BH3 foi descoberto quando os cientistas encontraram por acaso uma estrela na constelação de Áquila ‘balançando’ sob sua força gravitacional
Os astrônomos descobriram um enorme buraco negro que se formou após a explosão de uma estrela a apenas 2.000 anos-luz da Terra.
BH3 é o buraco negro estelar mais massivo já encontrado na Via Láctea e revelou-se aos investigadores através do poderoso puxão que exerce sobre uma estrela companheira que orbita o objeto na constelação de Áquila, a Águia.
A descoberta fortuita é tão importante que os cientistas divulgaram detalhes do objeto antes do planejado para permitir que outros astrônomos realizassem observações adicionais o mais rápido possível.
“É uma surpresa completa”, disse o Dr. Pasquale Panuzzo, astrônomo e membro da colaboração Gaia no Observatório de Paris. “É o buraco negro de origem estelar mais massivo da nossa galáxia e o segundo mais próximo descoberto até agora.”
Os buracos negros estelares se formam quando estrelas massivas entram em colapso no final de suas vidas. Dezenas foram encontradas na Via Láctea, a maioria pesando cerca de 10 vezes a massa do Sol.
O buraco negro mais impressionante da Via Láctea, Sagitário A, tem a massa combinada de vários milhões de sóis. Ele se esconde no coração da galáxia e não se formou a partir da explosão de uma estrela, mas do colapso de vastas nuvens de poeira e gás.
Os investigadores identificaram o BH3 no mais recente conjunto de dados recolhidos pela missão Gaia da Agência Espacial Europeia. O telescópio espacial foi lançado em 2013 com o objetivo de compilar um mapa 3D de um bilhão de estrelas.
Enquanto os investigadores revisavam as observações de Gaia, notaram uma oscilação distinta numa das estrelas de Áquila, uma constelação que é visível no céu de verão no hemisfério norte. O movimento sugeria que a estrela estava sendo puxada por um buraco negro 33 vezes mais massivo que o Sol.
Outras observações obtidas com o Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul, no deserto chileno do Atacama, confirmaram a massa de BH3 e a órbita da estrela, que circunda o buraco negro uma vez a cada 11,6 anos. “Apenas o buraco negro central da Via Láctea é mais massivo que este”, disse Panuzzo.
Embora BH3 seja mais massivo do que outros buracos negros estelares na Via Láctea, é semelhante a alguns daqueles revelados por ondas gravitacionais, ou ondulações no espaço-tempo, que são geradas quando buracos negros colidem em galáxias distantes.
“Só vimos buracos negros desta massa com ondas gravitacionais em galáxias distantes”, disse Panuzzo. “Isto estabelece a ligação entre os buracos negros estelares que vemos na nossa galáxia e as descobertas de ondas gravitacionais.” Os detalhes são publicados em Astronomy and Astrophysics.
Podem existir buracos negros estelares de 100 metros de comprimento na Via Láctea, mas apesar da sua vasta massa e das poderosas forças que geram, podem ser extremamente difíceis de detectar. “A maioria deles não tem uma estrela orbitando ao seu redor, então são quase invisíveis para nós”, disse Panuzzo.
As medições da estrela companheira de BH3 não encontraram nenhum sinal de que ela estivesse contaminada com material expelido pela explosão estelar que formou o buraco negro. A descoberta sugere que o buraco negro se formou muito antes de prender a estrela companheira no seu poderoso campo gravitacional.
A próxima parcela de dados de Gaia deverá ser divulgada no final de 2025, mas a importância da descoberta levou a equipa internacional a divulgar detalhes do BH3 mais cedo para que os astrônomos possam estudá-lo imediatamente.
“Assim que isso for divulgado, as pessoas correrão para observá-lo para ver se há alguma emissão do buraco negro”, disse Panuzzo. “Isso nos dirá sobre o vento que vem de estrelas como aquela que orbita o buraco negro, e também sobre a física do buraco negro e como a matéria cai nele.”
Publicado originalmente pelo The Guardian em 16/04/2024 – 08h00
Editor de Ian Sample Science
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