Os EUA indicaram que Israel não o informou sobre o ataque de invasão de Rafah, apesar de Netanyahu dizer que ‘a data está marcada’
Os EUA indicaram que Israel o mantêm no escuro sobre a sua planejada invasão de Rafah, a cidade do sul da Faixa de Gaza, dizendo que não tinham sido informados sobre a ofensiva de Israel, apesar do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ter anunciado que uma data estava marcada.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse durante uma coletiva de imprensa que os EUA não foram informados sobre a data da invasão de Rafah por Israel.
“Deixamos claro a Israel que pensamos que uma invasão militar em grande escala de Rafah teria um efeito enormemente prejudicial sobre esses civis e que acabaria por prejudicar a segurança de Israel”, disse Miller, respondendo às observações de Netanyahu de que o “[assalto] vai acontecer”.
Os comentários de Netanyahu foram feitos depois que a Casa Branca disse que os negociadores apresentaram uma proposta ao Hamas após as negociações de cessar-fogo no Cairo no fim de semana.
A primeira parte do acordo prevê a libertação de 42 mulheres, crianças e idosos reféns pelo Hamas em troca de 800 a 900 prisioneiros palestinos, 100 dos quais cumprem prisão perpétua ou penas longas em prisões israelenses, informou a AFP, citando uma fonte do Hamas.
A segunda fase inclui a libertação de todos os prisioneiros israelitas, incluindo soldados e oficiais, em troca de vários prisioneiros palestinos, a ser acordado nos próximos dias, acrescentou a fonte.
Os EUA também apoiaram uma proposta para que até 150 mil palestinos deslocados à força regressem ao norte de Gaza. Garantir o regresso seguro dos refugiados palestinos do sul de Gaza para o norte tem sido uma exigência fundamental do Hamas, mas tem sido contestada por Israel.
As negociações ocorrem num momento crítico, com o presidente dos EUA, Joe Biden, apelando na semana passada, pela primeira vez, a um cessar-fogo imediato em Gaza, após três ataques israelitas que mataram sete trabalhadores humanitários da Cozinha Central Mundial.
Também ocorreram gradualmente mudanças no campo de batalha em Gaza. Israel anunciou que retirou a maior parte das suas tropas de Khan Younis, embora continuasse a atacar a área com ataques aéreos. Israel disse que a sua 98ª divisão de comandos estava se retirando “para recuperar e preparar-se para operações futuras”.
‘A América é responsável’
Israel disse que uma brigada continuaria a operar no sul de Gaza. Uma brigada tem normalmente alguns milhares de soldados, o que significa que Israel reduziu substancialmente os cerca de 50.000 soldados que operava em Gaza no auge da sua presença terrestre.
A redução ocorre num momento em que as tensões no Oriente Médio estão em alta. Na semana passada, Israel atacou a embaixada do Irã em Damasco, na Síria, matando Mohammad Reza Zahedi e Mohammad Hadi Haji Rahimi, ambos comandantes sêniores da Força Quds, o braço de operações estrangeiras do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica.
O Irã prometeu responder na mesma moeda aos ataques sem precedentes a um complexo diplomático. Na segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, disse aos jornalistas em Damasco que “a América é responsável por este incidente e deve ser responsabilizada”.
Autoridades em Washington tentaram distanciar os EUA do ataque. Miller disse que os EUA ainda estão trabalhando para determinar se o prédio da embaixada atacado por Israel era uma instalação consular iraniana.
Os postos diplomáticos são considerados território soberano e protegidos pelo direito internacional, mas podem perder essa proteção se forem utilizados como instalações militares. O Irã disse na segunda-feira que inaugurou um novo centro de serviços consulares em Damasco.
O monitor de guerra do Observatório Sírio para os Direitos Humanos disse que 16 pessoas foram mortas no ataque ao consulado: oito iranianos, cinco sírios, um membro do grupo Hezbollah do Líbano e dois civis.
É pouco provável que quaisquer justificações legais apresentadas por Washington acalmem Teerã, que enfrenta a dura escolha de perder a sua dissuasão contra Israel se não responder. Um conselheiro do líder supremo do Irã alertou no domingo que as embaixadas de Israel “não estavam mais seguras” após o ataque em Damasco.
Um acordo de reféns em Gaza poderia ajudar a acalmar as tensões à medida que se aproxima o feriado muçulmano que marca o fim do Ramadã, o Eid al-Fitr, mas ainda assim deixaria os EUA e Israel lidando com um plano para o dia seguinte para o enclave do Mediterrâneo.
Mais de 32 mil palestinos foram mortos em Gaza, enquanto os sobreviventes do ataque de Israel enfrentam a fome e a maior parte das infraestruturas foi reduzida a escombros.
Publicado originalmente pelo Middle East Eye em 08/04/2024
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