Um dos vilões principais da inflação desse primeiro trimestre do ano, em virtude do aumento de mais de 30% dos preços finais ao consumidor, no acumulado em 12 meses (segundo o IBGE), o arroz promete dar uma trégua aos brasileiros nos próximos meses.
Os preços pagos aos produtores vem caindo há algumas semanas, e isso deve se refletir em breve nas gôndolas dos supermercados. Além disso, o governo federal já adotou algumas medidas, como ampliação de financiamentos e liberação de importação, que também devem ajudar na redução do preço de um dos produtos mais importantes para a cesta básica dos brasileiros.
Para este ano, a produção brasileira é estimada em 5,17% maior que a anterior, a 10,55 milhões de toneladas, de acordo com a Conab.
Somando esse volume aos estoques iniciais, de 1,78 milhão de toneladas, e à importação prevista para o ano, de 1,45 milhão de toneladas, a disponibilidade interna está estimada em 13,78 milhões de toneladas.
Para o consumo interno, a Companhia indica estabilidade (10,5 milhões de toneladas), enquanto as exportações (de janeiro/24 a dezembro/24) devem somar 1,5 milhão de toneladas. Com isso, os estoques de passagem em dezembro de 2024 devem ser de 1,78 milhão de toneladas.
Preços seguem em queda
Com presença mais ativa de compradores, especialmente do Sul e do Sudeste, a liquidez no mercado de arroz aumentou, com negócios sendo realizados para o mercado doméstico e também para exportação. Entretanto, com o avanço da colheita da temporada 2023/24 no Rio Grande do Sul (que soma 17% da área semeada, segundo dados do Irga), as cotações permanecem em queda. Entre 8 e 15 de março, o Indicador CEPEA/IRGA-RS caiu 2,18%, fechando a R$ 99,58/saca de 50 kg na sexta-feira, 15 – trata-se da nona semana consecutiva de baixa.
Apesar de os valores seguirem em queda no acumulado semanal, o Indicador CEPEA/IRGA-RS esboçou reação na última sexta-feira, o que não era verificado desde o dia 26 de fevereiro. O número de negociações entre as praças de destino e de origem afastadas aumentou, contribuindo para que o valor do produto posto na indústria reagisse. No geral, apesar de os preços apresentarem recuperação, segundo colaboradores, há dificuldade no acréscimo dos custos de transporte ao valor final.
Em termos de preços regionais, com desvalorizações superiores a 2% em sete dias estão a Zona Sul, Campanha, Fronteira Oeste e Depressão Central, com médias de R$ 102,00/sc de 50 kg, de R$ 97,81/sc, de R$ 97,07/sc e de R$ 97,77/sc no dia 15. Com variações negativas menores estão as Planícies Costeiras Externa (-1,62%) e Interna (0,95%), com valores de R$ 102,90/sc e de R$ 102,27/sc também na última sexta-feira.
Os valores dos demais rendimentos do produto em casca acompanhados pelo Cepea também caíram.
Segundo agentes de mercado, as negociações para exportação foram desestimuladas pelos valores oferecidos abaixo das condições de mercado interno. Entretanto, num comparativo com as cotações dos Estados Unidos, os atuais patamares de preços praticados no Brasil parecem ter certa proximidade e competitividade.
Em dólar, o Indicador CEPEA/IRGA-RS registrou média de US$ 20,09/sc de 50 kg de 8 a 15 de março, apenas 2% acima do valor negociado para o contrato Maio/24 na Bolsa de Chicago (de US$ 19,70/sc de 50 kg) no mesmo período.
IPCA – No varejo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo IBGE, registrou aumento de 0,83% em fevereiro de 2024, contra elevação de 0,42% no primeiro mês deste ano. Especificamente para o arroz, as altas foram de 3,69% em fevereiro e de 30,72% no acumulado dos últimos 12 meses.
Na última segunda-feira, 18, o Indicador CEPEA/IRGA-RS do arroz em casca (58% de grãos inteiros e pagamento à vista) fechou a R$ 99,38/sc de 50 kg, praticamente estável (-0,2%) em relação ao da última sexta-feira, 15. Em dólar, equivale a US$ 19,77. A pouca alteração no preço vem dos negócios pontuais captados na data. Do lado do produtor há restrição de oferta – vale ressaltar que alguns já reportam perdas em termos de produtividade neste início de colheita. Do lado da demanda, verifica-se um número ligeiramente maior de comercialização entre as praças de destino e de origem, fazendo com que o valor do produto posto na indústria reagisse.
Análise da Conab: viés de baixa nos preços e avanço positivo na colheita
Apesar da estimativa de manutenção do quadro ajustado de oferta e demanda nacional, perante uma ameaça expansão produtiva, manutenção do consumo e redução das exportações brasileiras, com a intensificação da colheita no Sul do país, nota-se um viés de baixa dos preços ao produtor. Cabe pontuar, entretanto, que as atuais cotações ao produtor, abaixo da paridade de importação do Paraguai, deverão resultar em arrefecimento do atual movimento de desvalorização.
Segundo o relatório da Conab Monitoramento Semanal das Condições das Lavouras: “Na última semana foram identificadas 17,1% das áreas de arroz colhidas. No RS, o tempo mais seco permitiu o avanço na colheita. As lavouras apresentam boa produtividade e excelente rendimento de grãos. Em SC, os dias de sol favoreceram o progresso da colheita. Na região Sul, a operação está mais atrasada devido à demora no plantio, além do replantio de algumas áreas. No TO, a colheita avança e registra-se melhoras nos rendimentos, comparado à colheita inicial. No MA, as lavouras que seguiram apresentam bom desenvolvimento. Em MT, a colheita começa a ganhar ritmo. Os rendimentos obtidos têm sido satisfatórios. No PA, a atividade da segunda safra de arroz irrigada apresentam ótimo desenvolvimento”.
Recuperação produtiva dos EUA e menor competitividade do grão brasileiro no mercado internacional deverá refletir em mais uma retração do volume exportado pelo país em 2024.
Com informações do site Planeta Arroz e da Conab.