Tio Sam não lê o Estadão

O Brasil obteve o primeiro saldo comercial positivo com os Estados Unidos em quase vinte anos!

Nos últimos 12 meses, as exportações brasileiras para os EUA totalizaram US$ 38,9 bilhões, um recorde histórico, sendo que, em 2023 já havíamos registrado um recorde.

As importações brasileiras de produtos americanos, por sua vez, totalizaram US$ 37,3 bilhões, valor que é menor que o registrado em 2022 e 2023, mas é o terceiro maior da história.

Com isso, o saldo comercial do Brasil com os EUA ficou positivo pela primeira vez em 17 anos, totalizando US$ 1,52 bilhão.

Esse primeiro um ano e meio de governo Lula, portanto, tem sido excelente para as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.

A afirmação vai na contramão, ironicamente, da análise que vemos em alguns jornalões, de que Lula teria prejudicado o Brasil ao desenvolver relações políticas e diplomáticas mais estreitas com países do Sul Global.

Os Estados Unidos são um país pragmático, não parece ter dado bola para os editoriais do Estadão.

E qual a razão desse desempenho tão expressivo das exportações brasileiras para os Estados Unidos?

Petróleo.

As exportações brasileiras de petróleo para os EUA cresceram 40% nos últimos 12 meses (até maio), de US$ 5,1 bilhões em 2023 para US$ 7,1 bilhões em 2024. Já as importações brasileiras de petróleo americano caíram quase 60%, de US$ 12,6 bilhões em 2023, para US$ 5,3 bilhões em 2024.

Com isso, o saldo que era negativo em US$ 7,5 bilhões em 2023, passou para positivo em 2024.

Isso é um acontecimento histórico para o Brasil, porque desde que começamos a usar petróleo como fonte de energia, ao final do século 19, nos tornamos vitalmente dependentes do produto americano. Nos anos 60, por exemplo, dependíamos de petroleiros americanos que aportavam em Santos a cada 15 dias. Qualquer atraso poderia pôr em risco o funcionamento da nossa economia. Não é difícil imaginar a implicação geopolítica avassaladora que essa dependência nos impunha.

Hoje o petróleo já é o produto brasileiro mais exportado para os EUA. Nos cinco primeiros meses do ano (jan/mai), o petróleo respondeu por 22% do total exportado pelo Brasil para os Estados Unidos. Considerando apenas esses cinco meses, o Brasil exportou US$ 3,46 bilhões em petróleo para os EUA, aumento impressionante de 126% sobre o ano anterior.

Em segundo lugar vem o ferro (minério e derivados, como aço), que respondeu por 15%.

Vale destacar o aumento de 43% nas exportações de café em Jan/Mai, que atingiram US$ 840 milhões no período.

Além de não ler o Estadão, o Tio Sam também gosta de um cafezinho!

Observação: a disparidade entre os percentuais aqui mostrados e os da tabela, é porque, na tabela, os produtos estão agrupados em categorias maiores. Por exemplo, petróleo, na tabela, engloba não apenas os óleos brutos de petróleo, como também seus derivados.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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