Celso Amorim afirma que declaração de Lula sobre Israel “sacudiu o mundo” e pode auxiliar na resolução do conflito em Gaza
Ex-ministro das Relações Exteriores acredita que emoções podem ser a chave para solucionar o que a lógica política não conseguiu
O antigo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, avalia que o comentário de Lula, comparando os atuais acontecimentos na Faixa de Gaza com o genocídio perpetrado por Adolf Hitler contra os judeus, gerou impactos positivos e tem potencial para contribuir na resolução do embate.
“A manifestação de Lula agitou o cenário internacional e provocou uma onda de reações emocionais que poderiam ser decisivas para solucionar um dilema que a indiferença dos interesses políticos não conseguiu”, expressou em uma nota enviada para a coluna de Mônica Bergamo, da Folha.
Amorim, que é o principal assessor de Lula em questões diplomáticas e atualmente desempenha a função de assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, destacou a importância da fala.
No domingo (18), durante uma coletiva de imprensa ao final de sua visita à Etiópia, Lula respondeu a perguntas sobre a decisão de seu governo de continuar com contribuições financeiras para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (Unrwa), apesar das suspensões de auxílio por parte de outros países após acusações de Israel contra funcionários da agência por envolvimento em um ataque do Hamas contra civis israelenses em 7 de outubro de 2023.
Lula justificou a continuidade dos aportes por razões humanitárias e comparou: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não tem precedentes na história. Exceto, claro, durante o período em que Hitler decidiu exterminar os judeus”.
Essa declaração provocou intensas reações do governo israelense e, no Brasil, de organizações judaicas, inclusive as de orientação esquerdista, que condenaram a comparação enfaticamente.
O embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, foi convocado pelo ministério das relações exteriores de Israel para receber uma advertência, e Lula foi considerado persona non grata em Israel.
Em resposta, o governo Lula convocou o embaixador Frederico Meyer de volta ao Brasil para consultas. Celso Amorim relata que o embaixador foi submetido a um “espetáculo degradante”, que reflete negativamente em todo o país. “Foi uma situação sem precedentes”, comentou.
Adicionando às suas declarações anteriores, Amorim enviou comentários à coluna de Bela Megale, do Globo, afirmando que “Quem tem que pedir desculpas é Israel, e não é ao Brasil, mas à humanidade”. Ele ressaltou também que “não há hipótese de pedido de desculpas” por parte de Lula.
Durante uma reunião matinal com Lula no Palácio da Alvorada, que teve como foco a reação do governo israelense à comparação feita pelo presidente, Amorim esteve presente. Ele expressou que “Lula não tem por que estar chateado. Obviamente, o Brasil não vai festejar qualquer afastamento nas relações diplomáticas. Quem tem que estar preocupado é Israel, que está cada vez mais isolado internacionalmente”.
O conselheiro presidencial informou que houve “uma concordância geral” sobre a decisão de chamar o embaixador brasileiro em Israel de volta ao Brasil. Isso ocorreu após Meyer ter sido convocado por autoridades israelenses para dar explicações sobre a declaração de Lula no Museu do Holocausto.
Amorim também fez questão de esclarecer que as críticas não se dirigem ao povo judeu. “Isso não tem nada a ver com o povo judeu. Temos o maior apreço ao povo judeu, que deu inúmeras contribuições ao Brasil e ao mundo”, disse.