Os pessimistas terão que redobrar seus esforços, porque os números do comércio exterior do Brasil mostram um desempenho impressionante.
O Brasil exportou US$ 345,58 bilhões nos 12 meses encerrados em abril, batendo um novo recorde, e importou US$ 242,51 bilhões no mesmo período.
Os dados são do Comexstat, o banco de dados online do Ministério da Indústria e Comércio.
Com isso, o saldo comercial do país atingiu US$ 103 bilhões, um aumento sensacional de quase 60% sobre o ano anterior, e constituindo um novo recorde histórico para o país.
Na verdade é mais que um recorde: com esses números, o Brasil ascende para um outro patamar no comércio internacional.
O sucesso do comércio exterior brasileiro se escora principalmente na relação com os países do Sul Global, com os quais tivemos um saldo de US$ 105 bilhões nos últimos 12 meses (até abril último).
Já o comércio brasileiro com o Norte Global registrou um déficit de 2 bilhões de dólares no acumulado de 12 meses até abril, o que é um resultado bem melhor, a propósito, do que o obtido no ano anterior, quando tivemos um saldo negativo de 9 bilhões de dólares com os mesmos países.
O Norte Global engloba Estados Unidos, Canadá, Europa, Japão, Coréia do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Coréia do Sul, Islândia, e possivelmente alguns outros países pequenos que não fazem diferença. O Sul Global é todo o resto do mundo: América do Sul e Central, México, a maior parte da Ásia, África e Oriente Médio.
Outro mercado que está fazendo a diferença é a África. As exportações brasileiras para o continente negro alcançaram 14 bilhões de dólares nos últimos 12 meses, um recorde histórico.
Importante destacar que o Brasil obteve superávit comercial com os Estados Unidos pela primeira vez em 17 anos, de 1,5 bilhão de dólares.
Considerando apenas os quatros primeiros meses do ano, o Brasil exportou o equivalente a 12,72 bilhões de dólares para os EUA, o que representa um aumento de 17% em 1 ano, de 54% em 10 anos, e de 143% em 20 anos!
No acumulado de 12 meses até abril, o Brasil exportou US$ 38,81 bilhões para os EUA, igualmente um recorde histórico.
Os principais produtos brasileiros vendidos aos EUA, de janeiro a abril deste ano, foram, por ordem de importância: metais básicos (produtos de ferro industrializados), petróleo bruto, produtos alimentícios, máquinas e equipamentos, produtos químicos e produtos agrícolas in natura.
Parodiando um escritor norte-americano, os boatos de que as relações do Brasil com os Estados Unidos teriam se deteriorado, por razões geopolíticas, parecem um pouco exagerados.
Quando examinamos os saldos comerciais do Brasil com os diferentes blocos econômicos, a primeira coisa que chama atenção é a importância dos países pertencentes ao chamado Sul Global.
Apenas a África, por exemplo, proporcionou um saldo comercial com o Brasil de US$ 7 bilhões, contra um saldo de apenas 1,5 bilhão com os EUA e um déficit de 6,8 bilhões com a Europa.
Ou seja, os recursos necessários para manter nossas reservas internacionais em alta estão vindo integralmente do Sul Global.
Por curiosidade, calculei os saldos comerciais do Brasil com dois países importantes do oriente médio: Israel e Irã.
Com Israel, nunca tivemos um saldo comercial positivo, ao passo que o Irã é um dos nossos principais parceiros no oriente médio.
Na média dos últimos dois anos, exportamos US$ 3,5 bilhões para o Irã, três vezes mais do que exportamos, no mesmo período, para Israel.
Nosso saldo comercial com o Irã oscilou entre 3 e 4 bilhões de dólares nesse período.
Conclusão
Os números pujantes do comércio exterior do Brasil mostram que o país está se tornando um verdadeiro colosso no mercado global. Somos um dos maiores exportadores mundiais de alimentos, tanto in natura quanto já industrializados. Mas também estamos beliscando fatias crescentes de setores mais complexos, como o de veículos, máquinas, aviões e geradores de energia.
O motor do nosso crescimento é mesmo o Sul Global, o que é promissor, pois os últimos relatórios do FMI e do Banco Mundial apontam a África, por exemplo, como a região que experimentará as maiores taxas de crescimento. Isso nos beneficiará diretamente.
Além disso, o crescimento da população mundial, juntamente com a entrada no mercado de consumo das grandes massas africanas e asiáticas, ajudaram a estabilizar o universo das commodities. Não há mais previsão, ao menos no futuro próximo, de grandes quedas nos preços do petróleo ou dos alimentos. Na verdade, se dá o contrário. Há uma tendência de valorização das commodites, em função da insegurança climática, que tem dificultado a expansão das safras agrícolas.
PS: O gráfico abaixo ilustra bem a mudança profunda nas relações comerciais do Brasil. A participação da Ásia como destino das exportações brasileiras consolidou-se num patamar altíssimo. O continente vem comprando quase 50% de tudo que exportamos, ao passo que a Europa, que respondia por mais de 30% de nossas exportações, hoje tem uma participação inferior a 20%, e caindo. A América do Sul, que passa por dificuldades econômicas (sobretudo nosso principal parceiro, a Argentina), também reduziu sua importância em nosso comércio exterior, e hoje responde por um pouco mais de 10%, o mesmo percentual dos Estados Unidos.