O arquivo judicial contendo a íntegra da investigação da polícia federal e a transcrição completa da delação de Ronnie Lessa, assassino de Marielle Franco e Anderson Gomes, tem mais de 5 mil páginas.
Vamos dividir em partes e publicar os trechos mais importantes.
Nesse post, trazemos um resumo da parte do documento que é um manuscrito do próprio Ronnie Lessa, com parte de sua confissão do crime entregue à polícia.
Essa parte da confissão escrita trata particulamente do papel de Rivaldo Barbosa, ex-chefe da polícia civil do Rio de Janeiro, e do ex-chefe da Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, Giniton Lages, que tinha sido indicado por Rivaldo. A DH é da Polícia Civil.
—
4º alvo: Rivaldo Barbosa
5º ” “: Giniton
Personagem imprescindível tanto no pré quanto no pós crime. O mesmo foi mencionado pelos irmãos em todas as 3 reuniões em que nos encontramos para falarmos sobre o crime. Seu nome era reverenciado como uma espécie de guru, como uma garantia para o bom desfecho da missão e como uma autêntica “carta branca” para o plano.
1ª reunião: Seu nome foi claramente citado e incluído como parte integrante do plano quando nos foi revelado que “a DH já está no bolso, lá é tudo nosso”. Ocasião em que Macalé fez o seguinte comentário:
– Pô padrinho, se eu soubesse que o sr. tinha esse contato, a gente tinha resolvido antes e não precisava de tanta reunião.
2ª reunião: Realizada no sítio do irmão X em Guapimirim. Novamente seu nome foi citado como referência máxima do sucesso do plano. Nesta ocasião, os irmãos detalharam a importância da sua participação para a execução do crime, enfatizando que a sua influência na DH garantiria que as investigações fossem conduzidas de forma a não nos comprometer.
3ª reunião: A última reunião aconteceu na casa do irmão Y em Itaboraí. Durante essa reunião, foi reforçada a necessidade de mantermos discrição e seguir à risca as orientações do padrinho Rivaldo e de Giniton. Foi também nesta reunião que se decidiu a data da execução do crime, levando em conta a agenda dos alvos e a cobertura garantida por nossos contatos na DH.
O plano: O plano consistia em abordar o alvo principal, Marielle Franco, após uma reunião pública na Lapa. Com a certeza de que Giniton já havia preparado o terreno dentro da DH, nossos movimentos foram realizados com precisão. Escolhemos o local e o horário estratégicos para evitar testemunhas e garantir uma fuga rápida e segura. Utilizamos um veículo clonado para despistar qualquer tentativa de rastreamento.
Execução: Na noite do crime, segui o veículo de Marielle desde a saída do evento até um ponto previamente acordado. Élcio estava ao volante, e eu fui o responsável pelos disparos. Foram efetuados 13 disparos, dos quais 4 atingiram Marielle e 3 atingiram Anderson Gomes, seu motorista. Imediatamente após os disparos, deixamos o local em alta velocidade e seguimos para o ponto de desmanche do veículo.
Pós-crime: Após a execução, seguimos para o local combinado onde o veículo foi desmontado e suas partes, dispersas em diferentes pontos da cidade para evitar qualquer identificação. Reunimo-nos novamente para discutir a repercussão do crime e garantir que todas as evidências que poderiam nos ligar ao ato fossem eliminadas.
Investigações: Graças à influência de Rivaldo e Giniton na DH, as investigações iniciais foram conduzidas de maneira a desviar o foco de qualquer suspeita sobre nós. Mantivemos comunicação constante para garantir que não houvesse qualquer brecha que pudesse ser explorada pela imprensa ou outras autoridades não envolvidas.
Conclusão: A operação foi considerada um sucesso dentro dos parâmetros estabelecidos pela milícia. A execução de Marielle Franco enviou uma mensagem clara a todos que ousassem desafiar a autoridade e os interesses da organização. Reafirmo meu compromisso em colaborar com as autoridades, fornecendo todos os detalhes necessários para a completa elucidação dos fatos e identificação de todos os envolvidos.