Finalmente o tão aclamado ato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na avenida Paulista em São Paulo. Com uma adesão longe de ser pequena mas ainda mais longe de ser gigantesca. A manifestação da extrema direita não foi relevante.
Porém o ato pode ser lido como uma uma despedida de um ex-presidente que pode ser preso a qualquer momento assim como uma penca de seus aliados mais próximos, na melhor das analogias, podemos comparar a manifestação como um velório.
Bolsonaro já é inelegível até 2030, ficará duas eleições presidenciais fora do páreo e sem cargo no Estado brasileiro, o ex-presidente ultimamente só vem conseguindo alguma mídia nas páginas policiais. Se for preso, aí definitivamente irá para o ostrascismo, não existe vácuo na política e alguém ocupará seu lugar como líder do extremismo de direita no Brasil.
Vale notar que entre os 13 governadores eleitos na esteira do bolsonarismo em 2022, apenas 5 apareceram no ato, mesmo após reiterados pedidos de prova de fidelidade do ex-presidente. Sem falar dos parlamentares (senadores e deputados) que juntos, somam um pouco mais que uma centena.
Além disso, o extremismo concentrou todas as suas forças em apenas um local, não haveriam atos em outras localidades como foi em outros momentos, todas as fichas foram na paulista, assim como recursos e mobilizações (caravanas, motociatas e afins). Porém não chegou nem mesmo perto do público mobilizado para comemorar a eleição do presidente Lula em outubro de 2022, que não contou com 5% da mobilização que teve Bolsonaro.
Porém reforço: dizer que o ato foi pequeno é delírio. Dizer que o ato foi relevante, é outro delírio. No máximo foi expressivo mas não mudará um milímetro do curso das investigações, julgamentos e inquéritos. Não intimidou qualquer poder, tampouco o sistema de justiça.
Quem esperava também o início tardio de um terceiro turno também se frustrou, já que no fim essa mobilização toda serviu a um único propósito: para Bolsonaro tentar adiar a sua prisão e de seus apoiadores, chegando ao cúmulo do desespero ao pedir que os parlamentares aliados tentassem emplacar propostas de anistia no Congresso Nacional.
É aí que fica outra reflexão interessante: Bolsonaro pediu uma nova lei da anistia para os criminosos presos por conta do 8 de janeiro. Mas afinal de contas, até o mês passado os criminosos em Brasília não eram infiltrados petistas e tudo não passava de uma trama do PT.
Bolsonaro quer anistia para quem? Ele está admitindo que os criminosos em Brasília eram seus apoiadores?
“Já anistiamos no passado quem fez barbaridade no Brasil. Agora pedimos a todos os deputados e senadores um projeto de anistia”. Foi assim que fez a sua defesa.
Já em outro surto de sincericídio, reconheceu a existência da minuta golpista afirmando que ela não quer dizer nada, porque era apenas a declaração de um estado de sítio depois das eleições em que a então oposição venceu. “Golpe usando a Constituição? Tenha santa paciência”, completou o ex-presidente.
Depois explicou que a decretação do Estado de sítio necessitaria de apoio do Congresso, quase que afirmando que não teria como decretar estado de sítio sem ele. Algo do tipo: só não teve golpe por falta de oportunidade.
Tudo não passou de um pacato domingo. O ato de hoje receberá grande destaque nos noticiários. Quem estava no ato, esteve com Bolsonaro em 2018 e 2022 e se alvoroçava a cada nota do clube militar ameaçando a República entre os anos de 2013 e 2016. Não ampliou seu apoio, ficou isolado na ilha dos extremistas inveterados.
Bolsonaro está desesperado, seus apoiadores, idem. O dia seguinte ao ato deste domingo não será mais favorável ao ex-presidente do que foram os anteriores.
Sejamos francos, há o que se elogiar Aécio Neves (PSDB), que diferente de Bolsonaro, conseguiu criar um terceiro turno. O ex-presidente, por outro lado sequer conseguiu isso. Nem mesmo hoje, com toda a expectativa criada entre seus seguidores. Apenas, desesperadamente, está tentando fugir da prisão.