Por Roberto Monteiro e Márcio Ayer
A eleição do presidente Lula em 2022 foi um momento de defesa dos valores democráticos e dos direitos civis e sociais. Uma vitória conquistada por uma ampla frente, que contou com o apoio das forças progressistas, camadas populares, do empresariado consequente, de parte da imprensa, da intelectualidade e da área da cultura.
Com Bolsonaro, foram quatro anos de um tratamento desastroso com o bem público, de privatização da Eletrobrás e da BR Distribuidora, da negligência e irresponsabilidade no enfrentamento da pandemia, da ameaça à liberdade de imprensa, do sucateamento das universidades e institutos federais, dos cortes sociais e orçamentários nas áreas de saúde, educação, cultura, ciência e tecnologia.
Não precisamos nos alongar em dizer que derrotamos um governo autoritário, reacionário e ultraliberal, que flertou o tempo inteiro com grupos criminosos inspirados no fascismo e, no apagar das luzes, ainda tentou um golpe de Estado.
A vitória de Lula representou a esperança de reconstrução das nossas vidas e do reencontro de um país consigo mesmo. O governo retomou a valorização do salário mínimo, vem diminuindo o desemprego e gerando renda, realizando mais investimentos e fortalecendo a indústria e na melhora da vida de quem mais precisa.
No entanto, a mesma eleição determinou um Congresso Nacional majoritariamente conservador e elegeu governadores de direita e extrema-direita em diversos Estados.
Para piorar, o Governo Federal está de mãos atadas com relação às políticas macroeconômicas, pois além de enfrentar um Banco Central ortodoxo, autônomo em relação aos anseios populares e ‘parceiro da Faria Lima’, mantém o Brasil com uma das maiores taxas de juros do mundo.
O orçamento federal está submetido ao “teto de gastos”, impedindo o governo de corrigir inúmeros problemas que se acumularam desde 2016, como o investimento em infraestrutura, o reaparelhamento de escolas, hospitais e universidades e a defasagem salarial dos servidores públicos.
Polarização política
Diversas pesquisas de opinião têm revelado que a polarização política continua muito acentuada. As forças de extrema-direita continuam coesas e, nem mesmo com a inelegibilidade e os inúmeros escândalos envolvendo o ex-presidente, tem sido capaz de romper a radicalização bolsonarista na sociedade. Amplos setores se posicionam contra bandeiras progressistas que defendem os trabalhadores, as mulheres, negros e a população LGBTQIAPN+, além de se posicionarem contra a restrição da venda de armas e políticas de segurança alternativas a letalidade policial. O desafio se torna maior quando sabemos que a extrema-direita brasileira se une à internacional fascista capitaneada por Donald Trump e Elon Musk.
Eleições 2024
Nesse contexto desafiador, devemos analisar a última pesquisa de opinião Atlas/CNN sobre a percepção eleitoral carioca. O levantamento foi feito com 1.239 moradores, entre os dias 18 e 23 de abril. Os dados quantitativos evidenciaram o esperado: o bolsonarismo segue amplamente difundido em todos os perfis pesquisados.
O candidato dos grupos reacionários, até então um desconhecido do grande público, mas avalizado pela família Bolsonaro e por forças obscuras da cidade, mostrou um desempenho eleitoral, segundo a pesquisa, de 31,2% das intenções de voto.
As eleições municipais são um termômetro importantíssimo para a governabilidade de Lula. A vitória eleitoral da extrema-direita em capitais importantes, seja no executivo ou com a ampliação de vereadores bolsonaristas nas câmaras municipais, pode intensificar as pressões para inviabilizar o governo de frente democrática e abrir espaço para o retorno das forças derrotadas em 2022.
Por conta disso, cabe aos partidos de esquerda, movimentos populares, lideranças comunitárias, intelectuais, artistas e trabalhadores assegurar a estabilidade política do Brasil e impedir o retorno de grupos abertamente golpistas, violentos e corruptos. É preciso união e responsabilidade para continuarmos a avançar nos direitos políticos, econômicos e sociais. Se foi aqui o nascimento do bolsonarismo, será aqui o enfrentamento na sua raiz. Temos que construir uma trajetória confiável para o Rio. Como diria o grande samba da Mangueira: “na luta a gente se encontra!”
Roberto Monteiro – Advogado e ex-vereador do Rio (2007-2012)
Márcio Ayer – Presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro