A operação Tempus Veritatis deflagrada hoje pela Polícia Federal (PF), joga luz a muitas lacunas que existiam no enredo da tentativa de golpe gestada no Palácio do Planalto e mais evidente é o envolvendo institucional das forças armadas nessa conspiração, seja por ação, seja por omissão.
Nas mensagens temos a situação e envolvimento de sete oficiais-generais, sendo eles: general Braga Netto (candidato a vice-presidente de Bolsonaro), general Estevam Theophilo (ex-chefe do Comando de Operações Terrestres), general Freire Gomes (ex-comandante do Exército), general Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) , almirante Almir Garnier (ex-comandante da Marinha) e general Tomás Paiva (atual comandante do exército).
As investigações da PF (ver aqui) também revelaram que o tal golpe era assunto corriqueiro não só entre os militares do entorno bolsonarista mas também na cúpula do alto comando das forças armadas.
Em uma das mensagens reveladas, o general Braga Neto compartilha um texto onde é dito que o atual comandante do exército sabia sobre as conspiratas golpistas e que chegou até mesmo a tentar dissuadir militares de fazerem parte da intentona.
A mensagem afirma que Tomás, que já integrava o Alto Comando do Exército (ACE), chegou a conversar com o general Vilas Bôas (VB) e com sua esposa, Maria Aparecida Villas Bôas (CIDA), pedindo para que não promovessem o golpismo.
A mensagem também diz que Tomás criticou outros general, também membros do ACE que endossavam as teses golpistas.
A mensagem indica que Tomás sabia do assunto e chegou até mesmo a discutir o assunto, porém, não deu voz de prisão para nenhum militar empenhado no tal golpe, tampouco denunciou a escaramuça. Um episódio puro e simples de prevaricação.
Não seria surpresa, Tomás trabalhou com Villâs Boas em 2018, chegando a participar dos polêmicos tweets em tom de ameaça do general que defendiam a prisão do então ex-presidente Lula. Paiva também já integrava ao ACE quando as três forças publicaram e assinaram a enfadonha nota do dia 11 de novembro de 2022, onde os militares apoiavam os acampamentos criminosos ao redor do país, afirmando que faziam parte da democracia.
Os diálogos também mostram que a recusa dos generais em embarcarem no golpe não vinha de um sentimento de legalismo e sim de uma falta de confiança de que tudo daria certo e receio de que fossem punidos pela tentativa.
Vale lembrar que em maio do ano passado, a jornalista Miriam Leitão, da Globo News, revelou ao vivo o teor de uma conversa que teve com o presidente do Superior Tribunal Militar (STM), ministro Joseli Parente Camelo.
Na conversa ela afirma que a cúpula das forças armadas não aderiram integralmente às teses golpistas do então presidente Jair Bolsonaro e que essa informação teria sido dada a ela pelo presidente do STM.
Também cabe ressaltar que as investigações da PF chegaram até onde chegaram, não pela denuncia de Tomás Paiva e outros generais que sabiam da intentona e sim pela delação do tenente-coronel Mauro Cid, que preso e com o risco de ver sua família arrolada no processo, fez um acordo de delação premiada.
Essa coluna também já apresentou uma série de evidências incontestes de que houve o endosso institucional das forças armadas na tentativa de golpe, seja por ação ou omissão.
Levando em consideração que o alto comando das forças armadas pouco mudou nos últimos dois anos, é possível afirmar seguramente que parte da cúpula militar é sim golpista permanece complacente com o golpismo em suas fileiras.
De nada adianta Tomás Paiva publicar nota proibindo manifestações de exaltação ao golpe de 1964, se diante de uma tentativa de golpe, ele e outros tantos generais optaram pelo indecoroso silencio obsequioso.