A escalada de crises protagonizada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), parece longe de chegar ao fim. Com menos de um ano no cargo, Lira demonstra que ainda pode agitar consideravelmente a política nacional.
Lira vende dificuldades para aumentar o custo de sua colaboração com o governo. Se não fosse Alexandre Padilha (PT), Ministro das Relações Institucionais (SRI), seria outra coisa. Por exemplo, quando o governo buscou nomear um gestor para a FUNAI, Lira se incomodou, pois o governo não queria um bolsonarista, vinculado à gestão anterior. Um absurdo.
A verdade é que Lira está entre a cruz e a espada, e essa controvérsia começou na discussão sobre as presidências das comissões permanentes da casa. Preocupado com a eleição de seu sucessor na liderança da casa, Lira decidiu garantir os apoios dos partidos do centrão, em detrimento do PL (oposição) e do PT (situação). Essa decisão levou a Câmara a ficar quase três meses sem as comissões permanentes, já que Lira optou por abandonar os acordos.
Os acordos entre base e oposição, firmados no ano passado, dariam ao PL a presidência das principais comissões em 2024, incluindo a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). No entanto, o PL não poderia indicar quadros ligados à extrema direita. Isso irritou o PL, que ameaçou abandonar Lira e lançar um candidato próprio, criando dificuldades para ele.
Nas últimas semanas, Lira começou a perceber que talvez não tivesse o apoio garantido do governo. Tentou isolá-lo, sem sucesso, e por pouco não acabou se isolando. O PL ameaça Lira com um candidato próprio.
Além disso, há uma articulação nos bastidores liderada por Gilberto Kassab, presidente do PSD, que busca um acordo com o MDB para disputar as presidências da Câmara e do Senado. Enquanto Lira atrai os holofotes para ele e seu sucessor, o deputado Elmar Nascimento (UNIÃO), o deputado Antonio Brito (PSD) constrói uma candidatura nos bastidores.
Fontes próximas a Lira sugerem que parte da base governista deve desembarcar às vésperas das eleições para a presidência da Câmara. Por isso, Lira aposta na direita e seus extremistas, que mal conseguem se articular no parlamento, mas que com Lira ao lado, tudo se torna possível.
Além disso, Marcos Pereira (REPUBLICANOS), que em sua festa de aniversário reuniu membros do governo e da base no Congresso, também está em cena.
Lira começa a dar sinais de desespero, evidenciados pelos frequentes comentários sobre seu “surto” com Alexandre Padilha. Ver Lira exasperado, chamando um ministro de incompetente e declarando-o seu inimigo pessoal, não é comum.
Ao que tudo indica, Lira percebeu que alguns veem o nome de Elmar Nascimento como supervalorizado.