Reportagem de Gilberto Nascimento, publicada hoje, 19 de março, no site Intercept Brasil, revela que a Igreja Universal do Reino de Deus manifestou apoio ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Em uma guinada inesperada, a instituição religiosa, conhecida por sua retórica antiesquerdista no Brasil, defendeu o fim das sanções e do bloqueio econômico impostos ao país sul-americano.
Fontes que conhecem a atuação da Universal disseram ao Intercept que o interesse da igreja está na obtenção de uma concessão de TV venezuelana, uma negociação que Maduro teria acenado favoravelmente. No dia 6 de março, um evento com a presença de Maduro e sua esposa, Cilia Flores, reuniu pastores de diversas regiões da Venezuela. A divulgação do governo afirmou que cerca de 17 mil religiosos participaram.
Durante o encontro, o bispo Ronaldo Santos, da Universal, destacou-se ao abraçar Maduro e orar publicamente pela queda das sanções internacionais sobre a Venezuela. “Meu Deus, podemos ter sanções, bloqueios, de todas as partes do mundo, mas não do céu. O céu está aberto sobre esta nação, sobre este país”, proclamou Santos, suplicando a Deus: “derruba os bloqueios, as sanções, todo o meu Deus que tem impedido este país de se manter à tona, de avançar”.
Sob a liderança de Hugo Chávez, antecessor de Maduro, a Universal enfrentou resistências, incluindo a expropriação de um terreno destinado à construção de uma catedral. No entanto, agora Maduro parece interessado em estreitar laços com os evangélicos, oferecendo benefícios fiscais e outras vantagens como o programa “Minha Igreja Bem Equipada” e a instauração do “Dia do Pastor”.
O Intercept questionou a Universal sobre esta colaboração. A resposta da igreja foi que cada ramificação nacional opera de maneira autônoma, respeitando leis e costumes locais. O Intercept tentou, sem sucesso, obter uma declaração da Universal na Venezuela.
Os pentecostais, que constituem uma parcela significativa da população venezuelana, parecem agora alinhados ao governo Maduro, diferentemente dos batistas e da Igreja Católica, que o opõem. O chavismo também criou o Mocev (Movimento Cristão Evangélico pela Venezuela) em 2019, coordenado por Moisés Garcia, pastor e deputado pelo partido governista Psuv.
Ronaldo Didini, ex-pastor da Universal e antigo aliado de Edir Macedo, explicou que a igreja almeja ser beneficiada com concessões de TV, como ocorreu em Angola e Moçambique. Maduro ordenou a criação de uma comissão técnica para facilitar o acesso cristão à radiodifusão na Venezuela.
Contrastando com a posição adotada no Brasil, onde a Universal tem sido uma crítica ferrenha do esquerdismo, a aproximação com Maduro foi mal recebida por alguns segmentos evangélicos no Brasil. Ex-membros da Universal e da Assembleia de Deus expressaram repúdio, acusando a Universal de se aliar a qualquer um para manter seu poder e crescimento.
A reportagem destaca que, em janeiro de 2022, o bispo Renato Cardoso, genro de Edir Macedo, publicou um texto onde afirmava ser impossível ser cristão e de esquerda, criticando duramente regimes de países como China e Coreia do Norte. Porém, Cardoso não mencionou a Venezuela nesse contexto.
Após apoiar Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 e 2022, a Igreja Universal e seu braço político, o partido Republicanos, alinham-se agora à base do governo Lula. As revelações da reportagem do Intercept Brasil sugerem uma flexibilidade ideológica da Universal, que adapta seu apoio político conforme as circunstâncias e oportunidades.
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