Dificilmente um romancista ou cineasta especializado em histórias policiais pensaria numa trama tão cheia de ação, violência, corrupção, suspense e reviravoltas como vemos no relatório final da Polícia Federal sobre os crimes contra Marielle Franco e Anderson Gomes.
É muita coisa interessante. O material todo vale como uma aula magna sobre corrupção policial no estado do Rio de Janeiro.
Na página 25, encontramos uma síntese de um dos aspectos mais emblemáticos de toda a história, que foi a participação direta do policial civil Rivaldo Barbosa, desde o planejamento até o acobertamento das investigações.
Leia isso:
“(…) a investigação dos homicídios de Marielle Franco e de Anderson Gomes foi, antes mesmo da prática do delito, talhada para ser natimorta, mediante ajuste prévio dos autores intelectuais com o então responsável pela apuração de todos os homicídios ocorridos no Rio de Janeiro. Além disso, coincidência ou não, o crime fora executado um dia após a posse de RIVALDO BARBOSA na função de Chefe de Polícia.”
Esse é o aspecto mais chocante do crime: os próprios órgãos de investigação estavam implicados.
Antes de ser indicado para a Chefia da Polícia Civil no estado do Rio, Rivaldo Barbosa havia sido consultado pelos mandantes do crime, e dado anuência para sua consecução, inclusive oferecendo uma orientação estratégica: de que não fosse executado dentro ou próximo das dependências da Câmara de Vereadores, para que não fosse caracterizado como crime político, o que o levaria a ser investigado pela Polícia Federal e, portanto, sairia das mãos de Rivaldo Barbosa.
Um ponto que precisa ser esclarecido: porque os generais Richard Nunes, então secretário de Segurança do estado do Rio, e Braga Netto, interventor federal no estado do Rio de Janeiro, contrariaram a recomendação de setores de inteligência da própria polícia civil, que era desaconselhavam a indicação de Rivaldo para a chefia da corporação? Ou pior, porque o nome de Rivaldo foi indicado pela inteligência do Comando Leste, que era justamente aquele liderado por Braga Netto? Incompetência ou cumplicidade com a milícia?
O relatório da PF também menciona o papel negativo, talvez cúmplice, do promotor de justiça Homero de Neves Freitas Filho, que era o representante do Ministério Público Estadual responsável em supervisionar as investigações conduzidas pela Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro.
Todos os indícios nos levam a concluir, portanto, que a resolução deste crime expõe as vísceras dos principais grupos milicianos em operação no Rio, que tinham presença, ou influência determinante, em todos os órgãos responsáveis pela segurança pública do estado.
Aqui a íntegra do Relatório da PF. Abaixo, os trechos mencionados acima, que constam na página 25 e 26 do referido documento.