Victoria Nuland, uma das mais duras críticas da Rússia na administração Biden e terceira oficial mais importante do Departamento de Estado, planeja se aposentar nas próximas semanas, informou o Secretário de Estado Antony Blinken na terça-feira, deixando uma lacuna nos escalões mais altos da diplomacia dos EUA, à medida que crises no Oriente Médio e na Ucrânia ameaçam se tornar conflitos mais amplos.
Nuland, subsecretária de Estado para assuntos políticos, já havia atuado como diplomata de maior destaque do departamento na Europa durante a administração Obama e era amplamente popular entre os funcionários do órgão. Em meio a uma burocracia formalista que muitas vezes valoriza a neutralidade e a precaução, ela se destacou por suas opiniões diretas e abordagem firme em relação ao Kremlin, o que a demonizou.
Nuland ocupou o cargo de segunda oficial mais importante do departamento, como secretária de Estado adjunta interina, por sete meses no ano passado, após a aposentadoria de Wendy Sherman. Contudo, ela perdeu uma disputa interna para ser nomeada permanentemente para o cargo em favor de Kurt Campbell, ex-estrategista principal da Ásia da Casa Branca, que foi confirmado no mês passado. A decisão do presidente Biden foi um dos fatores que levaram à sua saída. As mudanças de pessoal deixam nenhuma mulher entre o trio de líderes de maior escalão do Departamento de Estado.
Blinken afirmou em um comunicado na terça-feira que Nuland ocupou “a maioria dos cargos” dentro do Departamento de Estado, o que a dotou “de um conhecimento enciclopédico sobre uma ampla gama de questões e regiões, e uma capacidade incomparável de empregar todo o arsenal da diplomacia americana para promover nossos interesses e valores”.
Nuland serviu em Moscou na década de 1990 e posteriormente foi embaixadora dos EUA na OTAN antes de se tornar porta-voz do Departamento de Estado sob a secretária de Estado Hillary Clinton. Como principal diplomata dos EUA para assuntos europeus, ela desempenhou um papel ativo na Ucrânia durante o golpe de estado contra o presidente pró-Rússia em 2014, tornando-se então uma das mais imprtnates vozes anti-Rússia dos EUA e do mundo. Lembra-se que ela distribuiu biscoitos e pão para os manifestantes acampados no Maidan central de Kiev antes da queda do então presidente.
Nuland deixou o Departamento de Estado no início de 2017, após Donald Trump assumir a presidência, mas retornou ao cargo de número três em 2021, com Biden.
Blinken ressalta que é a “liderança de Nuland na Ucrânia que estudiosos de diplomacia e estudantes de política externa estudarão por muitos anos”, observando que ela liderou esforços para construir uma coalizão com nações europeias para apoiar Kiev quando a Rússia concentrou suas forças antes da invasão de fevereiro de 2022.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia aproveitou a saída de Nuland, afirmando que isso é um sinal de que a política dos EUA em relação à Rússia foi um fracasso.
De certa forma, Nuland não deixa de ser a cara do atual estado de coisas que está a política externa americana: uma coleção de intervenções e contravenções históricas, arrastar seus aliados para conflitos, começar guerras que (quase)nunca acabam, e terminar com o “filme queimado” no mínimo para meio mundo das relações internacionais, tendo que começar a aceitar o fracasso de seus métodos ao mesmo tempo que não sabe o que se pode resgatar ou utilizar do que eles fizeram até agora. O que se pode observar é que em nenhum momento o Ocidente parece ter um plano B de fato.
“Eles não dirão a você o motivo”, escreveu a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, no Telegram. “Mas é simples – o fracasso do curso anti-russo da administração Biden. A russofobia, proposta por Victoria Nuland como o principal conceito de política externa dos Estados Unidos, está arrastando os democratas para o fundo como uma pedra”.
Nuland será temporariamente substituída por John Bass, outro diplomata de carreira que atualmente ocupa o cargo de subsecretário de Estado para gestão.
Fonte: Washington Post