O governo do presidente Joe Biden anunciou nesta terça-feira, 14, novas tarifas sobre produtos chineses em setores estratégicos, incluindo carros elétricos e painéis solares, para conter uma possível “inundação” de produtos baratos da China no mercado dos Estados Unidos.
A partir de agora, veículos chineses serão taxados em 100% ao entrarem nos EUA, uma taxa quatro vezes maior que a anterior de 25%.
De acordo com reportagem do Valor, o governo justificou a medida como uma forma de compensar “as práticas e subsídios injustos da China” e nivelar o mercado para fabricantes e trabalhadores automotivos americanos, afirmou Lael Brainard, conselheira econômica nacional de Biden, em coletiva.
“A China é grande demais para jogar pelas suas próprias regras”, disse Brainard.
“A China está usando a mesma tática que usou antes para impulsionar seu próprio crescimento às custas de outros países ao continuar investindo em infraestrutura, apesar do excesso de capacidade de produção local, e inundando os mercados globais com exportações baratas devido a práticas injustas.”
As novas tarifas sobre células solares e semicondutores da China dobrarão para 50%, enquanto a taxa sobre a importação de certos tipos de aço e alumínio aumentará para 25%, mais que triplicando o nível atual.
Prazos de implementação e justificativa
Os aumentos entrarão em vigor ainda este ano para veículos elétricos, aço, alumínio, e células solares, e no próximo ano para chips. Brainard afirmou que as tarifas visam garantir que os novos empregos criados pelas medidas de incentivo de Biden não sejam “prejudicados” por uma enxurrada de exportações chinesas baratas.
Resposta da China
O Ministério do Comércio da China criticou a decisão de Washington.
“A politização de questões econômicas e comerciais pelos EUA são exemplos típicos de manobras políticas. A China expressa fortemente sua insatisfação. Isso afetará seriamente as relações bilaterais. Os EUA devem corrigir imediatamente suas práticas erradas e cancelar as medidas tarifárias impostas à China. A China tomará medidas resolutas para defender seus próprios direitos e interesses”, declarou um porta-voz do ministério.
Contexto político e econômico
A medida ocorre enquanto o governo Biden busca impulsionar o setor de energia limpa dos EUA e proteger os empregos americanos antes das eleições presidenciais.
Owen Tedford, analista sênior de pesquisa da Beacon Policy Advisors, disse que as tarifas são uma medida política de Biden e que o momento do anúncio pode ser explicado pela eleição presidencial em novembro.
“Semelhante às objeções de Biden à venda da U.S. Steel para a Nippon Steel, o anúncio continua a tendência de buscar políticas comerciais voltadas para o Cinturão da Ferrugem”, disse ele, especialmente nos estados pêndulo de Michigan, Wisconsin e Pensilvânia.
Impacto no mercado
Atualmente, poucos veículos elétricos chineses estão sendo importados para os EUA, então o aumento das tarifas não deverá mudar significativamente o mercado americano.
Nenhuma grande fabricante chinesa, como BYD, NIO e Li Auto, vende modelos no mercado americano.
A única marca chinesa com parceria nos EUA é a Polestar, uma colaboração entre a Geely da China e a marca sueca Volvo. Os carros da Polestar são fabricados na China, mas a empresa afirmou que sua fábrica na Carolina do Sul começará a produção no meio de 2024.
Reações e comentários
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, criticou ontem as tarifas do governo dos EUA e o “alvoroço” em torno da questão do “excesso de capacidade”.
“Isso é auto-derrotista. Vai contra o consenso alcançado em São Francisco sobre uma resposta climática conjunta e, mais importante, prejudicará a transição econômica verde mundial e a ação climática”, disse Wang durante coletiva de imprensa em Pequim.
O mercado de veículos elétricos atualmente vive uma guerra de preços após grandes subsídios do governo estimularem a superprodução.
Com empresas como BYD, Geely, Great Wall Motor e até mesmo players estrangeiros como a Tesla reduzindo os preços na China, há preocupação nos mercados internacionais de que os fabricantes de elétricos chineses buscarão exportar como forma de lidar com a superprodução.
Algumas fabricantes chinesas de veículos elétricos, como NIO e Zeekr da Geely, que abriram capital nos EUA na semana passada, buscam entrar no mercado americano.
A BYD afirmou em fevereiro que planeja construir uma fábrica no México para atender aos mercados locais. O governo dos EUA tem pressionado o governo mexicano a negar incentivos aos fabricantes chineses de veículos elétricos, segundo a Reuters.
“Estamos monitorando de perto as tentativas de empresas chinesas de evitar nossas medidas de aplicação comercial fora da China”, disse Brainard durante a coletiva de imprensa.