A semana começou com a revelação de que um dos assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes faria uma delação premiada colocando o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão, como mandante do crime. O irmão de Domingos, Chiquinho Brazão, recebeu um passaporte diplomático no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na mesma semana estourou uma uma operação Polícia Federal (PF) que investiga um esquema que envolvia o monitoramento ilegal de autoridades públicas e cidadãos comuns. No centro da operação o deputado Alexandre Ramagem (PL), que foi diretor-geral da ABIN durante o governo Bolsonaro.
Entre os alvos de espionagem estava Simone Sibilio, ex-coordenadora da força-tarefa do MP-RJ que investigou as mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Não faltam aproximações entre a família Bolsonaro e o caso de homicídio, vamos para os episódios:
Um dos principais alvos da Operação Intocáveis, o ex-capitão do Bope, Adriano Magalhães da Nóbrega, foi homenageado em 2003 na Assembleia Legislativa do Rio por indicação do deputado estadual Flávio Bolsonaro, além disso a mãe e ex-esposa do líder do Escritório do Crime, grupo responsável pela morte de Marielle, eram funcionárias no gabinete de Flávio.
Ronnie Lessa, que atua por uma delação sobre o caso na PF, era vizinho da família Bolsonaro em condomínio na Barra da Tijuca.
Ainda em 2019 o porteiro disse, o então porteiro do condomínio disse nos depoimentos que em 14 de março de 2018, dia do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, um dos acusados do crime, Élcio Queiroz, entrou no condomínio dizendo que ia para a casa 58, que pertence ao presidente Jair Bolsonaro, na época deputado federal. O porteiro mudou o depoimento dias depois.
Anos depois o ex-governador do Rio de janeiro, Wilson Witzel, acusou diretamente Moro, que era Ministro da Justiça do governo Bolsonaro, de haver “acuado” e “coagido o porteiro.
Já no dia 8 de setembro de 2022, durante uma de suas famosas lives, Bolsonaro tem um ataque de pânico e gratuitamente começa a falar do caso Marielle e disse que soube de uma suposta denúncia no STF envolvendo-o no crime. Muita gente ficou sem entender.
No dia seguinte Allan Turnowski, ex-secretário de Polícia Civil do Rio, foi preso num desdobramento de investigações contra o também delegado Maurício Demetrio sob a suspeita de associação criminosa com bicheiros do estado.
De acordo com o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público, Turnowski agia como agente duplo, atuando em favor dos bicheiros Rogério de Andrade e Iggnácio, que eram rivais.
Ainda segundo essa mesma investigação Turnowski era parceiro de ninguém menos que Ronnie Lessa, um dos assassinos de Marielle e Anderson, num plano para assassinar Andrade e que o ex-secretário teria sido nomeado secretário de Polícia Civil pelo então recém-empossado governador Cláudio Castro por indicação de ninguém menos que Flávio Bolsonaro.
Se não bastasse isso, em 2023 a Polícia Federal deflagrou a Operação Venire que prendeu pessoas suspeitas de estarem envolvidas em esquema de fraude de cartões de vacina contra Covid-19 além de cumprir diversos mandados de busca e apreensão.
Acontece que a coisa ficou ainda mais escabrosa quando foram publicadas mensagens descobertas durante a investigação para a operação. Nelas o então ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel, Mauro Cid, estava conversando com o major reformado do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros que afirma objetivamente saber sobre todo o crime e inclusive quem foi o mandante do assassinato.
Diante de tentas “aproximações sucessivas”, tornasse imperioso que o debate público, a justiça e a imprensa brasileira passe a discutir com mais seriedade qual seria o grau de envolvimento da família com o crime, já que constantemente o nome Bolsonaro é ligado ao caso nas mais diversas investigações.
Até hoje não foi esclarecido nada sobre o relatório sobre escutas telefônicas da investigação sobre Adriano da Nóbrega. O relatório das escutas sugere que milicianos teriam entrado em contato com uma pessoa identificada como “Jair”, “cara da Casa de Vidro” e “PRESIDENTE” após a morte de Adriano numa operação policial na Bahia que até hoje e cercada de mistérios.
Se o ex-presidente de fato não tem nenhum envolvimento com o crime se não uma série de infelizes coincidências, então que seja feito, agora, se há algo mais grave, é necessário que isso seja resolvido.
Não é possível que um país inteiro irá olhar essa sucessão de episódios sem qualquer explicação de maneira passiva e complacente. A vasta gama de investigações em que essa relação aparece deveria acender o alerta de todo o sistema de justiça.
Diante das circunstâncias, essa se tornou uma discussão urgente e mais do que inadiável.