Desde o ano passado, essa coluna vem publicando uma série de apurações sobre o incômodo de aliados do governo e as ‘trapalhadas’ de articulação política envolvendo o executivo e o legislativo. Ministros que ignoram parlamentares, ministros que ignoram ministros, picuinhas e rivalidades internas, sabotagem entre membros do governo e assim vai. Tirando umas poucas exceções, no geral, o ministeriado do terceiro mandato do presidente Lula é terrivelmente problemático.
Nomes de peso na bancada petista da câmara, na diretoria do partido e de secretariados importantes da legenda que levaram suas insatisfações diretamente para o presidente. Suas críticas chegaram à mesma conclusão: é necessária uma reforma ministerial.
Especulada desde o ano passado, até o momento o assunto não é tratado abertamente pelo Palácio do Planalto que, na maioria das vezes, busca desconversar sobre o tema que chegou a ser até mesmo deixado de lado ainda no início do ano. Porém, diante da piora da aprovação do governo nas pesquisas, o assunto voltou a ser discutido, principalmente na liderança da bancada petista da Câmara dos Deputados.
Entre os motivos para a reforma estaria a forma como trabalham os ministros: isolados em seus ministérios, sem buscarem maior integração com o resto do governo ou até mesmo parlamentares. A coluna chegou a relatar alguns episódios sobre esse assunto ainda no ano passado.
Um exemplo disso é um episódio muito recente onde, sem falar com a bancada petista de Minas Gerais, o ministro da educação Camilo Santana (PT) deverá lançar nas próximas semanas o programa pé-de-meia (um incentivo financeiro concedido a estudantes de baixa renda do Ensino Médio para que se mantenham engajados nos estudos e não abandonem sua formação) em Minas Gerais. O evento, que está previsto para ocorrer na cidade administrativa, sequer contaria com participação de movimentos sociais e militância.
Nem mesmo o deputado Rogério Correia, principal nome do estado para as eleições municipais e que deve disputar a prefeitura de Belo Horizonte, sequer foi informado sobre a data do evento, ficou sabendo no “susto”.
‘É complicado, hoje o governo anda privilegiando outras lideranças e não está apoiando as [lideranças] do próprio partido’, disse uma fonte do partido.
Além disso, voltou a ganhar força a tese de que o atual prefeito de Araraquara, o petista Edinho Silva, deveria assumir o comando da Secretaria de Comunicação Social (SECOM), hoje comandada por Paulo Pimenta (PT).
Como das outras vezes, no Planalto o assunto é negado, fontes, inclusive, negam que existam sequer nomes especulados para ocuparem as pastas.
De qualquer maneira, já está claro que hoje o governo enfrenta três problemas que transcendem qualquer conquista na área da economia: comunicação, articulação política no Congresso e articulação ministerial. A reforma ministerial resolve dois dos três problemas, resta a articulação política.
Na bancada petista, há quem acredite que o presidente anda recebendo as informações com um certo filtro e que isso explicaria, por exemplo, a surpresa do presidente com a posse de extremistas como Nikolas Ferreira e Carolina de Toni na presidência de comissões importantes da Câmara. O que ninguém sabe dizer com exatidão é quem anda fazendo esse ‘filtro’ e se realmente os meios que o presidente usa para se informar são tão limitados a ponto de conseguirem barrar informações. Se isso realmente for verdade, aí o problema é realmente de comunicação, mas não da SECOM e sim entre o governo e seus membros.
Por enquanto, a única coisa que é inconteste é que como está, não dá para ficar.