John Mearsheimer: política externa dos EUA nunca teve a ver com defesa de liberdade e democracia

Algumas semanas atrás, o programa de Piers Morgan deu lugar a um diálogo que já se tornou um clássico. Esse trecho tem sido analisado e comentado mundo afora pelo resumo que traz do que tem sido, nas últimas décadas ou mesmo séculos, a política externa americana.

No diálogo, John Mearsheimer argumenta que, apesar do recente pacote de armas enviado para a Ucrânia, é provável que Putin vença a guerra convencional, e que o destino da Ucrânia não importa tanto para os Estados Unidos. Ele afirma que lugares como o Afeganistão e a Ucrânia não são cruciais para os interesses americanos, criticando a visão de que os Estados Unidos devem intervir em todo o mundo para proteger a liberdade e a democracia.

Piers Morgan, por outro lado, defende que os Estados Unidos, como autoproclamados líderes do mundo livre, têm a responsabilidade de proteger a liberdade e a democracia onde quer que sejam ameaçadas. Ele cita o exemplo do Afeganistão, argumentando que a retirada das tropas americanas foi um erro catastrófico, especialmente para os direitos das mulheres.

Mearsheimer rebate dizendo que a história da política externa americana está repleta de exemplos de apoio a ditaduras e de derrubada de democracias, questionando a narrativa de que o principal objetivo dos Estados Unidos é proteger a liberdade e a democracia.

John Mearsheimer
Você deve lembrar que, se você olhar o que está acontecendo na guerra convencional, parece que Putin vai vencer. Apesar do fato de termos aprovado este grande pacote de armas para a Ucrânia, é provável que Putin vença.

Piers Morgan
Por que isso não é uma coisa terrível para os Estados Unidos e o Ocidente?

John Mearsheimer
Porque você tem que priorizar as ameaças que enfrenta no mundo. E o fato é que o que acontece na Ucrânia não importa tanto para os Estados Unidos. Sei que para pessoas como você, isso é uma questão de vida ou morte. A ideia de que qualquer país no planeta que o Ocidente defenda perca é uma grande derrota e tem consequências catastróficas. Quero dizer, você sentiu isso ao sairmos do Afeganistão, mas acho que lugares como o Afeganistão, lugares como a Ucrânia, não importam.

Piers Morgan
Na verdade, sobre isso, eu não senti muito. Achei que, no caso do Afeganistão, os Estados Unidos deveriam ter mantido uma pequena presença militar lá para manter alguma ordem. E acho que fui justificado em dizer isso, dado o que aconteceu desde então. Achei que jogar o país de volta para o Talibã foi um erro catastrófico de julgamento. E isso não teria acontecido da maneira que aconteceu se os Estados Unidos mantivessem alguns milhares de soldados lá, como fazem em todo o mundo em inúmeras bases. Então, me pareceu que, tendo feito muitos anos de trabalho árduo no Afeganistão como resposta ao 11 de setembro, simplesmente tirar todos de lá da noite para o dia e deixar o país para o Talibã, especialmente para os direitos das mulheres, sem falar em qualquer outra coisa, foi uma abdicação do dever dos Estados Unidos e do Reino Unido.

Confira o diálogo:

John Mearsheimer
Certo, mas essa é a sua visão de mundo, que os Estados Unidos têm a responsabilidade de estar em todos os lugares.

Piers Morgan
Não em todos os lugares, mas eles certamente deveriam estar preservando a liberdade e a democracia. Caso contrário, por que se autodenominar líder do mundo livre? Ou você é líder do mundo livre, e os Estados Unidos ainda têm, acho que, metade do poder militar mundial e obviamente uma das maiores economias, ou você não é. E, se você é, o que vem com isso é a responsabilidade de proteger a liberdade e a democracia quando são atacadas por regimes totalitários. Eu pensaria.

John Mearsheimer
Acho que se você olhar para a história da política externa americana, é muito difícil argumentar que nosso objetivo principal tem sido proteger a liberdade e a democracia. Os Estados Unidos têm uma rica história de derrubar democracias ao redor do mundo e temos uma rica história de apoiar alguns dos maiores ditadores do mundo. Então, essa ideia de que estamos lá fora protegendo a liberdade e a democracia, e que esse é nosso objetivo principal, na minha opinião, não condiz com a realidade.

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Redação:
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