Num outro trecho bombástico da decisão do ministro Alexandre de Moraes, relata-se que o então ajudante de ordens de Bolsonaro (que ainda era o presidente da república), o tenente coronel Mauro Cid, confirma a orientação “correta da manifestação” contra o resultado das urnas: seguir para o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
Mauro Cid, supostamente sob comando do próprio presidente Jair Bolsonaro, a quem ele era subordinado, manda mensagens para Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército, repassando as estratégias.
Numa outra mensagem, Rafael Martins reproduz postagem do senador Eduardo Girão (Novo-CE), publicada no dia 11 de novembro de 2022, com uma foto de invasão do congresso em junho de 2013.
A postagem de Girão foi um explícito “apito de cachorro”, e provavelmente visava estimular os manifestantes golpistas a invadirem o Congresso. A propósito, a coincidência de datas, entre a “orientação” de Mauro Cid e a postagem de Girão, publicada no mesmo dia em que Cid confirma a estratégia, pode complicar o senador.
Os diálogos mostram que os atos diante do Congresso e do STF faziam parte do plano do golpe, e eles contariam com proteção da cúpula militar.
Rafael Martins pergunta se as Forças Armadas iriam garantir a “permanência” dos golpistas nas sedes dos poderes, e Mauro Cid responde: “vão”.
Um dos principais implicados nesses diálogos, naturalmente, é o ex-presidente da república, Jair Bolsonaro, em virtude da relação de autoridade que mantinha com Mauro Cid. As mensagens reforçam as suspeitas, diz o documento, de que o grupo ligado ao próprio Jair Bolsonaro organizava secretamente as manifestações golpistas que se sucederam após o resultado das eleições.
Uma dessas manifestações, como se sabe, aconteceu no dia 8 de janeiro de 2023…
Transcrição de trecho do despacho de Moraes:
“(…) Em relação ao investigado Rafael Martins de Oliveira, o conjunto de elementos de informações constantes da representação aponta, igualmente, seu engajamento nas medidas de execução do intento golpista. Isso se verifica dos diálogos espelhados às fls. 95-99, 107-110, em que o investigado pede orientações a Mauro Cid sobre os locais para realização de manifestações. Ele também questiona sobre a garantia das Forças Armadas para que as pessoas permanecessem nos locais, contexto que indica a existência de arregimentação do grupo ligado ao então Presidente Jair Bolsonaro para os atos.”
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