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“América Latina primeiro”: Lula busca fortalecer a CELAC e o desenvolvimento da região

Em meio à tensões internacionais e a crise do Essequibo, Lula busca recuperar papel da CELAC de resolver problemas da região de forma autônoma e projetar o continente globalmente, afirma pesquisadora em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil. O presidente Lula encerrou uma série de reuniões e encontros com autoridades na Guiana e em São Vicente […]

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EBC - Agência Brasil

Em meio à tensões internacionais e a crise do Essequibo, Lula busca recuperar papel da CELAC de resolver problemas da região de forma autônoma e projetar o continente globalmente, afirma pesquisadora em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil.

O presidente Lula encerrou uma série de reuniões e encontros com autoridades na Guiana e em São Vicente e Granadinas, reforçando a importância da integração regional e buscando recuperar o papel da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) de resolver problemas da região de forma autônoma.

Durante sua participação na cúpula da Caricom, o mais antigo bloco da América Latina, Lula ressaltou a necessidade de investimentos na integração regional, particularmente em infraestrutura de transportes. O líder brasileiro teve uma longa reunião bilateral com o presidente guianense, Irfaan Ali, com o objetivo de reafirmar a importância das relações entre os dois países, que haviam sido negligenciadas nos últimos anos.

Em seu discurso, Lula destacou a vocação sul-americana em ser uma zona de paz, enfatizando que a guerra traz destruição e sofrimento, enquanto a paz traz prosperidade e bem-estar. O presidente brasileiro também aproveitou a oportunidade para mencionar a situação na Faixa de Gaza, condenando a “punição coletiva” imposta por Israel à população palestina.

Além das reuniões bilaterais, Lula se encontrou com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Também assinou um acordo de serviços aéreos com Antígua e Barbuda.

A pesquisadora Livia Peres Milani, doutora em Relações Internacionais e integrante do Grupo de Estudos em Defesa e Segurança Internacional (Gedes), analisou as declarações de Lula e destacou a retomada da ideia de priorizar a América do Sul e a América Latina na política externa brasileira. Ela ressaltou que a CELAC perdeu protagonismo nos últimos anos e que a região passou a sofrer maior influência de potências externas.

Milani defende a importância da CELAC como um fórum de articulação política para resolver os problemas regionais de forma autônoma, sem interferência de potências estrangeiras. Ela acredita que o objetivo do presidente Lula é tornar a CELAC uma organização relevante novamente, capaz de enfrentar os desafios políticos, a instabilidade e as mudanças de orientação ideológica na região.

A pesquisadora destaca que o Brasil tem conseguido desempenhar um papel neutro frente à disputa territorial entre a Guiana e a Venezuela, agindo como um mediador. Além disso, ela ressalta que Lula já possui um canal de comunicação aberto com o presidente Nicolás Maduro, o que fortalece a ideia de que o Brasil pode desempenhar um papel de equidistância e mediação nessa questão.

No total, a CELAC reúne 33 países latino-americanos e foi criada em 2010, durante o segundo mandato de Lula como presidente do Brasil. A pesquisadora destaca a importância de tornar a CELAC relevante novamente, a fim de que ela possa resolver os problemas da região de forma autônoma e enfrentar os desafios atuais.

Integração voltada para a infraestrutura

Outro ponto destacado pela pesquisadora é o projeto de infraestrutura de transportes apresentado pelo governo brasileiro durante as reuniões. Esse projeto consiste na criação de conexões rodoviárias, ferroviárias, portuárias e aeroportuárias entre os países da América Latina. O objetivo principal desse projeto é reduzir em 10 mil quilômetros a distância do Brasil para os mercados asiáticos, por meio da ligação brasileira ao Pacífico.

A pesquisadora observa que essa integração e foco na infraestrutura estão principalmente direcionados para atender a demanda de exportação para a China. Essa visão de integração regional voltada para fora, especificamente para aumentar as relações comerciais com a Ásia, é um aspecto interessante que foi enfatizado por Lula em seus discursos.

A liderança brasileira ameaça os EUA?

De acordo com a especialista, diante da tentativa de retomada do protagonismo brasileiro na região, os Estados Unidos buscam impor limites e condicionar a liderança, de acordo com seus próprios interesses e política externa. A pesquisadora aponta que, para os EUA, o Brasil mediar a disputa entre a Guiana e a Venezuela é mais aceitável do que o posicionamento do país em relação ao genocídio na Faixa de Gaza.

Além disso, existem divergências claras entre o Brasil e os Estados Unidos, especialmente em relação à Venezuela e às questões internas do país. Essas diferenças de opinião podem gerar desconforto entre as duas nações.

Em resumo, a atuação de Lula e o objetivo de resgatar o protagonismo do Brasil na região latino-americana foram bem recebidos por alguns países, mas também podem gerar algum desconforto com os EUA. O papel do Brasil como mediador em disputas territoriais e sua busca por integração regional através da infraestrutura de transportes são aspectos que merecem destaque e serão importantes para observar os desdobramentos futuros na região.

No fim podemos concluir que a visita de Lula à Guiana e São Vicente e Granadinas reforça a importância da integração regional e a busca por soluções autônomas para os problemas da América Latina e do Caribe. Resta acompanhar de perto os desdobramentos dessa agenda e ver se a CELAC conseguirá recuperar seu protagonismo e se tornar novamente uma organização relevante para a região. E, principalmente, no longo prazo, resta saber se a América Latina e o Brasil já amadureceram o bastante para não abandonarem os projetos de integração pela metade, como no passado.

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