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Clara Brugada triunfa na Cidade do México e retém o bastião da esquerda na capital

Morena, o partido de Andrés Manuel López Obrador, conserva sua trincheira mais importante, com cerca de 50,9% dos votos, frente a uma oposição fortalecida na capital, que obteve 38,8%, segundo a primeira contagem oficial. A esquerda mexicana conseguiu com uma vitória contundente conservar neste domingo seu bastião. A Cidade do México elegeu Clara Brugada, do […]

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Clara Brugada celebra no Zócalo com seus seguidores. VICTORIA RAZO

Morena, o partido de Andrés Manuel López Obrador, conserva sua trincheira mais importante, com cerca de 50,9% dos votos, frente a uma oposição fortalecida na capital, que obteve 38,8%, segundo a primeira contagem oficial.

A esquerda mexicana conseguiu com uma vitória contundente conservar neste domingo seu bastião. A Cidade do México elegeu Clara Brugada, do Movimento de Regeneração Nacional (Morena), como sua chefe de Governo pelos próximos seis anos. A candidata eleita ganhou com entre 49% e 52% dos votos de seu principal rival, o panista Santiago Taboada, da aliança Va por CDMX, que obteve entre 37% e 40% dos votos, segundo a contagem rápida, um cálculo com amostras coletadas em várias seções eleitorais que tem 95% de confiança. Salomón Chertorivski, do Movimento Cidadão, ficou em um distante terceiro lugar, com entre 6% e 9%. Em uma eleição em que o México escolheu Claudia Sheinbaum como a primeira mulher presidente, a capital deu um apoio retumbante à continuidade. A ideia que tanto repetiu o oficialismo na campanha, “é tempo de mulheres”, finalmente se concretizou. Com Sheinbaum na Presidência e Brugada na Cidade do México, a dupla do Palácio Nacional e do Executivo local estará nas mãos, pela primeira vez, de duas mulheres de esquerda.

“A maioria decidiu votar para que continue a transformação do México”, celebrou a chefe de Governo eleita, após uma jornada quase sem incidentes e com alta participação, de cerca de 68% dos eleitores registrados na capital, quase 8 pontos acima da eleição presidencial. Taboada, que representava os históricos Partido Ação Nacional (PAN), Revolucionário Institucional (PRI) e o da Revolução Democrática (PRD), reconheceu a derrota pouco depois da divulgação dos primeiros dados oficiais, já de madrugada. “Desta vez, nesta ocasião, não foi suficiente”, disse ao reconhecer a vitória de sua adversária, “demos tudo no campo, não nos deixamos nada”. O candidato da coalizão opositora desejou sucesso a Brugada e assegurou que continuará trabalhando pelo futuro da cidade. A comparação dos dados da chefia de Governo com a contenda federal mostra que Taboada teve muito mais sucesso na eleição do que sua companheira de aliança, a candidata presidencial Xóchitl Gálvez, que perdeu por cerca de 30 pontos.

Após quase três décadas à frente do Governo da capital, a esquerda enfrentava nestas eleições uma direita fortalecida na capital, que ameaçava tomar o poder. Ao contrário das presidenciais, onde as pesquisas previam uma ampla vitória para Morena, a disputa na cidade era esperada como mais acirrada. O antecedente mais claro foram as eleições intermediárias de 2021, quando os eleitores da capital puniram o partido de Andrés Manuel López Obrador nas urnas e deram à oposição mais da metade das 16 prefeituras que compõem a cidade. A diferença entre os dois favoritos foi se estreitando à medida que a data se aproximava, e apesar de ter acabado mais apertada do que começou, nunca chegou a virar a eleição. Um fator que parece determinante é a participação, que passou de 52% para 68% neste domingo.

Brugada, de 60 anos, dedicou metade de sua vida a trabalhar pela maior cidade de língua espanhola do mundo. Na política local, foi quase tudo. Deputada federal, legisladora local, procuradora social do Governo da capital, senadora suplente e três vezes prefeita de Iztapalapa, a maior demarcação da capital. Economista de formação, forjou sua carreira política nos bairros mais pobres, primeiro como ativista e depois como funcionária. Caminhou durante anos com referências da esquerda nacional, como López Obrador ou o ex-chanceler Marcelo Ebrard, mas sempre defendeu suas próprias ideias. Feminista de primeira hora, Brugada é uma figura próxima ao presidente mexicano e foi apoiada desde o primeiro momento pela ala mais dura do partido.

A virtual chefe de Governo, uma feminista que iniciou sua carreira política nas organizações sociais e no ativismo pelos pobres, não conta apenas com o apoio do presidente. Desde o primeiro momento em que foram cogitados os possíveis sucessores de Sheinbaum na capital, ela se destacou como a favorita entre seus colegas de partido. Tinha tudo para ser a melhor opção aos olhos da ala dura do partido, aqueles mais puristas e de esquerda. Apesar de a preferência interna ter sido muito maior para o ex-secretário de Segurança da capital, Omar García Harfuch, o partido optou por elevar ela.

A capital mexicana, o segundo distrito com mais eleitores, atrás apenas do Estado do México, sempre serviu como termômetro político no cenário nacional. As eleições deste domingo pintaram um panorama favorável para o partido de López Obrador na Cidade do México, onde não só o presidente mantém uma imagem muito positiva, mas também Sheinbaum, ex-chefe de Governo da cidade. Esse arrasto eleitoral teve um impacto importante a favor da campanha na cidade, onde o partido também venceu na corrida presidencial, no Senado e no Congresso dos Deputados, com 27% dos votos apurados.

A oposição não conseguiu canalizar nas urnas o descontentamento de uma parte da população com o movimento obradorista. Nem replicar o sucesso eleitoral que tiveram em 2021, a primeira vez que se aliaram o PRI, o PAN e o PRD. Taboada tentou focar seu discurso na crise da água que atravessa a capital e na insegurança, em meio a uma campanha com 37 candidatos assassinados. No entanto, não foi suficiente para convencer os eleitores, em parte, porque a capital conseguiu reduzir os índices de criminalidade na última administração, enquanto uma onda de violência assolava os estados. A ex-chefe de Governo, agora presidente eleita, prometeu exportar esse modelo de segurança para o resto do país. Desse suposto sucesso também se aproveitou Brugada, que se comprometeu a manter a forma atual de trabalho das forças de segurança.

A segurança e a seca serão dois dos maiores obstáculos que a próxima chefe de Governo enfrentará. Embora a capital seja uma caixa de surpresas constantes, que sempre apresentou novos desafios para quem a governava. Brugada, uma especialista em urbanismo, mudou durante suas três gestões o horizonte de Iztapalapa, a maior e uma das mais pobres prefeituras. Agora terá seis anos para tentar isso na cidade.

Georgina Zerega, 03 de junho de 2024.
El País

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