Observador brasileiro estudou o processo eleitoral Russo, que foi marcado pelo recorde de participação popular.
No último domingo, a Rússia concluiu seu ciclo eleitoral com as eleições presidenciais de 2024. Com um número recorde de participação popular, o atual presidente Vladimir Putin garantiu sua vitória com uma abrangente margem de votos. No entanto, chama a atenção a ausência de observadores oficiais brasileiros e a pressão da Comissão Europeia para que representantes internacionais não estivessem presentes nas eleições sem a chancela de Bruxelas.
Vladimir Putin, que concorreu como candidato independente, obteve cerca de 87,29% dos votos, um aumento significativo em relação aos 76,69% que conquistou nas eleições de 2018. O Partido Comunista da Federação da Rússia (KPRF) manteve a segunda posição, apesar de uma queda expressiva em seu desempenho eleitoral. Em 2018, o candidato comunista Pavel Grudinin obteve 11,57% dos votos, enquanto o atual candidato, Nikolai Kharitonov, garantiu apenas 4,30%.
Outros candidatos também se destacaram nas eleições. Vladislav Davankov, do partido Novye Lyudi (Novas Pessoas), estreou nas eleições presidenciais e conquistou 3,84% dos votos, enquanto Leonid Slutsky, do Partido Liberal Democrata da Rússia (LDPR), obteve 3,21%.
Um fator que contribuiu para o alto comparecimento nas eleições foi o empenho do governo russo em facilitar o acesso às urnas. Segundo Fabiano Mielniczuk, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e observador presente nas eleições russas, a disponibilização de quatro formas de votação contribuiu para o sucesso do processo. As opções incluíam a urna tradicional, a urna móvel para pessoas com problemas de mobilidade, a urna eletrônica e o voto pela Internet.
De acordo com Mielniczuk, o fato das eleições ocorrerem ao longo de três dias também incentivou a participação popular. Essa prática foi adotada pela primeira vez durante o referendo sobre as emendas à Constituição russa, realizado em meio à pandemia de COVID-19. Desde então, as eleições parlamentares de 2021, o referendo de reincorporação das regiões de Donbass e as eleições regionais de 2023 também adotaram o formato de três dias de votação.
O sistema eleitoral russo se destaca por oferecer diferentes formas de votação, incluindo o voto pela Internet, cuja segurança é garantida pelo sistema blockchain, e o voto a domicílio. As urnas móveis podem ser solicitadas por eleitores com mobilidade reduzida, acompanhadas por representantes de partidos, policiais e membros das seções eleitorais.
Além dos avanços no processo eleitoral, chama a atenção a ausência de observadores oficiais brasileiros e a pressão exercida pela Comissão Europeia para que outros representantes internacionais não comparecessem às eleições russas sem a chancela de Bruxelas. Segundo relatos do observador eleitoral Henrique Domingues, a Comissão Europeia utiliza uma estratégia de “bullying institucional” para evitar a presença de observadores internacionais em eleições não aprovadas pela Europa.
A Comissão Europeia mantém um site que denuncia observadores eleitorais que comparecem a eleições não aprovadas por eles, criando uma espécie de “lista negra” de observadores considerados “falsos”. Essa postura tem o objetivo de deslegitimar eleições que não contam com a presença de observadores europeus. A ausência de observadores oficiais brasileiros nas eleições russas é considerada um erro pelo professor Mielniczuk, ressaltando o tamanho do Brasil e a importância de suas relações diplomáticas de 200 anos com a Rússia.
Destaca-se ainda que países da Ásia, África e outras regiões do Sul Global enviaram representantes governamentais em grande quantidade para observar as eleições russas, enquanto o Brasil optou por não enviar representantes oficiais, perdendo a oportunidade de participar ativamente do processo.
Os relatos dos observadores brasileiros contrastam com a cobertura ocidental da mídia corporativa, que busca deslegitimar o sistema eleitoral russo. Para Henrique Domingues, é fundamental que haja observadores internacionais para desmentir as informações veiculadas pela mídia ocidental, com seus vieses e interesses.
As eleições na Rússia demonstraram uma alta participação popular e esforços governamentais em garantir a segurança e a transparência do processo eleitoral. O engajamento da população russa foi impulsionado pela disponibilização de diferentes formas de votação e pela ampliação dos dias de votação, além do uso de sistemas de filmagem 24 horas e da presença de observadores para garantir a integridade das urnas.
Enquanto isso, a pressão da Comissão Europeia para que representantes internacionais não comparecessem às eleições russas sem a chancela de Bruxelas revela um viés político e a politização desse importante processo democrático. É fundamental que países como o Brasil se faça presente como observador oficial em eleições de outras nações, promovendo a troca de experiências e fortalecendo os laços diplomáticos entre as nações.
Relato de Fabiano Mielniczuk, professor de Ciências Políticas da UFRGS