Uma unidade de guerra psicológica das FDI administrava um canal Telegram visando o público israelense sem aprovação. O exército inicialmente negou envolvimento, mas uma investigação interna após a denúncia do Haaretz revelou seu envolvimento
Revertendo uma negação anterior, oficiais militares israelitas admitiram que o canal Telegram 72 Virgins – Uncensored era operado por membros de um departamento da Direção de Operações das Forças de Defesa de Israel.
A admissão ocorre depois que o Haaretz publicou uma denúncia no canal no mês passado, o que levou a uma investigação interna sobre o assunto.
A investigação, conduzida pelo major-general Oded Basyuk, chefe da Diretoria de Operações, descobriu que as informações que levaram à negação original de que o canal era operado por ou em nome do exército estavam incorretas e se baseavam em informações erradas transmitidas por membros do Departamento de Influência. Na sequência destas conclusões, o comandante da unidade em tempo de guerra deverá encerrar o seu serviço militar.
Durante a investigação original, fontes disseram ao Haaretz que membros da unidade, responsável pela guerra psicológica dirigida ao inimigo e ao público estrangeiro, criaram 72 Virgens – Sem Censura em 9 de outubro, dois dias após o início da guerra, sem aprovação oficial e sem serem autorizado a fazê-lo. Além disso, o canal era dirigido ao público israelense.
Depois de processar as suas conclusões, os funcionários das FDI contactaram o Haaretz para apresentar as suas conclusões. Em uma resposta por escrito, a Unidade do Porta-Voz das FDI disse que, após uma investigação completa, “foi descoberto que a página do Telegram era operada pelas FDI sem autorização e sem autoridade.
Os administradores do canal publicaram diariamente conteúdo gráfico, como imagens dos cadáveres de terroristas do Hamas, com a legenda “Quebre a fantasia dos terroristas”. Em diversas ocasiões, publicaram material exclusivo de investigações ou informações que só estavam disponíveis para o sistema de defesa na altura, vangloriando-se de que eram “exclusivas de Gaza”. Eles enviaram milhares de vídeos e imagens estáticas da matança de terroristas e da destruição na Faixa de Gaza e incentivaram os seguidores do canal a compartilhar o conteúdo para que “todos possam ver que estamos ferrando com eles”.
Os operadores usaram linguagem grosseira numa tentativa de ocultar o envolvimento das FDI no canal. Uma postagem de 11 de outubro dizia: “Queimando a mãe deles… Você não vai acreditar no vídeo que recebemos! Você pode ouvir seus ossos quebrando. Vamos postar imediatamente, prepare-se.” Fotos de homens palestinos capturados pelas FDI na Faixa e dos corpos de terroristas tinham a legenda: “Exterminando as baratas… exterminando os ratos do Hamas… Compartilhe esta beleza.” Um vídeo de um soldado supostamente mergulhando balas de metralhadora em gordura de porco tem a legenda: “Que homem !!!!! Lubrifica as balas com banha. Você não vai pegar suas virgens.” Outra legenda era: “Suco de lixo!!!! Mais um terrorista morto!! Tem que assistir com o som, você vai morrer de rir”.
Em 14 de outubro, ao lado da legenda “Vídeo exclusivo de uma boa noite, não se esqueça de compartilhar e repassar”, estava um vídeo de um veículo israelense passando repetidamente por cima do corpo de um terrorista. “Muito bem, Gershon!!! Atropele-o, atropele-o!!!! Dane-se os bastardos! Achate-os”, dizia o texto que acompanhava.
Os administradores do canal não se limitaram às imagens de Gaza. Em 11 de outubro, centenas de israelenses, incluindo membros do fã-clube violentamente racista do time de futebol Beitar Jerusalém, La Familia, revoltaram-se no Centro Médico Sheba, em Tel Hashomer, perto de Tel Aviv, após um boato de que terroristas do Hamas que invadiram Israel estavam sendo tratados lá. As pessoas vagavam pelo hospital, xingando e cuspindo nos profissionais médicos. Em uma hora, um vídeo do tumulto foi postado no canal 72 Virgins com o título: “Meus irmãos, os heróisssss, fãs do La Familia, amo vocês!!!!!!! Que heróis, eles vieram para ferrar os árabes.”
Publicado originalmente pelo Haaretz em 04/02/2024 – 8h57
Por Yaniv Kubovich