Estudo da USP revela que manifestações de direita no Brasil estão mais extremistas

Rovena Rosa/Agência Brasil

Pesquisadores e estudantes da Universidade de São Paulo (USP) investigam há uma década a polarização política no Brasil, com foco nas manifestações de direita.

Os dados coletados indicam um movimento em direção a posições mais extremistas, especialmente evidenciado nos atos em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, envolvido em suspeitas de conspiração contra o estado democrático.

O Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação (GPoPAI) da USP desenvolveu o Monitor do Debate Político no Meio Digital, com a colaboração de acadêmicos de diversas áreas.

Até o momento, foram realizadas cerca de 50 pesquisas, incluindo a mais recente durante a manifestação do último domingo (25) na Avenida Paulista, convocada por Bolsonaro.

Segundo os pesquisadores, esse ato registrou a maior adesão desde o final de 2015, refletindo um aumento no número de pessoas que se identificam com a direita política e se declaram conservadoras.

Nove em cada dez entrevistados se consideraram de direita, e mais de 95% se autodenominaram conservadores, sendo 78% “muito conservadores” e 18% “um pouco conservadores”.

O professor Marcio Moretto, coordenador do GPoPAI, ressaltou que essa tendência é significativa, comparada a atos anteriores, como a manifestação de março de 2017 em apoio à Operação Lava Jato, na qual apenas 49% se identificaram como de direita ou centro-direita.

A pesquisa realizada em 7 de setembro de 2022 também revelou um aumento, com 83% se considerando de direita, enquanto em 26 de novembro de 2023, 92% dos manifestantes se autodeclararam dessa orientação política. Essa tendência se manteve no último domingo, mesmo com um número maior de participantes.

Moretto destacou que a autoidentificação como “conservador” pode não refletir exatamente a ideologia conservadora, mas sim uma posição reacionária.

Ele observou ainda uma simbologia recorrente nos eventos, como o uso de bandeiras de Israel, relacionado à percepção dos evangélicos sobre a “terra prometida” e a aproximação do Estado de Israel com os evangélicos como apoio geopolítico.

Os dados do estudo indicaram que a maioria dos presentes nos atos da Avenida Paulista era composta por homens brancos com mais de 45 anos, com curso superior e residentes na região metropolitana de São Paulo.

Moretto ressaltou que esse perfil não é representativo da população em geral e destacou a complexidade de acesso à região central da cidade para a maioria dos paulistanos.

Quanto às opiniões políticas, a pesquisa revelou que a maioria dos participantes era contrária à decretação de estado de sítio, à arbitragem das Forças Armadas e à operação Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Moretto interpretou esses resultados como uma defesa de Bolsonaro como alternativa ao PT, sem necessariamente apoiar movimentos golpistas.

Por fim, o coordenador do GPoPAI chamou a atenção para a dificuldade crescente de monitorar as redes sociais, ressaltando a importância da regulamentação para garantir transparência.

Ele contextualizou o protesto na Avenida Paulista como parte de um contexto em que Bolsonaro é investigado por suspeita de conspiração contra o estado democrático, incluindo um suposto plano de golpe de Estado.

Com informações da Agência Brasil

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