Como comentei em outro artigo, a manutenção da prisão do deputado Domingos Brazão, acusado de duplo homicídio no caso Marielle, é uma vitória que o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha (PT), pode chamar de sua.
E isso explica muito do desespero de ontem do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP). No fim da tarde de ontem, por volta das 17 horas, já havia quem dissesse que Lira estava irritado com o então vindouro resultado da votação da prisão de Brazão no Plenário. Na articulação política do governo eram frequentes os comentários sobre a irritação do deputado.
Embora ele negue aos quatro cantos que estivesse envolvido nas articulações, o fato é que em nenhum momento ele desautorizou o seu pupilo, o deputado Elmar Nascimento (UNIÃO) a cessar as articulações que beneficiavam o deputado acusado pela Polícia Federal (PF).
Como eu disse em outro texto: “de um lado tínhamos o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e o ex-presidente da casa, Eduardo Cunha (PTB), e do outro, o governo com Padilha”.
Lira só consegue pensar na sua própria sucessão, está desesperado com isso. Longe das notas plantadas pelo centrão em grandes veículos de imprensa, Elmar Nascimento está longe de ser uma unanimidade e isso tira o sono do atual presidente da Câmara que teme estar fadado a maldição dos presidentes de casas legislativas: o ostracismo, algum sequer chegam a conseguir se reeleger.
Inclusive, essa fragilidade do nome do Elmar é algo que já apontei nesta coluna ainda em fevereiro (clique aqui para ver).
E é essa obsessão que faz com que Lira tente fazer de todo o possível para afastar a derrota de ontem, não pode e não quer demonstrar fraqueza. Ao mesmo tempo, na articulação política do governo a percepção é de que o último ataque dele contra Padilha é nada além do que jogo de cena. Durante uma feira agroindustrial na cidade de Londrina, no norte do Paraná nesta quinta-feira (11), Lira disse que o ministro-chefe do SRI é um “desafeto pessoal” e “incompetente”.
Circula no Congresso Nacional um boato de que Lira já teria planos para a pós-presidência. Segundo essas fontes, Lira estaria mirando a relatoria do orçamento do governo no ano que vem, uma maneira de se manter relevante.
Padilha está respaldado pelo próprio presidente Lula, que apesar de enfrentar inúmeros problemas dentro do próprio governo é considerado um dos ministros mais competentes do governo e um dos poucos que tenta jogar como um time e não de maneira isolada, como é com boa parte do ministeriado.
E é justamente esse respaldo que fez com que a sua resposta ao presidente da câmara foi um vídeo no twitter com uma declaração elogiosa do presidente sobre o seu trabalho no SRI. Lula inclusive, reafirmava que Padilha permaneceria no cargo por muito tempo.
Fontes próximas ao ministro confirmaram que Padilha usou o vídeo como maneira de responder Lira e deixar claro que ele não entrará numa confusão pública com o presidente da Câmara.
Do outro lado temos Lira que agora tenta vender mais dificuldades para cobrar ainda mais do governo, ao colocar Padilha como alguém “intragável”, Lira sobe ainda mais o preço para que permaneça “colaborativo” com o governo. Resta saber se o governo está disposto a pagar o preço e se realmente é mais fácil fazer isso do que uma necessária reforma ministerial.
É um jogo de ganha-ganha para Lira: se o governo decide pagar, ele demonstra força, se o governo decide demitir Padilha (o que é extremamente difícil de acontecer), ele também se fortalece.
Infelizmente Lira está tentando colocar o país todo de joelhos em prol da sua sucessão na presidência da Câmara, não é de hoje e nem acaba hoje.