Muitas pessoas deslocadas vivem em tendas no bairro de Tal Al-Sultan, no sul da Faixa de Gaza
Local abrigava cerca de 30 mil pessoas e número de óbitos pode mais alto; centro de treinamento atingido estava marcado com o símbolo da organização e as coordenadas haviam sido partilhadas com autoridades israelenses; coordenador humanitário interino afirma que muitas pessoas não conseguem fugir da área afetada.
Nove pessoas morreram e 75 ficaram feridas nesta quarta-feira em um ataque direto a um centro de treinamento transformado em abrigo no sul de Gaza. O local é administrado pela Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa.
Segundo o diretor da agência na Faixa de Gaza, Tom White, equipes da Unrwa e da Organização Mundial da Saúde, OMS, tentaram chegar ao centro de treinamento atingido, localizado em Khan Younis.
Localização conhecida
Cerca de 30 mil pessoas estão abrigadas no local e o número de mortos pode ser maior, disse o comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazzarini, que lamentou “mais um dia horrível em Gaza”.
Ele afirmou que “o complexo é uma instalação da ONU claramente marcada e as suas coordenadas foram partilhadas com as autoridades israelenses”, assim como ocorre com todas as instalações da organização, acrescentando que mais uma vez houve “um flagrante desrespeito pelas regras básicas da guerra”.
Falando a jornalistas de Jerusalém, o coordenador humanitário interino da ONU para o Território Palestino Ocupado, Jamie McGoldrick, disse que o incidente ocorreu em meio aos combates intensos em torno de Khan Younis. Segundo ele, muitas pessoas estão tentando fugir da área e não conseguem.
O especialista explicou que existe um sistema de “redução de conflito” que designa algumas construções fixas e áreas de movimentação que deveriam ser preservadas. Ele destacou, no entanto, que uma série de incidentes no último mês “gera dúvidas sobre se esse sistema está funcionando de forma adequada”.
Requisitos operacionais mínimos
McGoldrick fez um relato sobre a sua visita a Gaza na terça-feira, destacando os esforços dos profissionais humanitários para fornecer às pessoas deslocadas serviços básicos, como alimentos, apoio médico, abrigo, água e saneamento.
As condições precárias e insalubres levaram a surtos de infecções respiratórias e de hepatite A, ambas erradicadas em Gaza. A meningite e outras doenças também estão surgindo.
Enquanto estava em Gaza, o representante da ONU visitou a cidade de Rafah, no sul, localizada na fronteira com o Egito, que funciona como único ponto de passagem para ajuda ao enclave.
McGoldrick disse que a ONU e os parceiros estão fazendo o melhor face aos enormes desafios, muitos dos quais estão fora do seu controle, e enfatizou a necessidade de “requisitos operacionais mínimos” para que possam trabalhar melhor.
Itens proibidos
Ele ressaltou a necessidade por “mais suprimentos que venham do setor privado” e pediu às autoridades israelenses o fornecimento de equipamentos de comunicação.
De acordo com o enviado da ONU, os trabalhadores humanitários estão sendo enviados para zonas muito hostis e não têm rádios ou formas de comunicação que os deixem seguros, além de não terem veículos blindados suficientes.
Além disso, muitos dos bens que os profissionais humanitários estão tentando levar para Gaza para apoiar ações de água e saneamento “parecem ser proibidos pelos israelenses”, disse ele.
Os itens em questão incluem geradores, tubulações, painéis solares e alguns equipamentos médicos, que são fundamentais para enfrentar a crise humanitária.
McGoldrick acrescentou que não existe um sistema real de evacuação médica ou de vítimas para transportar pessoas gravemente feridas para fora de Gaza.
Segundo ele, não é possível levar as pessoas para lugares mais distantes ou para países vizinhos, a fim de realizar cirurgias mais sofisticadas e isso é algo que está sob negociação com as autoridades israelenses.
Publicado originalmente na ONU News.
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