A reunião golpista de julho de 2022, parte 2/3
Continuando a descrição da reunião golpista, ocorrida no Palácio do Planalto em julho de 2022, o despacho descreve em detalhes o delírio furioso de Bolsonaro, exigindo que todos seus ministros se engajassem na disseminação de mentiras sobre as urnas.
Segue o trecho:
(…) Nesse sentido, o então Presidente da República exige que seus Ministros – em total desvio de finalidade das funções do cargo – deveriam promover e replicar, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação. Ele utilizava a estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e dissociados do interesse público (fl. 36).
“Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar ele vai vim falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou provar , o cara tá no lugar errado.”
Conforme a representação policial, na continuidade de sua fala, o então Presidente explicita aos presentes que agendou a reunião com embaixadores para, em suas palavras, “mostrar o que tá acontecendo”. Jair Bolsonaro reforça a narrativa de fraude eleitoral para eleger o então pré-candidato Lula, acusando, inclusive, os Ministros do STF Edson Fachin, Luis Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, de não serem isentos. Diz: “Porque os cara tão preparando tudo, pô! Pro Lula ganhar no primeiro turno, na fraude. Vou mostrar como e porquê. Alguém acredita aqui em Fachin, Barroso, Alexandre de Moraes? Alguém acredita? Se acreditar levanta o braço! Acredita que eles são pessoas isentas, tão preocupado em fazer justiça, seguir a Constituição? De tudo que são … Tão vendo acontecer?”
A autoridade policial prossegue em sua exposição:
“Em outro trecho, Jair Bolsonaro novamente acusa o STF de atuar fora dos limites constitucionais e que não teria como Lula ganhar a eleição no voto, insinuando que sua vitória nas eleições presidenciais, caso ocorresse, seria em decorrência de fraude nas urnas eletrônicas. ‘Vou fazer uma reunião quinta-feira com embaixadores, semana que vem com mais, vou convidar autoridades do… do judiciário, pra outra reunião, pra mostrar o que tá acontecendo. Não tem como esse cara ganhar a eleição no voto. Não tem como ganhar no voto. também, eu não vou passar aqui, em 2014 foi aprovado o voto impresso no Congresso, tá fora do foco, né, fora da … do radar nosso, nem lembrava disso, que depois também o nosso Supremo derrubou. O nosso Supremo aqui é um poder à parte. É um super Supremo. Eles decidem tudo. Muitas vezes fora das quatro linhas.'”
“Reporta ainda a autoridade policial a total adesão e participação do então Ministro da Justiça, Anderson Torres, na prática de atos antidemocráticos e golpistas: ‘Em seguida, a palavra é passada ao então Ministro da Justiça, Anderson Torres. O Ministro reitera a narrativa do Presidente Jair Bolsonaro, ressaltando a necessidade dos presentes em propagar as informações falsas quanto a fraudes e vulnerabilidades no sistema eletrônico de votação. Além disso, Anderson Torres reforça o temor do que poderia acontecer caso o “PT” ganhasse as eleições, reiterando o exemplo da Bolívia. De forma enfática diz: “E o exemplo da Bolívia é o grande exemplo pra todos nós. Senhores, todos vão se foder! Eu quero deixar bem claro isso. Porque se … eu não tô dizendo que … eu quero que cada um pense no que pode fazer previamente porque todos vão se foder.”‘”
“Assim como Filipe Barros, Anderson Torres novamente cita o conteúdo falso divulgado na chamada live presidencial realizada no dia 29 de julho de 2021, distorcendo, de forma deliberada, informações, termo de declarações e pericias realizadas pela Polícia Federal com o objetivo de disseminar narrativas sabidamente não verídicas ou sem qualquer lastro concreto, com a finalidade de induzir a erro os demais participantes da reunião quanto à lisura do sistema de votação brasileiro. O então Ministro da Justiça insinua que a Polícia Federal já teria feito várias sugestões de aperfeiçoamento que não teriam sido acatadas pelo TSE, em seguida conclui ‘Mas a gente tá aí há seis anos fazendo. O outro lado joga muito pesado, senhores. Eu acho que, eu acho que essa consciência todos aqui devem ter.'” (…)
Clique aqui para baixar a íntegra da decisão de Moraes.
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