Segundo a revista Veja, Lula está apostando no prefeito Eduardo Paes (PSD) para reconquistar apoio eleitoral no Rio de Janeiro. O estado, que chegou a dar quase 80% dos votos ao presidente nas eleições de 2006, inclinou-se para a direita nas duas últimas eleições, com Jair Bolsonaro conquistando a maioria dos votos. Mesmo sem poder concorrer a nenhum cargo público, o ex-presidente demonstrou sua influência em abril, reunindo cerca de 30 mil pessoas na Praia de Copacabana em seu apoio.
Nenhuma outra cidade recebeu tanta atenção de Lula quanto o Rio. De fevereiro a abril, ele visitou a capital fluminense seis vezes para participar de inaugurações de obras e anunciar novos investimentos. Paes também esteve em Brasília para negociar a cessão de terrenos federais para a prefeitura. “O povo do Rio precisa entender que o presidente Lula é apaixonado por esta cidade”, afirmou Paes ao inaugurar, ao lado do petista, o Terminal Intermodal Gentileza, um dos marcos de sua administração.
A relação entre os dois se estreitou ainda mais depois que o governo federal atendeu a uma antiga demanda do prefeito. Desde fevereiro de 2023, Paes cobrava retorno por ter apoiado Lula no segundo turno da eleição presidencial, mostrando descontentamento com o fato de não ter influência na nomeação do coordenador de seis hospitais federais. No mês passado, Lula cedeu, e o cargo passou das mãos de sindicalistas nomeados pela ministra Nísia Trindade para Teresa Vannucci, que era subsecretária de Saúde da prefeitura e pessoa de confiança do secretário Daniel Soranz. A decisão também ajudou a acalmar tensões dentro do próprio PT sobre as unidades de saúde, que têm um orçamento de 860 milhões de reais previsto para 2024.
Os dois líderes se comunicam semanalmente por telefone e frequentemente trocam informações por meio de intermediários. Oficialmente, alegam tratar apenas de questões de interesse público. Nos bastidores, entretanto, ficou acordado que o apoio de Lula a Paes visa às eleições de 2026, quando Lula tentará a reeleição, enquanto Paes poderá disputar o governo do estado, caso vença a eleição municipal deste ano. “Não há como derrotar Bolsonaro em seu reduto com uma candidatura restrita”, diz Washington Quaquá, vice-presidente nacional do PT. “A aliança com Paes é essencial para ampliar nosso leque de alianças.”
Elevado à condição de aliado estratégico, Paes está conseguindo cada vez mais recursos do orçamento federal. Em agosto do ano passado, obteve 1,8 bilhão de reais para revitalizar o sistema de corredores de ônibus BRT, principalmente na Zona Oeste, a região mais populosa da cidade. Também recebeu a garantia de que a maior parte dos 342,6 bilhões de reais destinados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) iria para os cofres da cidade, para a construção de novos conjuntos habitacionais, escolas e institutos federais.
Na tentativa de expandir a base de apoio em áreas bolsonaristas, como a Baixada Fluminense e municípios como Japeri, Paracambi, Maricá e Itaboraí, o governo federal tem buscado novas estratégias. “A construção de uma frente ampla para 2026, que deu certo nas últimas eleições, passa pela disputa municipal, principalmente nas grandes cidades onde a rejeição ao PT é maior”, diz o cientista político Felipe Nunes, do instituto de pesquisa Quaest. Ciente de seu próprio poder, Paes está valorizando seu apoio. Lula, por sua vez, está atento a cada movimento, em uma jogada cuidadosamente planejada.
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!