especulação em vez de ações concretas para melhorar a situação do país. Ele acusa Massa de ser oportunista e de não ter um compromisso real com a transformação da realidade argentina. Segundo Grabois, a abordagem de Massa pode ajudá-lo a alcançar o poder, mas não a trazer mudanças significativas para a população.
Sobre a candidatura:
“Vou encabeçar uma lista própria, para que não me encham o saco. Temos uma força em todos os distritos do país que vai apresentar lista. Vamos com a nossa, porque acreditamos que a representação política não pode ser da partidocracia. A representação política tem que se parecer mais com a sociedade e menos com as organizações.”
Grabois confirma sua intenção de se candidatar a deputado no próximo ano, enfatizando que sua campanha será independente e livre de alianças políticas tradicionais. Ele afirma que a representação política deve refletir mais a sociedade e menos os interesses partidários. Ele expressa sua determinação em liderar uma lista própria para garantir que suas ideias e propostas sejam representadas de forma autêntica e sem interferências.
Sobre a hipocrisia dos governos anteriores:
Grabois aponta a hipocrisia dos governos anteriores, incluindo o de Mauricio Macri, que prometeu “pobreza zero” mas falhou em implementar políticas efetivas para alcançar esse objetivo. Ele critica a desumanização que permeia a sociedade argentina e a falta de credibilidade dos políticos que proclamam justiça social, mas não a concretizam na prática. Ele argumenta que essa combinação de desumanização e hipocrisia contribuiu para a atual crise social e política do país.
Sobre a corrupção e abuso de poder nas organizações sociais:
“Nos dois livros que escrevi sobre os movimentos sociais, descrevi os mecanismos de abuso de poder que ocorrem no subsolo da Pátria. Não apenas nos movimentos sociais, mas na economia informal. Onde existe poder, existe abuso de poder. Ocorre na mesma proporção que em qualquer outro âmbito da sociedade, só que é mais brutal porque a realidade é mais brutal.”
Grabois reconhece que existe corrupção e abuso de poder nas organizações sociais, mas argumenta que isso não é exclusivo desse setor e ocorre em todas as áreas da sociedade. Ele defende a necessidade de políticas públicas mais sólidas, melhor auditadas e mais racionais para minimizar essas possibilidades de abuso. Ele critica a generalização e o uso de casos isolados para desacreditar todo um movimento social, afirmando que essa é uma técnica fascista que não contribui para a solução dos problemas.
Sobre Cristina Kirchner e a coalizão:
“Falo permanentemente com Cristina e ela sabe perfeitamente o que penso. Ela me valoriza, me respeita e me quer porque sempre lhe digo o que penso. E se tenho que discutir com ela, discuto com ela. Às vezes ela tem razão, às vezes não. Por exemplo, sobre a valorização que ela tem dos movimentos sociais. Também não concordamos sobre como as transferências de renda devem ser geridas para as pessoas em situação de pobreza. Ela não gosta muito das cooperativas porque as vê como uma forma de intermediación. Temos muitas diferenças, mas nunca deixaremos de respeitar, valorar e reivindicar tudo o que ela fez pelos mais pobres.”
Grabois fala sobre seu relacionamento com Cristina Kirchner, destacando que, apesar das diferenças, ele a respeita e valoriza por suas contribuições aos mais pobres. Ele menciona divergências em relação à valorização dos movimentos sociais e à gestão das transferências de renda, mas reafirma seu compromisso com a coalizão popular e sua determinação em lutar por uma orientação que reflita seus princípios e valores.
Sobre a estratégia de Massa de manter-se em silêncio, com aparições esporádicas:
“Massa é o arquetipo do político profissional. O que quero transmitir à nossa militância é que o que não devemos ser é um político profissional. Devemos ser militantes políticos populares. O que ele está fazendo é como um submarino que vai por baixo da água e levanta o periscópio. Quando vê que pode lançar um foguete, ele lança. O problema é que é o submarino de uma patrulha perdida, porque a República Argentina está sendo bombardeada. Quando a Pátria está em perigo, tudo é permitido, exceto não defendê-la, e a Pátria está sendo vendida, destruída, violada. Todos deveriam estar colocando o corpo nas balas. Não quero extrapolar minha personalidade ou a natureza de nossas organizações para todo o resto do nosso campo político, mas acho que falta um pouco de força.”
Grabois critica a abordagem de Massa, comparando-a a um submarino perdido que lança ataques esporádicos. Ele enfatiza que, em tempos de crise, todos deveriam estar ativamente defendendo a pátria e não apenas especulando ou esperando o momento oportuno para agir. Ele apela para um engajamento mais ativo e combativo, sugerindo que a atual estratégia de Massa não é suficiente para enfrentar os desafios que a Argentina enfrenta.
Considerações finais:
Juan Grabois, em sua entrevista ao Página/12, faz uma análise contundente da situação política e social da Argentina, criticando duramente o governo de Javier Milei, a estratégia de Sergio Massa e a hipocrisia dos governos anteriores. Ele destaca a gravidade da crise social, com uma taxa alarmante de indigência e uma sensação de desamparo crescente entre a população. Grabois reafirma seu compromisso com uma representação política que reflita verdadeiramente os interesses da sociedade, prometendo uma candidatura independente e combativa no próximo ano. Sua visão crítica e sua determinação em lutar por mudanças reais fazem de Grabois uma figura importante no cenário político argentino, representando uma voz de resistência e esperança para muitos.