Ramagem e as manobras de Bolsonaro sob escrutínio da PF e do STF
As operações de busca e apreensão da Polícia Federal que sacudiram Brasília fortaleceram suspeitas de que Alexandre Ramagem, na época diretor da Abin e agora deputado, não operava de maneira independente. Ao contrário, suas ações, que visavam figuras como ministros do Supremo Tribunal Federal, o presidente da Câmara e a promotora do caso Marielle, eram comandadas por Jair Bolsonaro, acreditam os investigadores, buscando proteger interesses “particulares” do então presidente e de seus filhos.
Há indícios de que a situação poderia ser ainda mais grave. Bolsonaro tentou nomear Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal. Considerando que a Abin é um órgão de inteligência, a PF também possui um papel operacional. Esta nomeação foi impedida pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, que alegou “desvio de finalidade”, baseando-se em informações concretas, e não em perseguição política.
Em abril de 2020, Bolsonaro fez um discurso em um ato que pedia o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal e a volta da ditadura militar, com o Quartel-General do Exército como pano de fundo, um episódio escandaloso. Paralelamente, o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro do STF Gilmar Mendes, junto com suas esposas e o ex-ministro Raul Jungman, se reuniram em um almoço casual. Bolsonaro interpretou esse encontro como uma conspiração contra seu movimento golpista, levantando dúvidas sobre como ele teve conhecimento desse evento privado.
Quando Jair Bolsonaro revelou ter um “sistema particular de inteligência” durante uma reunião ministerial em maio de 2020, ele não apenas exibia arrogância, mas também confessava um delito, admitindo a manipulação das instituições e evidenciando uma prática recorrente entre os poderosos: a fusão indevida do público e do privado, intensificada durante sua gestão.
O sistema de inteligência do Estado não é, e nunca deve ser, propriedade privada de presidentes temporários. Naquela reunião, Bolsonaro deixou claro que fazia uso da Polícia Federal e de outros órgãos de informação para seus próprios fins e interesses obscuros. Bolsonaro, que admitiu sua falta de interesse em áreas como economia, educação e energia, focou nos sistemas que desejava tornar “particulares”: inteligência, como a PF e a Abin; forças armadas, incluindo Exército, Marinha, Aeronáutica, PRF e forças policiais estaduais; e órgãos de investigação e controle, como a Receita Federal e o Coaf.
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