Sem muito alarde, a economia brasileira vem se reindustrializando. Está recomeçando lá de baixo, pelas cadeias menos complexas, com destaque para o setor de alimentação, que já responde por quase 40% das exportações brasileiras de produtos industrializados.
Já fiz duas reportagens sobre o tema, com base em dados atualizados do IBGE:
- Algumas boas notícias que vem da indústria, de 07 de abril de 2024.
- Produção industrial brasileira mantém ritmo de forte crescimento em março, de 3 de maio de 2024.
Examinando os últimos números do comércio exterior do Brasil, descubro que eles revelam uma “revolução silenciosa” da indústria nacional. A expressão está entre aspas, porque se trata naturalmente de uma figura de linguagem, um exagero inocente, já que os produtos industrializados em questão ainda são muito simples. E se uma tonelada de açucar refinado, carne congelada ou barras de ferro é bem mais barata do que o mesmo peso em semicondutores, esses produtos tem a vantagem de ter um mercado, sob vários aspectos, infinitamente mais estável. A começar, estão sempre livre das malditas “sanções” do Norte Global e não competem com as poderosas fábricas chinesas automatizadas por inteligência artificial.
O fato é que as exportações brasileiras de produtos manufaturados vem experimentando, há vários anos, um crescimento contínuo, vigoroso, e registraram um importante salto a partir de 2021.
Os números são impressionantes.
Nos últimos 12 meses (até abril), as exportações de produtos brasileiros industrializados totalizaram US$ 179 bilhões, ou que corresponderia, ao câmbio de hoje (que está R$ 5,15), a R$ 921,5 bilhões, um crescimento de 305% desde 1998!
A indústria de alimentação reúne os manufaturados brasileiros mais bem sucedidos lá fora, e só ela foi responsável por gerar US$ 65,7 bilhões nos últimos 12 meses, um aumento de 57% em 10 anos e de 269% em 15 anos!
Mas outras categorias também tiveram bom desempenho. Nos últimos 12 meses, por exemplo, o Brasil exportou US$ 11,5 bilhões em máquinas e equipamentos, um crescimento de 81% em 15 anos.
O item “equipamentos de engenharia civil”, para dar outro exemplo, registrou a exportação equivalente a US$ 3,48 bilhões nos últimos 12 meses, um crescimento de 406% em 20 anos!
Individualmente, os itens industriais mais vendidos pelo país, com geração acima de US$ 5 bilhões em 12 meses, são todos derivados do agronegócio. O que faz sentido, pois é o agronegócio que reúne a maior quantidade de capital e poupança. Nada mais natural que tenha um papel estratégico e determinante no processo de industrialização do país.
Em primeiro lugar vem o açúcar refinado, cuja exportação gerou incríveis US$ 18,7 bilhões nos últimos 12 meses, um crescimento de 73% em 10 anos e de quase 700% em 20 anos!
Em segundo lugar, vem ração animal (farelos e farinhas de soja e de carne), cuja exportação totalizou US$ 12,2 bilhões no acumulado de 12 meses até abril último, um crescimento de 316% em 20 anos.
Depois temos derivados de petróleo, que também começam a fazer a diferença na balança comercial. O Brasil exportou US$ 12,15 bilhões em derivados nos últimos 12 meses, aumento de 723% em 20 anos!
Os lugares seguintes no ranking dos principais produtos brasileiros exportados foram ocupados por carnes, celulose, produtos de ferro, equipamentos de engenharia, elementos químicos e máquinas agrícolas.
A transformação econômica vivida pelo Brasil desde o final dos anos 90 foi espantosa. No geral, as exportações brasileiras avançaram 538% de 1998 a 2024!
A participação relativa do agronegócio e da mineração, na economia, foi puxada para cima pelo avanço absolutamente sensacional desses dois setores. As exportações agropecuárias subiram 1.342% nesse período, e as da indústria extrativa, 2.329%! Mas as exportações da indústria de transformação também cresceram muito de 1998 a 2024.
Uma vantagem notória do universo de produtos industrializados é a maior diversidade dos mercados compradores. Enquanto os produtos agropecuários “in natura” concentram-se em poucos destinos, sobretudo China, os industrializados, incluindo alimentos, vão para o mundo inteiro, de maneira bem mais equilibrada. A China compra apenas 9% dos produtos industrializados brasileiros, por exemplo, contra 17% dos EUA e 6% da Argentina.