A nova vitória de Putin mantém e acentua as posições já tomadas pela Rússia nas últimas décadas.
Tanto em termos de política externa como interna, e em termos econômicos, a Rússia parece caminhar cada vez mais para a consolidação de suas posições e opções, enquanto mantém uma unidade e estabilidade sociais de dar inveja a qualquer líder ocidental.
Se você espera ver aqui mais um eco da mídia hegemônica ocidental, veio ao lugar errado, mas pode ficar tranquilo que serei indolor, e nem dará tempo de se espernear.
Não vou falar que a Rússia é uma ditadura, nem sequer falarei que a Rússia é uma “democracia destruída” comandada por “oligarcas” e um ditador caprichoso, porque falar isso pode dar a entender que a monarquia britânica, por exemplo, com seu parlamento dependente da Casa dos Lords e da Coroa, seria uma democracia incrível, exemplar; o que seria uma mentira. Acusar a Rússia de ser uma democracia falida pode dar a entender que o sistema eleitoral mais antiquado do mundo, o estadosunidense, é a pérola da “liberdade democrática ocidental”.
Assim como chamar Putin de líder extremista da direita conservadora, que dá suporte aos “nazistas do Wagner Group”, pode dar a impressão que não existe um partido nazista regulamentado, aberto e público nos EUA. Também poderia dar a impressão que a Europa ocidental não abriga maioria esmagadora dos grupos supremacistas fora da América, enquanto na Rússia estes grupos são proibidos, e jamais se esquecem de comemorar a derrota dos nazistas em grande estilo.
Sabe, fazer esse tipo de acusação pode dar muita impressão errada e fazer parecer que a OTAN não está ameaçando e se aproximando da Rússia a cada década mais, usando toda a força e know-how de Guerra Híbrida para minar a economia russa, as relações externas, e a confiança da população em sua nação, pátria e líderes. E agora com botas em solo, camufladas mas em solo.
Dito o óbvio e desenhado que o mundo em que vivemos não é preto-no-branco mas sim 50 tons de cinza, agora podemos fazer uma primeira e rápida análise da mais recente eleição na Rússia, eleição que entrará para a história por tornar Putin um dos líderes russos mais longevos da história.
O triunfo do presidente Vladimir Putin nas eleições russas deste domingo tem consequências significativas para o país e para a ordem internacional. Especialistas em Relações Internacionais destacam que essa vitória consolida o poder da Rússia no mundo e representa um passo em direção à multipolaridade global. Além disso, abre caminho para uma possível modificação das instituições internacionais, que historicamente estiveram a serviço dos países ocidentais.
Com cerca de 90 milhões de votos a seu favor, Putin obteve um apoio massivo dos cidadãos russos. Isso reflete o interesse e o envolvimento da sociedade russa no processo eleitoral. O presidente conta agora com um apoio ainda mais sólido, permitindo-lhe tomar decisões mais ousadas, sabendo que tem o respaldo de seu povo. Essa confiança renovada na liderança de Putin é um reflexo do trabalho do governo em defesa dos interesses nacionais da Rússia e na projeção do país no cenário global. Não tem como ser outra coisa que a não a confirmação do caminho russo.
Uma das razões para o amplo apoio eleitoral se relaciona com a maneira como o governo russo enfrentou as sanções ocidentais decorrentes da crise ucraniana. A população russa percebeu que o país poderia resistir às dificuldades impostas pelas sanções, o que fortaleceu a posição do governo de Putin. Esses eventos reforçaram a percepção de que a Rússia é um Estado forte, que age com base em seus interesses nacionais e se projeta como tal.
A professora Imelda Ibáñez, especialista em História Diplomática da Rússia, ressalta que o apoio a Putin também está relacionado à transformação política interna e externa que ocorreu nos últimos anos. Desde sua chegada ao poder em 2000, Putin trabalhou para reconfigurar a estrutura política e econômica do país, combatendo a desigualdade e defendendo os interesses da população. Essa conscientização da sociedade russa sobre as mudanças promovidas pelo presidente justifica o apoio popular.
A vitória expressiva de Putin nas eleições também tem implicações internacionais significativas. O professor Carlos Manuel López Alvarado afirma que esse resultado consolida o poder da Rússia no cenário global, ao mesmo tempo em que contribui para o enfraquecimento do Ocidente. Diante de um Ocidente debilitado, é o momento propício para que um grupo de países liderados pela Rússia e China comece a modificar as instituições internacionais, visando a um rearranjo que reflita uma nova distribuição de poder no mundo.
A possibilidade de modificar as instituições internacionais tem implicações profundas para a ordem global existente, que historicamente atendeu aos interesses do Ocidente. Essa mudança proporcionaria uma maior equidade e uma representação mais justa dos interesses dos diferentes países e regiões. No entanto, qualquer reconfiguração das instituições internacionais requereria um consenso amplo entre os atores globais, o que pode levar tempo e negociações complexas.
Em resumo, a vitória de Putin consolida seu poder na Rússia e abre caminho para uma maior influência do país no cenário internacional. Além disso, representa uma oportunidade para iniciar um processo de modificação das instituições internacionais, visando a uma ordem mais multipolar e equitativa. O momento é propício para que a Rússia, juntamente com outros países, busque um rearranjo que reflita melhor a realidade global atual. No entanto, essa transformação requererá diálogo e cooperação entre os países envolvidos, um processo que não será necessariamente fácil nem rápido.