Em um aprofundado trabalho investigativo, surgem indícios preocupantes sobre a gestão de contratos de coleta de lixo em municípios mineiros, especialmente em Itaobim, que parecem ecoar problemas similares enfrentados recentemente em Santa Catarina, onde 16 prefeitos foram presos na operação mensageiro. Prefeitos alinhados ao espectro político bolsonarista estão no centro das atenções, levantando questionamentos sobre a eficiência e transparência na administração pública.
A investigação começou a partir de uma denúncia recebida por meio da rede social X, onde foi identificado que recentemente houve uma troca significativa na empresa responsável pela coleta de lixo. A mudança, de uma prestadora com contrato anual de R$ 2.8 milhões para outra com um salto para R$ 14 milhões, levantou suspeitas imediatas.
Ao aprofundar nas pesquisas e análises documentais, constatou-se que a antiga empresa tentou renovar seu contrato antes do término, sem receber resposta da prefeitura. Curiosamente, o novo contrato, celebrado perto da virada do ano, não está disponível para consulta pública, nem o edital de licitação correspondente, o que compromete a transparência do processo.
A investigação revelou ainda que um dos membros do conselho da empresa vencedora, Sudeste Brasil Cooperativa de Transportes, possui vínculos diretos com outra empresa, A.C.M.C SERVICOS URBANOS LTDA, que foi chamada para tomada de preços, indicando potencial conflito de interesses. Documentos e emails conseguidos apontam para uma relação possivelmente privilegiada entre a cooperativa e o poder público ao enviarem a cotação para a empresa com ligação com a vencedora do pleito.
Além disso, uma vereadora do município de Campos Gerais denunciou ao Ministério Público (MP), em 2021, diversas irregularidades envolvendo contratos entre a prefeitura local e a Cooperativa Sudeste, incluindo dificuldades de acesso a informações e indícios de licitações dirigidas, práticas que ferem princípios básicos da administração pública.
A situação em Itaobim não é um caso isolado. Em Paracatu, Minas Gerais, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi aberta e as investigações entregues ao MP já apontaram irregularidades em contratos semelhantes, sugerindo um padrão de comportamento que merece atenção e ação dos órgãos de controle e da sociedade civil.
A Cooperativa Sudeste, no centro das controvérsias, possui uma centena contratos com diversas prefeituras, indicando sua influente presença no mercado de serviços municipais e estaduais. Este fato, aliado às irregularidades apontadas, levanta dúvidas sobre a integridade dos processos licitatórios e a qualidade dos serviços prestados à população.
Esta investigação continua aberta, com o compromisso de acompanhar os desdobramentos e buscar respostas para as numerosas questões levantadas. Encorajamos a participação e o apoio ao jornalismo independente, fundamental para a manutenção da transparência e da justiça em nossa sociedade.
*Foi tentado contato com as empresas Sudeste, ACMC e Prefeitura de Itaobim e não foi dado retorno até o momento. O Espaço se encontra aberto para eventual resposta dos questionamentos.