Por Virginia Berriel
Israel e a TV Globo criticaram Lula por sua manifestação, na Etiópia, sobre a guerra em Gaza contra o povo palestino. A reportagem da TV no programa Fantástico, deste domingo, 18/02, foi extremamente inadequada, tendenciosa e omitiu a verdade.
Lula fala que é um genocídio e faz alusão ao holocausto, tratando-se de uma reação desproporcional de Israel. Nenhuma inverdade nisso.
Em seguida, a reportagem informa que Netanyahu disse que Lula não se preocupou em falar sobre o atentado do Hamas contra Israel, o que também não é verdade.
A manipulação não é apenas do carrasco Netanyahu, mas, de forma maliciosa e perversa, de uma emissora de televisão que deveria primar, pelo menos, por mostrar a verdade, o contraditório.
Sinceramente, me causou vergonha como jornalista assistir a uma reportagem tão tendenciosa, e porque não dizer, perigosa.
Com essa reportagem e outras que a TV Globo tem feito, está muito evidente o grau de omissão, que a emissora apoia a guerra de Israel contra o povo palestino.
Esse não é o papel de um programa de televisão sério, muito menos de um telejornal e sequer de uma emissora de televisão. Mas falar o que da Globo, se o jornal O Globo apoiou editorialmente e escancaradamente o golpe de 64, a ditadura militar nesse país?
Também outros grandes e tradicionais veículos de comunicação, como O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e o Correio da Manhã, também apoiaram. Dizer o que dessa mídia escravocrata e tendenciosa até hoje?
Os militares criminosos estão aí, livres e leves, e novamente alguns deles contribuíram com o golpe de 08 de janeiro de 2023, na maior cara de pau, apoiando o seu capitão trapalhão e fascista. Esperar o que dessa gente?
Eles não foram julgados pelos seus crimes, muito menos aquelas empresas que contribuíram, se omitiram e até hoje não se envergonham do que fizeram, como o Globo, que ainda carrega o sangue daqueles que foram torturados, das mulheres que foram violentadas, dos mortos e desaparecidos na ditadura militar desse país.
Lula disse o que muitos de nós estamos gritando e dizendo desde o dia 07 de outubro, desde o massacre cometido pelo Hamas a Israel, onde mais de 1.200 pessoas foram mortas e cerca de outras 200 sequestradas.
Segundo o governo de Israel, cerca de 130 pessoas continuam sequestradas e estão em cativeiros na Faixa de Gaza. A guerra efetivamente começou naquele 7 de outubro.
Condenamos veementemente todos os atentados cometidos pelo Hamas, mas também todos os atentados cometidos por Israel contra os palestinos na Faixa de Gaza.
Ao contrário do que o governo de Israel e do que fala Netanyahu, um genocida sem limites, que a guerra é contra o Hamas, não é apenas contra o Hamas.
Se fosse, não teriam matado quase 30 mil palestinos, sendo a maioria crianças e mulheres, e mais de 120 jornalistas. Será que todos pertenciam ao Hamas?
O que o Hamas cometeu em 07 de outubro de 2023 foi, sem dúvida, um atentado violento, foram vários crimes além do sequestro.
O Hamas precisa ser punido severamente pelos seus crimes, mas uma nação inteira não pode ser punida, nem pagar com a vida de milhares de cidadãos por crimes que não cometeram.
Um país não pode destruir uma nação inteira e deixá-la nos escombros como Israel fez e continua fazendo em Gaza, seja na destruição das moradias, também de escolas e principalmente hospitais. É um genocídio, sim. Encurralar, matar mulheres, homens e milhares de crianças sem piedade.
É o quê, senão agir com a mesma perversão que agiu o Hamas e que agiram os nazistas quando do holocausto? Matar de fome e sede, não permitir a entrada de alimentos, nem a abertura de um corredor humanitário, não é se defender, não será jamais…
Um país que tem a tecnologia que Israel tem não precisava ter investido numa guerra, na destruição da Faixa de Gaza e na morte de seus milhares de habitantes.
Aqueles que não foram assassinados, perderam tudo e estão em campos de refugiados, passando por privações e necessidades. Indo de um lado a outro, sem nenhum acolhimento, sem nenhuma piedade…
Com a tecnologia que tem Israel, se o governo de Netanyahu quisesse, não teria matado sequer um palestino ou destruído a sua moradia. Mas Netanyahu destruiu toda a Faixa de Gaza, deixou o território com apenas seus escombros. Devastação total.
Israel é um país referência em segurança cibernética, com avanços e investimentos surpreendentes. Como explica então a eliminação de quase 30 mil pessoas?
Assim, todos nós, além do presidente Lula, entendemos que não é para se defender, nunca foi. Israel não está se defendendo, não é verdade, TV Globo. Matar e matar e matar não é se defender.
Netanyahu está impondo o extermínio de uma nação, do povo palestino, nunca aceitou a Faixa de Gaza e sempre atentou contra o direito desse povo, que vive encurralado desde 1948, quando Israel passou a controlar 75% do território palestino.
Todos, de alguma forma, viviam presos em seu próprio território, em sua terra, dominada pela soberania israelense que transformou Gaza em escombros.
Os meios de comunicação não podem fazer uma guerra contra o presidente Lula porque nós, brasileiros e brasileiras, não permitiremos. Netanyahu não tem nenhuma moral para falar sobre Lula ou o governo brasileiro, que já deveria ter cortado relação com um país que age como Israel.
O genocídio e a eliminação do povo palestino é o grito que precisamos escancarar. Israel precisa ser parado. Esta guerra dói profundamente em todos nós.
Virginia Berriel é jornalista e diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e Diretora da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ)