Venezuela critica posição do governo Lula como ‘cinzentas e intervencionistas’
Maduro reage com hostilidade a comentários do Itamaraty sobre as eleições, sugerindo influência dos EUA
O governo de Nicolás Maduro respondeu às críticas feitas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a respeito das condições eleitorais na Venezuela. Nesta terça-feira (26), o governo brasileiro expressou sua preocupação pela primeira vez quanto à proibição de candidaturas de oposição para as eleições de julho.
Numa virada de discurso entre as nações, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano classificou o comunicado do Itamaraty como “cinzento e intervencionista”, acusando-o de parecer redigido sob influência dos Estados Unidos. Contudo, não mencionou diretamente o presidente Lula, atribuindo as declarações a “funcionários da Chancelaria brasileira”.
“O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela repudia o comunicado cinzento e intervencionista redigido por funcionários da chancelaria brasileira, que parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, no qual são emitidos comentários carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”, foi divulgado pelo chanceler Yvan Gil.
“O governo venezuelano tem mantido uma conduta fiel aos princípios que regem a diplomacia e as relações amistosas com o Brasil, sendo que, em nenhuma hipótese, emite nem emitirá juízos de valor sobre os processos políticos e judiciais que ocorrem naquele país”, prosseguiu a declaração.
A Venezuela reiterou o princípio de não intervenção nos assuntos internos, declarando sua democracia como “uma das mais robustas da região”, apesar das recentes medidas contra a oposição e da crise econômica e humanitária persistente.
Recentemente, o governo inabilitou a principal opositora, María Corina Machado, deteve integrantes de sua equipe por conspiração e expulsou representantes de direitos humanos da ONU. Além disso, censurou o canal alemão Deutsche Welle após reportagens críticas ao governo.
Maduro acusou militantes do partido Vente Venezuela, de María Corina, de tentativa de ataque durante um comício chavista, alegação que a oposição nega.
“Chama atenção que a Chancelaria brasileira não esteja preocupada com as tentativas de magnicídio e desestabilização que foram desmanteladas nas últimas semanas, incluindo a tentativa de ontem, quando um extremista da organização Vente Venezuela foi preso com armas, disposto a atentar contra a vida do presidente durante a impressionante manifestação que o acompanhou no momento da sua inscrição como candidato”, disse o regime em declaração.
O Ministério Público venezuelano, alinhado a Maduro, prepara acusações de terrorismo e tentativa de assassinato contra os detidos. Nos últimos dias, sete líderes do Vente Venezuela foram presos, com mandados de captura emitidos para outros.
No entanto, a Venezuela agradeceu as “expressões de solidariedade do presidente Lula da Silva, que condenam direta e inequivocamente o bloqueio criminosos e as sanções que o governo dos Estados Unidos impôs ilegalmente, com o objetivo de produzir dano ao nosso povo”.
Esse comunicado faz parte de uma série de respostas da Venezuela a críticas internacionais ao processo eleitoral, com o ministro Yvan Gil apontando também para a União Europeia e a Colômbia, citando a influência americana.
A tentativa da oposição de inscrever Corina Yoris foi bloqueada, destacando a tensão pré-eleitoral. Com a exclusão de María Corina Machado, Manuel Rosales surge como o principal adversário de Maduro, sendo inscrito pouco antes do prazo final para candidaturas. Rosales é uma figura estabelecida na política venezuelana, atual governador do estado petrolífero de Zulia e ex-candidato presidencial contra Hugo Chávez em 2006.