Nenhuma organização pode substituir a agência da ONU que ajuda os palestinos, a UNRWA, na Faixa de Gaza devastada pela guerra, disse o coordenador sênior da Organização para o enclave na terça-feira.
Além de uma decisão política, que teria de ser tomada pela Assembleia Geral, “não há forma de qualquer organização poder substituir ou substituir a tremenda capacidade e a estrutura da UNRWA e a sua capacidade e conhecimento”, disse Sigrid Kaag, Senior Humanitarian and Reconstruction Coordenador para Gaza, aos correspondentes numa vigilância fora da Câmara do Conselho de Segurança em Nova Iorque.
Ela também destacou o papel fundamental que a agência desempenhou ao longo de décadas, antes do conflito atual, na educação, saúde e outros serviços. A UNRWA foi criada pela Assembleia Geral em dezembro de 1949.
As operações da UNRWA estão em perigo depois de vários países doadores, incluindo os Estados Unidos, o Reino Unido, a Alemanha e o Japão, terem suspendido o financiamento na sequência de alegações extremamente graves de que vários dos seus funcionários estavam envolvidos nos ataques terroristas de 7 de outubro em Israel.
A Organização iniciou uma investigação e o Secretário-Geral reiterou que qualquer funcionário considerado envolvido será responsabilizado, inclusive através de processo criminal.
Primeira aparência
Os comentários da Sra. Kaag à imprensa seguiram-se ao seu primeiro briefing a portas fechadas ao Conselho de Segurança desde que assumiu o seu papel-chave de coordenação nos termos da resolução 2720 (2023) do Conselho.
O seu mandato é facilitar, coordenar, monitorizar e verificar as remessas de ajuda humanitária para Gaza, bem como estabelecer um mecanismo da ONU para acelerar as remessas de ajuda humanitária para o enclave através de Estados que não são partes no conflito.
A Sra. Kaag sublinhou que o sucesso do seu mandato “tem a ver com a capacidade de alcançar e satisfazer as necessidades” dos civis em Gaza.
“Esse é o único indicador, no que me diz respeito.”
Desafios no terreno
A Sra. Kaag enfatizou que a ausência de um cessar-fogo humanitário está dificultando os esforços de ajuda e causando atrasos.
“Atualmente não há espaço, dado que lá não há cessar-fogo e o conflito é intenso. Não há espaço para ter monitores por toda Gaza para trabalhar com as agências para ver, verificar e monitorizar.”
Ela também reiterou a importância de aumentar o fluxo de bens comerciais para Gaza, além da assistência humanitária.
“Precisa ser autorizado o regresso dos bens comerciais”, disse ela. “Não haverá recuperação, muito menos reconstrução no futuro, sem essa ampla largura de banda.”
Humanitária experiente
A Sra. Kaag, dos Países Baixos, ocupou uma ampla gama de cargos sêniores no sistema da ONU. Foi nomeada pelo Secretário-Geral em 26 de dezembro de 2023 e iniciou funções em 8 de janeiro.
Ela foi Coordenadora Especial para o Líbano de 2015 a 2017 e de 2013 a 2015, chefe da Missão Conjunta da Organização das Nações Unidas para a Proibição de Armas Químicas na Síria.
Ela também atuou como Secretária-Geral Adjunta no Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (2010-13) e foi Diretora Regional do UNICEF para o Oriente Médio e Norte da África (2007-10).
Antes disso, a Sra. Kaag ocupou vários cargos sêniores na Organização Internacional das Nações Unidas para as Migrações (OIM) e na UNRWA.
Ela fala árabe fluentemente e cinco outros idiomas.
Ela também ocupou vários cargos importantes no governo holandês, inclusive como vice-primeira-ministra e ministra das Relações Exteriores.
Publicado originalmente no ONU News em 30/01/2024