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Bomba! General Heleno infiltrou agentes da Abin em campanhas eleitorais

A reunião golpista de julho de 2022, parte 3 Mais um trecho do despacho do ministro Alexandre de Moraes, com informações detalhadas sobre a reunião golpista de Bolsonaro em julho de 2022, reunindo seus principais ministros. Na parte reproduzida abaixo, o trecho final da fala delirante de Anderson Torres, então ministro da Justiça. Em seguida, […]

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General Augusto Heleno é o ministro do Gabinete de Segurança Institucional Cleia Viana/Câmara dos Deputados

A reunião golpista de julho de 2022, parte 3

Mais um trecho do despacho do ministro Alexandre de Moraes, com informações detalhadas sobre a reunião golpista de Bolsonaro em julho de 2022, reunindo seus principais ministros.

Na parte reproduzida abaixo, o trecho final da fala delirante de Anderson Torres, então ministro da Justiça.

Em seguida, temos as falas de Braga Netto, do general Paulo Sérgio Nogueira, do general Augusto Heleno e do próprio Bolsonaro.

Um destaque é a admissão, por parte do general Heleno, então chefe do GSI, ao qual a Abin estava subordinada, de que tinha intenção de “infiltrar” agentes da Abin nas campanhas eleitorais.

Vale a pena ler com atenção!

Trecho:

(…) Por fim, Anderson Torres faz imputações graves, relacionando a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) ao Partido dos Trabalhadores (PT), afirmando que muita coisa estaria vindo à tona, inclusive com depoimentos.

De forma enfática diz: “Isso não é mentira. Isso não é mentira.”

Por fim, o então Ministro da Justiça afirma que atuaria de forma mais incisiva, por meio da Polícia Federal.

Mas estamos aí, Presidente, desentranhando a velha relação do PT com o PCC. A velha relação do PT com o PCC. Isso está vindo aí através de depoimentos que estão há muito guardados aí… isso aí foi feito ó. Tá certo? Isso tudo está vindo à tona. Isso não é mentira. Isso não é mentira. Então, muita coisa… é… é… é… está vindo à tona aí. Muita coisa que a população é… sabe, mas tudo precisa ser rememorado. Tá certo? Então, essa questão das urnas, essa questão dos inquéritos, nós montamos um grupo lá… é… é… é…

O Diretor Geral da Polícia Federal montou um grupo de policiais federais. E agora uma equipe completa. Não só com peritos. Mas com delegados, com peritos, com agentes pra poder acompanhar, realmente, o passo a passo das eleições pra poder fazer os questionamentos necessários que têm que ser feitos e não só as observações. A gente vai atuar de uma forma mais incisiva. Já estamos atuando. Mas eu acho que o mais importante é cada um entender o momento agora e as colocações que a gente deve fazer. A gente realmente deve mostrar é… a nossa… a nossa preocupação com tudo isso que está acontecendo no Brasil e com o futuro do Brasil.”

Após a fala do então Ministro Anderson Torres, o investigado Braga Netto avisa aos presentes sobre uma notícia de que o Ministro Edson Fachin do STF teria afirmado que a auditoria nas urnas não mudaria o resultado da eleição, afirmando:

“(…) Senhores, só observar que saiu uma notícia agora dizendo… o Fachin dizendo que auditoria não muda resultado de eleição. Não sei os senhores já viram isso “. Anderson Torres diz: “Depois que der merda não muda nada não”.

Ainda no referido contexto, a autoridade policial aponta que o então Presidente Jair Bolsonaro afirma que Ministros do STF e do TSE estariam tentando “dar um ar de legalidade, de honestidade e transparência”. Em seguida afirma que teria que tomar uma providência. A efetiva participação do investigado Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, igualmente, é bem fundamentada pela Polícia Federal, ao apontar que:

“A reunião transcorre com a fala do então Ministro da Defesa, o General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. O Ministro deixa evidenciado a preocupação em relação aos assuntos que estavam sendo tratados na reunião.

Ele inicia abordando as proposições feitas pelo Ministério da Defesa ao TSE e que não foram aceitas. Em seguida diz: “( … ) esses comentários aqui eu peço que fique entre a gente. Eu tô aqui muito cioso, como falei antes, justamente porque é uma reunião aberta e que são assuntos bem sensíveis ( … )”. Prosseguindo em sua fala, Paulo Sérgio Nogueira demonstra sua desconfiança em relação ao Tribunal Superior Eleitoral. Diz: “Muito bem, o TSE ele tem o sistema e o controle do Processo Eleitoral. Então, como disse o Presidente, eles decidem aquilo que possa interessar ou não e não tem instância superior. E a gente fica meio que de mãos atadas esperando a boa vontade dele aceitar isso ou aquilo outro”. O Ministro da Defesa faz uma imputação grave ao TSE, afirmando que a Comissão de Transparência Eleitoral seria “pra inglês ver”, constituindo um “ataque à Democracia”. Diz: “Vou falar aqui muito claro. Senhores! A comissão é pra inglês ver. Nunca essa comissão sentou numa mesa e discutiu uma proposta. É retórica, discurso, ataque à Democracia”. Ainda em sua fala Paulo Sérgio Nogueira demonstra que trata o Tribunal Superior Eleitoral como um inimigo. Em linguagem militar ele descreve a estratégia: “O que eu sinto nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo. Ou seja… na guerra a gente… linha de contato, linha de partida. Eu vou romper aqui e iniciar minha operação. Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Nós temos que intensificar e ajudar nesse sentido pra que a gente não fique sozinhos no processo”.

Por fim, o então Ministro da Defesa admite que a atuação das Forças Armadas para “garantir transparência, segurança, condições de auditoria” nas eleições tinha a finalidade de reeleger o então Presidente Jair Bolsonaro.

“Pra encerrar… senhor Presidente, eu estou realizando reuniões com os Comandantes de Força quase que semanalmente. Esse cenário, nós estudamos, nós trabalhamos. Nós temos reuniões pela frente, decisivas pra gente ver o que pode ser feito; que ações poderão ser tomadas pra que a gente possa ter transparência, segurança, condições de auditoria e que as eleições se transcorram da forma como a gente sonha! E o senhor, com o que a gente vê no dia a dia, tenhamos o êxito de reelegê-lo e esse é o desejo de todos nós.”

O então Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, reforça a atitude golpista do investigado Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, conforme detalhado pela Polícia Federal:

Em seguida, Jair Bolsonaro ressalta o objetivo da reunião, afirmando que os órgãos do Governo Federal que integravam a Comissão Eleitoral deveriam produzir um documento em conjunto afirmando que a garantia da lisura das eleições, naquele momento, seria impossível de ser atingida.

“Olhem pra minha cara, por favor. Todo mundo olhou pra minha cara? Acho que não tem bobo aqui. Pô, mais claro do que tá aí? Mais claro… impossível! Eu acredito que essa proposta de cada um da Comissão de Transparência Eleitoral tem que… quem responde pela CGU vai, quem responde pelas Forças Armadas aqui… é botar algo escrito, tá? Pedir à OAB. Vai dar… a OAB vai dar credibilidade pra gente, tá? Polícia Federal… dizer… que até o presen… uma nota conjunta com vocês, com vocês todos… topam… que até o presente momento dadas as condições de… de… se definir a lisura das eleições são simplesmente impossíveis de ser atingidas. E o pessoal assina embaixo. Além de eu falar com os embaixadores e pagar a missão pro… já que o Célio tá coordenando aqui… Célio, missão Célio, cê vai ver todos que integram a comissão de… Comissão de Transparência Eleitoral. Convidar todos pra semana que vem. Todos. Pra gente fazer uma reunião como o pessoal e eles tomar pé do que tá acontecendo”. No final de sua fala, Jair Bolsonaro faz a seguinte afirmação: (…) Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a Democracia numa eleição fraudada! Olha o Fachin. Os cara não têm limite. Eu não vou falar que o Fachin tá levando 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. O… que o Barroso tá levando 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Que o Alexandre de Moraes tá levando 50 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Não vou levar pra esse lado. Não tenho prova, pô! Mas algo esquisito está acontecendo (…). “

Em outro momento relevante para o contexto da investigação, o General Mário Fernandes pede a palavra. Ele explicita a necessidade de cobrar um prazo para que o TSE autorize o acompanhamento das eleições pelos três poderes. Caso não ocorra essa autorização pelo TSE, o General propõe o que ele chama de “uma alternativa se isso não acontecer nesse prazo”. Ele desenvolve seu raciocínio no sentido de que, se nada fosse feito, já estaria na véspera das eleições e com isso a “liberdade de ação” do governo seria bem menor. Em seguida, ressalta a necessidade de uma “segunda alternativa” e as consequências de uma possível ação pela força.

Em conclusão, afirma a necessidade de a ação acontecer antes das eleições, dentro do que ele chama de “normalidade”.

Diz: “Então, tem que ser antes. Tem que acontecer antes. Como nós queremos. Dentro de um estado de normalidade. Mas é muito melhor assumir um pequeno risco de conturbar o País pensando assim, pra que aconteça antes, do que assumir um risco muito maior da conturbação no ‘the day after’, né? Quando a fotografia lá for de quem a fraude determinar.”

A existência do ilícito Núcleo de inteligência paralela também fica demonstrada nessa reunião, na fala do investigado Augusto Heleno, como demonstra a Polícia Federal:

Por fim, dentro do contexto investigativo, torna-se relevante contextualizar a fala do General Augusto Heleno, então Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República – GSI/PR. Inicialmente, o General Augusto Heleno afirma que conversou com o Diretor-Adjunto da ABIN Vitor para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais, mas adverte do risco de se identificarem os agentes infiltrados.

Nesse momento, o então Presidente Jair Bolsonaro, possivelmente verificando o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da ABIN, interrompe a fala do Ministro, determinando que ele não prossiga em sua observação, e que posteriormente “conversem em particular” sobre o que a ABIN estaria fazendo.

O chefe do GSI/PR prossegue em sua fala e evidencia a necessidade de os órgãos de Estado vinculados ao Governo Federal atuarem para assegurar a vitória do então Presidente Jair Bolsonaro. Diz: “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”.

Em seguida, o então Ministro do GSI afirma de forma categórica que deveriam agir contra determinadas instituições e pessoas. Diz: “Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”.

A descrição da reunião de 5 de julho de 2022, nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte no sentido de validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça eleitoral, entre outras, inclusive lançadas e reiteradas contra o então possível candidato Luiz Inácio Lula da Silva, contra o Tribunal Superior Eleitoral, seus Ministros e contra Ministros do Supremo Tribunal Federal.

A potencialização do processo de propagação de desinformação para gerar descrédito contra o processo eleitoral brasileiro também contou com a participação de diversos outros investigados, como o Coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, que, em diálogos mantidos com Mauro Cid, em outubro de 2022, tratou sobre identificação de fictícia fraude no primeiro turno das eleições (fls. 50-51, 59-62).

Clique aqui para baixar a íntegra da decisão de Moraes.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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