- O apelo do Brasil para reformar as instituições multilaterais fala em prol do Sul Global mais amplo.
- Nações ocidentais tentam sequestrar o G20 para servir propósitos políticos egoístas.
Por Zhao Yusha — Na reunião dos ministros das Relações Exteriores do G20 no Brasil, as autoridades brasileiras pediram reformas nas Nações Unidas e em outras instituições multilaterais e pressionaram por uma representação mais forte dos países em desenvolvimento. Especialistas chineses acreditam que o apelo do Brasil fala em nome do Sul Global mais amplo, já que algumas dessas organizações têm sido sequestradas e dominadas por países ocidentais, ignorando ao mesmo tempo as necessidades das nações em desenvolvimento.
O vice-ministro das Relações Exteriores, Ma Zhaoxu, que representou a China na reunião de ministros das Relações Exteriores do G20, reuniu-se com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, no Rio de Janeiro, Brasil, na terça-feira, informou o Ministério das Relações Exteriores da China na quarta-feira.
Ma disse que a China está disposta a aproveitar esta oportunidade para trabalhar com o Brasil para dar continuidade aos importantes entendimentos comuns alcançados entre os dois chefes de Estado, sinergizar ainda mais as estratégias de desenvolvimento, aprofundar a cooperação em vários campos e levar as relações China-Brasil a um novo nível. A China apoia o trabalho do Brasil como presidência do G20 para promover conjuntamente o sucesso da Cúpula do G20 deste ano.
Uma das principais propostas do Brasil, apresentada pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, é uma reforma das instituições de governança global, como as Nações Unidas, a Organização Mundial do Comércio e os bancos multilaterais, onde ele quer pressionar por uma representação mais forte das nações em desenvolvimento, AP relatado.
Vieira disse ainda ao abrir a reunião de dois dias que a explosão de conflitos globais mostra que instituições internacionais como a ONU não estão a funcionar.
O apelo do Brasil à reforma das atuais instituições multilaterais representa a visão da maioria dos países do Sul Global. O atual sistema internacional tem sido dominado e até mesmo sequestrado por alguns países ocidentais para servir os seus propósitos hegemónicos, ignorando ao mesmo tempo os interesses dos países do Sul Global, disse Li Haidong, professor da Universidade de Relações Exteriores da China, ao Global Times.
Fazendo eco a Li, Zhu Jiejin, professor de estudos de governação global na Universidade Fudan, disse ao Global Times que as vozes que apelam ao desenvolvimento no Sul Global tornar-se-ão mais altas no G20, uma vez que os países em desenvolvimento têm vindo a acolher a cimeira do G20 nos últimos anos. O Brasil assumiu a presidência do G20 no lugar da Índia no ano passado, e a África do Sul assumirá a presidência do G20 em 2025.
Em 2019, Zhang Jun, representante permanente da China nas Nações Unidas, disse que “sendo a ascensão coletiva dos países em desenvolvimento a característica definidora , a China apoia uma reforma razoável e necessária do Conselho de Segurança para atender às necessidades dos tempos.”
Especialistas disseram que a China tem promovido ativamente o desenvolvimento do Sul Global. “Uma contribuição importante é a promoção do desenvolvimento dos BRICS, que reuniu os principais países em desenvolvimento e ampliou a voz das nações em desenvolvimento”, disse Zhu.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse na Conferência de Segurança de Munique na semana passada que a China trabalhou ativamente para fortalecer a solidariedade e a cooperação no Sul Global, promoveu a expansão histórica da adesão ao BRICS, apoiou a União Africana na adesão ao G20 e está comprometida em aumentar a representação e a voz dos países em desenvolvimento nos assuntos globais, de modo a tornar a arquitectura de governação global mais equilibrada e eficaz.
Os ministros das Relações Exteriores ocidentais do grupo de nações G20, reunidos no Brasil na quarta-feira, atacaram a Rússia devido ao seu conflito com a Ucrânia, disseram diplomatas citados pela Reuters.
“A Rússia deve pagar pela sua agressão”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Cameron, na sessão fechada, segundo o seu gabinete. Segundo a Reuters, os principais diplomatas dos EUA, Austrália, Canadá, Alemanha, Itália, França e Noruega fizeram comentários semelhantes no primeiro dia de uma reunião de dois dias.
“Nos últimos anos, os países ocidentais não pouparam esforços para sequestrar plataformas multilaterais como o G20, transformando-as numa arena para satisfazer as suas próprias necessidades políticas”, disse Li. Ele disse que tais tentativas restringiram o G20 no desempenho das suas funções.
Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, disse numa conferência de imprensa na quarta-feira que o G20 é o principal fórum para a cooperação económica internacional, não uma plataforma para resolver questões geopolíticas e de segurança.
Para além da crise Rússia-Ucrânia, o conflito Palestina-Israel também se tornou um ponto focal na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G20 deste ano. No entanto, os especialistas chineses têm poucas esperanças de que os ministros dos Negócios Estrangeiros do G20 façam progressos nesta questão, não só devido às diferentes posições desses países sobre o conflito, mas também devido à guerra de palavras de Lula com Israel.
Lula está no meio de uma briga diplomática com Israel por causa de comentários nos quais comparou a guerra em Gaza ao genocídio nazista durante a Segunda Guerra Mundial, o que levou Israel a dizer que não era bem-vindo ali até retirar os comentários.
A abordagem mais pragmática é simplesmente não se envolver em discussões profundas sobre essas questões espinhosas no G20, disse Zhu. Ele ressaltou que mesmo cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU quase não conseguiram chegar a um acordo sobre a resolução desses conflitos durante tanto tempo, “como poderiam 20 países chegar a um consenso em dois dias?”
O G20 é uma rara ocasião em que os países do Sul Global e do Norte Global podem sentar-se juntos e discutir a governação global e os desafios que todos eles enfrentam. É crucial que o G20 não seja ofuscado pelas agendas políticas egoístas de certos países, para que possa cumprir eficazmente o seu papel na abordagem destas questões prementes, disse Zhu.
Publicado no Global Times, em 22 de fevereiro de 2024